Recordatório: O que são os Resultados por Ação (“Earnings Per Share” ou EPS)?
Como analisar os EPS?
As vantagens do EPS
As limitações do EPS
O EPS do mercado é importante porque sinaliza a direção do mercado: “As earnings go, so goes the market”
A evolução recente do EPS do S&P 500
Os EPS por setores
Sendo as ações partes do capital das empresas, dando, por isso, direito aos resultados económicos distribuíveis, as principais métricas de avaliação centram-se na estimação desses resultados e na modelização da relação entre os preços das ações e os resultados das empresas
Os principais indicadores são os resultados por ação ou “Earnings Per Share” (EPS) e o múltiplo do preço sobre os resultados ou “Price Earnings Ratio” (PER).
Tendo em conta a sua importância deste indicador, não é de estranhar que o mesmo surja em diferentes artigos anteriores, com diferentes abordagens.
Este indicador surge no artigo em que descrevemos e caraterizamos o investimento em ações.
Num artigo subsequente apresentámos a definição, evolução e a importância dos EPS e também do PER para a avaliação das ações.
Noutro artigo, abordámos o EPS na perspetiva da avaliação do valor justo do mercado.
Finalmente, num artigo mais recente, analisámos a relação entre as taxas de juros e estes dois indicadores.
A importância destes indicadores para o investimento em ações faz com que sejam objeto de uma análise desenvolvida em todos os outlooks trimestrais dos mercados financeiros publicados.
Recordatório: O que são os Resultados por Ação (“Earnings per Share” ou EPS)?
O “Earnings-Per-Share” ou EPS ou resultados por ação, é um dos dois indicadores do mercado mais seguidos, acompanhados e discutidos do mercado, a par do PER, dada a importância e relação entre ambos.
Pode ser definido como o valor do lucro por ação da empresa.
A sua grande importância é normal, na medida que o principal valor do acionista é o direito económico que incide sobre os resultados das empresas.
O valor do EPS é determinado dividindo-se o lucro líquido da empresa pelo número de ações em circulação.
Assim, o EPS indica a rentabilidade da empresa, mostrando quanto dinheiro uma empresa ganha por cada ação.
Considera-se que quanto maior o valor de EPS, mais lucrativa é a empresa.
Ajuda a comparar o desempenho de empresas promissoras para ajudar a escolher a opção de investimento mais adequada.
Podemos analisar os EPS de múltiplas formas.
Verticalmente, olhando para os EPS de uma única ação, de um grupo homogéneo de ações, ou de um conjunto diversificado, mas coerente, como um índice do mercado de ações, e fazendo comparações entre estas unidades.
Horizontal ou transversalmente, olhando para os EPS daquelas ações ao longo do tempo para analisarmos avaliarmos a dinâmica da progressão.
Como analisar os EPS?
O EPS também pode ser usado para comparar a situação financeira de uma empresa ao longo dos anos.
Empresas que têm um aumento constante do EPS podem ser uma opção de investimento confiável. Por outro lado, empresas com um EPS irregular não são preferidas por investidores experientes.
Um EPS mais alto significa mais lucratividade, o que sugere que a empresa pode aumentar o pagamento de dividendos ao longo do tempo.
O EPS não só ajuda a medir a situação financeira atual de uma empresa, mas também ajuda a acompanhar os seus desempenhos passados.
As vantagens do EPS
A principal vantagem do EPS é ser uma medida única, sintética, simples, fácil de perceber e calcular e alinhada com o valor do acionista.
As limitações do EPS
Embora o EPS seja considerado um indicador financeiro poderoso, é preciso ter presente que tem algumas limitações.
O EPS pode ser manipulado pelos gestores para projetar a rentabilidade da empresa no curto prazo. No longo prazo, não é possível contornar e subverter a realidade.
No cálculo do EPS não são considerados os fluxos de caixa, o que significa que um EPS alto pode não significar com precisão a capacidade de crescimento sustentável de uma empresa.
Os fluxos de caixa são também um aspecto importante para avaliar a capacidade de pagamento das dívidas de uma empresa.
No entanto, como os fluxos de caixa não são levados em conta no cálculo do EPS, um EPS alto pode ser ineficaz para avaliar a solvência de uma empresa.
A principal limitação do EPS, tal como a do PER, é tratar-se de um indicador estático. É uma fotografia instantânea da empresa, num dado momento. Não é um filme, que perspetiva o crescimento da empresa.
