Sustentar os equilíbrios de uma ponte sobre a pandemia entre o presente e o futuro
Mercados próximos dos máximos, com correção ligeira em setembro, num contexto de surgimento da segunda vaga, da multiplicação dos riscos económicos e políticos, e mantendo a esperança de uma vacina próxima
Índice
Desempenho dos mercados financeiros
Sumário executivo
Recuperação surpreendente dos mercados acionistas e obrigacionistas após a queda acentuada de março, associada à reabertura das economias, retoma da atividade e implementação de políticas económicas sem precedentes, e com índices como o S&P 500 e sobretudo o Nasdaq 100 positivos no ano.
As condições financeiras melhoraram com a recuperação dos mercados e a ação forte e arrojada dos governos e bancos centrais em todo o mundo.
Os mercados acionistas tiveram uma rápida e boa recuperação após a queda violenta inicial, em resposta às ações de política económica e em antecipação da melhoria dos dados económicos.
Os mercados de crédito tiveram o mesmo movimento e pelas mesmas razões, com uma redução significativa dos spreads de risco sobretudo nos ratings de qualidade de investimento após o forte agravamento inicial; as taxas de juro do tesouro das maiores economias prosseguem em mínimos históricos devido à procura de ativos de refúgio (tal como o ouro).
As principais oportunidades são a antecipação das soluções médicas definitivas, eficazes e fiáveis (tratamentos e vacinação) de combate à pandemia que permitam uma normalização da atividade mais rápida em todo o mundo, e a intensificação das políticas económicas sobretudo no Ocidente (novo Cares Act nos EUA e Next Gen na UE).
Degradação do sentimento de mercado provocado pelo agravamento e/ou prolongamento da pandemia que obriguem a medidas de redução da atividade nos países desenvolvidos, desenlace conturbado das eleições americanas, saída descontrolada do RU da EU, deterioração das contas públicas, multiplicação das falências das empresas atingidas pela pandemia, fragilidade do mercado do petróleo e respetivo impacte em países emergentes vulneráveis.
Neste cenário em que os mercados transacionam perto de máximos, as expetativas estão a níveis altos, e os riscos suplantam as oportunidades, deve favorecer-se uma atuação mais defensiva do que a alocação central de cada investidor relativamente às diferentes subclasses de ativos dos mercados financeiros.
Desempenho dos mercados financeiros 3T2020: Recuperação surpreendente dos mercados acionistas e obrigacionistas após a queda acentuada de março, associada à reabertura das economias, retoma da atividade e implementação de políticas económicas sem precedentes, e com índices como o S&P 500 e sobretudo o Nasdaq 100 positivos no ano.
Quedas abruptas de entre 10% e 40% nos principais mercados acionistas e obrigacionistas com o surgimento da pandemia e fecho da atividade no 1º quadrimestre, seguidas de rápida recuperação com reabertura das economias a partir de maio, com exceção de uma pequena correção no mês de setembro.
A agravar a situação, o desequilíbrio do mercado do petróleo provocou uma descida de preço de 50% no ano, mesmo depois do acordo de corte na produção da OCDE+ de meio de abril.
Mercados reagem à ação sem precedentes das políticas económicas – monetárias e fiscais -, e antecipam a evolução dos indicadores da atividade económica e da pandemia.
Covid-19: Pandemia agrava-se nos países subdesenvolvidos como India e Brasil e está sob controlo e com vigilância apertada nos países mais desenvolvidos, com recentes indícios de uma segunda vaga (associada à maior circulação das pessoas), mais preocupante em Espanha, França e Reino Unido, ao mesmo tempo que se observa uma diminuição da mortalidade/letalidade decorrente de melhor capacidade de resposta e se espera ansiosamente por uma vacina em breve.
O vírus Covid-19 iniciado em fevereiro já ultrapassou os 38 milhões de infetados e o 1 milhão de mortos.