Daí que em muitos casos o uso do EPS seja acompanhado da taxa de crescimento prevista do EPS para o médio prazo, normalmente um prazo de 5 ano. Aqui, dada a incerteza, entramos num terreno mais difícil.
O EPS frequentemente usado é o que considera os resultados previstos pelo consenso dos analistas para o fim do ano em curso, ou “Forward” EPS.
A margem de erro de previsão dos resultados pelos analistas para o final do ano pode ser baixa, mas as previsões a 5 anos são muito mais difíceis e incertas.
Além disso, há muitas outras pequenas questões no EPS, nomeadamente ao nível das suas definições e fórmulas. As várias definições de EPS introduzem complexidade na análise e avaliado do valor. Temos o EPS ajustado, o EPS diluído, etc.
O EPS do mercado é importante porque sinaliza a direção do mercado: “As earnings go, so goes the market”
Em termos dos principais índices dos mercados, constituídos por um grande número de empresas e muito diversificados, o EPS determina a evolução do valor do mercado.
No gráfico seguinte podemos ver a evolução do EPS e da cotação do principal índice acionista, o S&P 500, entre 1945 e 2020:
O alinhamento não é perfeito, há desvios no curto e médio prazo, mas são corrigidos no longo prazo (é a chamada reversão para a média, tal como no PER).
Os preços das ações subiram com os resultados das empresas. Desde 1945, tanto as ações quanto os lucros subiram 7,3% ao ano.
Nesse mesmo período, o PIB nominal aumentou 6,3% ao ano.
Regra geral, a taxa de crescimento anual para o EPS é entre 5% e 8%.
A evolução recente do EPS do S&P 500
Nos últimos 20 anos, o EPS e o valor do índice do S&P 500 tiveram a seguinte evolução:
Apesar da taxa de crescimento anual do EPS do S&P 500 se situar entre 5% e 8%, a sua evolução é muito variável:
Os EPS têm quedas acentuadas nos períodos das crises financeiras, superiores a 40%, e a subida ultrapassa os 80% nos períodos de retoma.
Mesmo nos anos de maior estabilidade as variações anuais do EPS do S&P 500 podem variar entre -10% e +20%.
Esta situação decorre do fato do mercado não se fixar nos resultados das empresas de um dado ano, mas sim dos resultados prospetivos a médio e longo prazo.
O seguinte link contém os valores do EPS do S&P 500 dos últimos anos e estimados para os próximos anos, totais e por setores, em ficheiro Excel:
https://www.spglobal.com/spdji/en/documents/additional-material/sp-500-eps-est.xlsx
A evolução e as estimativas do EPS do mercado pelos analistas são feitas “bottom-up” das empresas constituintes dos índices para o índice
Os analistas constroem as suas estimativas de evolução do índice para o S&P 500 a partir da soma ponderada das estimativas individuais do EPS para cada uma das empresas que compõem o índice.
É óbvio que as empresas que têm mais impacto são as de maior capitalização bolsista ou as de maior EPS em valor absoluto (como é o caso das petrolíferas, por exemplo), dado tratar-se de um indicador ponderado.
O gráfico seguinte mostra a evolução do EPS do S&P 500 desde 2007 e a sua previsão até ao fim de 2024:
As linhas a tracejado apresentam a evolução das previsões dos analistas dos EPS para os anos de 2022, 2023 e 2024, desde o começo da sua formação. A direção deste movimento é importante para sinalizar o ajustamento do mercado.
Em 2022, as previsões foram sendo revistas em alta, enquanto as de 2023 foram subindo inicialmente, mas têm vindo a cair nos últimos meses. As previsões de 2024 também têm vindo a ser ajustadas em baixa.
Os EPS por setores
A evolução do EPS do S&P 500 por setores desde 2009 foi a seguinte:
Esta evolução teve um contributo muito positivo dos setores de consumo discricionário e tecnologia, enquanto a energia e os serviços públicos ficaram muito aquém da média.
Podemos ver que há uma tendência global de fundo que atravessa todos os setores, mas também há um movimento setorial diferenciado.
Esta dinâmica setorial tem impacto na aferição da evolução do EPS do índice. Por exemplo, basta ver e recordar o que aconteceu com a tecnologia neste período, ou com a energia entre 2020 e 2022.