Ao forte impacte nalguns países da Europa e EUA no 2º trimestre, seguiu-se um crescimento dos casos na India, América Latina e Rússia no 3º trimestre, se bem que mais recentemente e com a retoma da vida económica, a taxa de infeção esteja novamente a aumentar um pouco por todo o mundo e com mais intensidade novamente nalguns países europeus tais como a França, Espanha e Reino Unido.
Tem altas taxas de propagação, contágio e letalidade e não existe ainda tratamento eficaz ou vacina disponíveis, sendo combatido com máscaras de proteção individual, distanciamento social, deteção pronta (testes), hospitalização dos casos críticos e com a melhoria da capacidade de resposta das autoridades de saúde pública.
Há alguns tratamentos que estão a ser usados em todo o mundo e que se têm mostrado cada vez mais uteis para reduzir a letalidade dos casos críticos, com eficácia limitada.
Há 42 vacinas em fase de estudos clínicos (ensaios com humanos), das quais 8 na fase 3, e mais 151 vacinas em fases de estudo pré-clínicos, sendo opinião de especialistas em saúde pública que a disponibilidade de vacinas pode acontecer até ao 1º semestre de 2021 (apenas até18 meses após o início da pandemia e que compara com o prazo médio de 10 anos das anteriores vacinas).
Contexto macroeconómico: Prevê-se uma contração económica do PIB mundial de -4,4% em 2020 e crescimento de +5,2% em 2021, sendo de -5,8% e +3,9% nas economias avançadas, e de -3,3% e +6,0% nas economias emergentes, respetivamente, de acordo com as últimas previsões do FMI de 13 de outubro, num cenário em que manterá a atual contenção da pandemia.
De acordo com as mais recentes previsões do FMI, espera-se que a economia global contraia acentuadamente em -4,4% em 2020 em resultado da paralisação de grande parte da atividade económica para conter a pandemia fundamentalmente concentrada no 2º trimestre, e recupere também significativamente em +5,2% em 2021.
A paralisação da atividade teve um impacte diferenciado em termos setoriais, atingindo fortemente os setores de turismo, lazer, consumo discricionário e banca, e em pouco grau o consumo alimentar, os bens públicos, telecomunicações e tecnologia.
Esta crise é diferente das outras pois não foi provocada ou originou destruição de capacidade produtiva, mas antes a suspensão parcial da atividade.
A inflação está controlada em todo o mundo.
À forte contração dos indicadores económicos instantâneos e avançados de março a maio associados à paralisação da atividade, seguiu-se uma igualmente forte melhoria generalizada dos mesmos com a respetiva retoma.
O Global Composite PMI tem vindo a melhorar desde os mínimos de 36,3 atingidos em maio para os 52,1 de setembro, em aceleração nos EUA, China e Alemanha, e ainda contração em Espanha, França e Irlanda.
Os indicadores de desemprego, nomeadamente os US Continuing Jobless Claims nos EUA melhoraram desde os 25 milhões de desempregados em maio para os 13 milhões em finais de setembro, mas a criação de emprego tem diminuído recentemente.
Os últimos indicadores de confiança dos empresários e consumidores da OCDE estão igualmente a refletir as oscilações abruptas da paralisação e da retoma da atividade.
Fonte: US Continuing Jobless Claims 1Y, US Department of Labor, 08/10/20
Políticas económicas: Governos e autoridades monetárias nos vários países sustentam os equilíbrios da ponte entre o presente e o futuro prosseguindo com políticas económicas expansionistas sem precedentes em apoio às famílias e empresas afetadas, com agravamento dos equilíbrios no médio prazo, e tentando evitar os custos de nova paralisação.
Em todo o mundo, os responsáveis de política económica implementaram fortes medidas substanciais de índole fiscal e monetária e financeira para apoiar as famílias e as empresas afetadas até à normalização da atividade:
– Redução das taxas de juro diretoras para níveis próxi mos de zero e até negativos e forte reforço dos programas de compra de ativos pelos bancos centrais em todo o mundo;
– Programas orientados para a manutenção dos rendimentos e emprego, com a melhoria dos subsídios de desemprego, os apoios financeiros concedidos às empresas para a manutenção do emprego por acesso ao regime de “layoff” na Europa e EUA, e as concessões de moratórias no pagamento de empréstimos;
– Programas de recuperação económica assentes em forte investimento público a médio prazo, tais como o NextGen EU 2021/2027 no valor total de €750 mil milhões (dos quais €560 mil milhões destinados a recuperação e resiliência), maioritariamente de subvenções e parcialmente de empréstimos, concedidos pela União Europeia aos seus países membros mais atingidos.
As taxas de juro de curto prazo estão negativas na Zona Euro, Japão e Suíça, e caíram muito nos EUA. As taxas de juros dos títulos do tesouro a 10 anos estão próximas de zero na Zona Euro, Japão e Suíça, e em mínimos históricos nos EUA e RU. Prevê-se que as taxas de juros de referência dos bancos centrais se irão manter muito baixas na zona Euro e nos EUA no médio prazo.
Assim, tem havido uma enorme transferência de fundos do Estado para o setor privado, financiada em boa parte por criação monetária, agravando fortemente os desequilíbrios orçamentais e monetários.
Fonte: World Economic Outlook Update, IMF, October, 13
Fonte: Major Central Bank Total Assets, Yardeni Research, October 13
Fonte: OECD Economic Outlook, June 2020
Fonte: OECD Economic Outlook, September 2020
Fonte: OECD Economic Outlook, June 2020
As condições financeiras melhoraram com a recuperação dos mercados e a ação forte e arrojada dos governos e bancos centrais em todo o mundo
A resposta pronta e arrojada dos governos e bancos centrais em todo o mundo melhorou as condições financeiras, tendo nalguns países como por exemplo os EUA, inclusivamente aumentado o rendimento disponível e as poupanças das famílias.
A recuperação dos preços dos ativos de riscos que se seguiu à queda e a diminuição das taxas de juros de referência também conduziram a uma melhoria global das condições financeiras.
Fonte: Global Financial Stability Update, IMF, June 2020
Fonte: Central Banks:Monthly Balance Sheets, Yardeni Research, October, 13, 2020
Avaliação dos mercados: Os mercados acionistas tiveram uma rápida e boa recuperação após a queda violenta inicial, em resposta às ações de política económica e em antecipação da melhoria dos dados económicos.
Os mercados acionistas caíram abruptamente 30% em dois meses e à data já recuperaram essa queda nos EUA e na Europa, em reação às fortes políticas económicas e em antecipação à melhoria dos dados económicos.
Este movimento é propiciado pela rotação de ativos associada as baixas taxas de juro (“there is no alternative”), retoma da atividade, sustentação das políticas económicas às famílias e empresas, e a forte valorização das empresas do setor tecnológico ou de trabalhar em casa (WFM ou Work From Home) e sobretudo das FAAMG/FAANG.
Os indicadores de volatilidade como por exemplo o VIX nos EUA têm vindo a estabilizar próximo dos 30 pontos depois de terem atingido os 80 pontos no auge da crise pandémica.
A avaliação do mercado acionista global e nas várias regiões está acima da média de longo prazo. O PER de 21,9x para os EUA está bem acima da média e próximo de máximos. Os PER de 16,5x na Zona Euro, de 17,6x no Japão e de 14,0x nos mercados emergentes estão também acima da média.
O consenso prevê taxas de crescimento dos resultados negativas e no valor de -20% para o mercado acionista global em 2020, e positivas de +21% para 2021, baseada numa rápida recuperação a partir da segunda metade deste ano.
Boa parte das empresas abandonou as sua perspetivas de resultados devido ao ambiente de grande incerteza. A época de resultados do terceiro trimestre nos EUA que agora começa perdurará pelas próximas 3 semanas (na Europa inicia-se em finais do mês) e poderá trazer indicações importantes.
Fonte: World Economic Outlook, IMF, October, 13, 2020.
Fonte: VIX, Trading Economics, October, 14, 2020
Fonte: Global Index Briefing: MSCI Forward P/Es, Yardeni Research, October, 1, 2020
Fonte: Global Index Briefing: All Country World MSCI, Yardeni Research, October, 10, 2020
Fonte: Corporate Finance Briefing: S&P 500 Revenues and Earnings Growth Rate, Yardeni Research, October, 10, 2020
A pandemia teve inicialmente um enorme impacte nos mercados de crédito com os spreads de risco implícitos a mais do que duplicarem para valores nunca vistos depois da GCF no segmento de qualidade de investimento e com maior preponderância no de especulativo, e depois melhoraram com a intervenção das autoridades, em particular da FED.
As taxas de juro de médio e longo prazo das obrigações do tesouro dos EUA e Europa estão em mínimos históricos devido à procura de ativos de refúgio (tal como o ouro).
Tem havido uma deterioração dos ratings de crédito pelas várias agências ao nível de países e de empresas, com particular incidência nas mais desequilibradas, mais dependentes do petróleo e do turismo. A Fitch fez o downgrade de 33 países (incluindo Canadá, Reino Unido e Hong Kong) no primeiro semestre (número que nunca tinha sido atingido num ano inteiro) e colocou 40 em situação de perspetiva negativa.
Fonte: World Economic Outlook, IMF, October, 13, 2020.
Fonte: Global Financial Stability Report Update, IMF, June 2020
Principais oportunidades: A antecipação das soluções médicas definitivas, eficazes e fiáveis (tratamentos e vacinação) de combate à pandemia que permitam uma normalização da atividade mais rápida em todo o mundo, e a intensificação das políticas económicas sobretudo no Ocidente (novo Cares Act nos EUA e Next Gen na UE).
Antecipação das soluções médicas (tratamentos eficazes e/ou vacina) face à previsão de Primavera de 2021, possibilitando uma mais rápida normalização da atividade económica.
Implementação eficiente do programa Next Gen EU 2021/2027 na União Europeia e aprovação rápida do Heroes Act ou Cares Act 2 nos EUA.
Fonte: U.S. Government Accountability Office from Washington, DC, United States
Fonte: Economic Research: The EU’s Recovery Plan Is The Next Generation Of Fiscal Solidarity, S&P Global Ratings
Principais riscos: Degradação do sentimento de mercado provocado pelo agravamento e/ou prolongamento da pandemia que obriguem a medidas de redução da atividade nos países desenvolvidos, desenlace conturbado das eleições americanas, saída descontrolada do RU da EU, forte deterioração das contas públicas, multiplicação das falências das empresas atingidas pela pandemia, fragilidade do mercado do petróleo e respetivo impacte em países emergentes vulneráveis.
Incapacidade de controlo da segunda vaga da pandemia sem novas medidas agressivas de confinamento e paralisação da atividade nalguns países europeus e EUA.
Desenlace tumultuoso das eleições presidenciais norte-americanas de 3 de novembro, num contexto de vantagem nas sondagens do candidato democrata Joe Biden e provável contestação política e judicial dos resultados das eleições baseada em argumentos de fraude dos votos por correio pelo atual presidente Donald Trump.
Saída descontrolada e sem extensão do prazo do Reino Unido da EU estabelecido para 1 de Janeiro de 2021, na sequência da renegação do acordo internacional de saída em 8 de setembro por aquele, numa tentativa de obter vantagens nos acordos de comércio em negociação.
Agravamento dos desequilíbrios externos e das contas públicas em grandes economias avançadas e sobretudo emergentes tais como India, Brasil, México e África do Sul, duplamente dependentes do petróleo e outros recursos naturais e do comércio internacional (aumento protecionismo).
Aumento do entesouramento (“hoarding effect”) pelas famílias e empresas com o consequente travão à normalização da atividade económica.
Fonte: US presidential election 2020, Financial Times, October, 13, 2020
Fonte: World Economic Outlook Update, IMF, June, 24
Fonte: Main Geopolitical Risks, Blackrock Institute, October,6, 2020