No muito longo prazo o desempenho dos mercados acionistas emergentes foi muito inferior, mas a situação mudou completamente nos últimos 50 anos. Mais recentemente parecem estar numa fase de transição, seguindo de perto os ritmos de crescimento económico.
Os mercados acionistas emergentes, da Ásia ex-Japão, a América Latina, e Europa de leste, tiveram um excelente desempenho entre 1990 e 2010, superando largamente os mercados desenvolvidos, dando origem a anacronismos como BRIC, MINT, …
Este esteve associado a taxas de crescimento económico e de ganhos produtividade superiores, em termos globais e per capita, em resultado de processos da subida do preço das mercadorias, do aumento do comércio mundial, das mudanças dos sistemas e modelos de desenvolvimento económico, designadamente maior liberalismo, industrialização e urbanização, e melhorias de funcionamento dos mercados financeiros.
Este processo parece ter sido interrompido a partir de 2014, com o abrandamento económico e diminuições de produtividade. Em 2020, houve sinais de alguma recuperação, sobretudo na China.
A evolução da demografia e o baixo custo dos fatores produtivos continuam a proporcionar um enquadramento mais favorável do que o dos países desenvolvidos, mas os fundamentos do passado não serão suficientes.
Para que o desempenho volte a ser superior de forma sustentável, será necessário o aumento da globalização, um maior liberalismo económico e o crescimento do setor dos serviços.
O domínio económico exercido pelo Oriente nos primeiros 1850 anos parece estar de volta nos nossos dias
No século passado, as rendibilidades anuais dos mercados emergentes ficaram bastante aquém das dos mercados desenvolvidos, mas a partir de 1980 a situação muda
Dum modo geral, a partir de meados dos anos oitenta o desempenho dos mercados emergentes foi superior ao dos mercados desenvolvidos, sobretudo durante os ciclos de mercado positivos, mas sofrem perdas mais acentuadas durante as crises
O domínio económico exercido pelo Oriente nos primeiros 1850 anos parece estar de volta nos nossos dias
O gráfico seguinte dá-nos uma perspetiva da distribuição do produto económico mundial por regiões nestes 2 milénios:
A história económica ensina-nos que no início da civilização a Ásia detinha o poder económico, exercendo a sua influência no mundo com as rotas da seda, e depois, das especiarias, possuindo a India e a China 70% do produto mundial.
A partir de 1500 a Europa, com alguma paz, a epopeia das descobertas e a construção dos impérios, nomeadamente a França e o Reino Unido começaram a ganhar poder, o que veio a ser reforçado com a Revolução Industrial em 1770.
A independência e criação dos EUA no final do século XVIII, país novo, vasto, e rico em diversos recursos naturais, guindaram-no desde cedo para uma posição de crescente preponderância, reforçada com o seu papel na 2ª Revolução Industrial e mais tarde pelo evitar das sequelas das grandes guerras mundiais que assolaram a Europa.
O crescimento económico mais pujante voltou a deslocar-se em direção ao Oriente a partir de 1950, com a recuperação do Japão no pós-guerra, conhecida como o milagre japonês, e a industrialização, urbanização e introdução do liberalismo económico da China em 1980 com as reformas de Deng Xiaoping.
O próximo gráfico apresenta a evolução do PIB por regiões nos 50 anos mais recentes:
O que mais ressalta é a grande convergência e mesmo ultrapassagem do produto económico, a preços constantes, da Ásia e Pacífico face aos EUA e à Europa no início da década de 2010, tendo partindo de uma posição muito inferior em 1970.
No século passado, as rendibilidades anuais dos mercados emergentes ficaram bastante aquém das dos mercados desenvolvidos, mas a partir de 1980 a situação muda
O gráfico seguinte mostra as rendibilidades do investimento nos mercados acionistas emergentes e desenvolvidos entre 1900 e 2013:
Neste período de 113 anos, um dólar investido nos mercados desenvolvidos teria gerado 9,199 dólares versus 3,387 dólares nos mercados emergentes, pouco mais de um terço, embora a evolução não tenha sido linear e paralela.
Os mercados acionistas emergentes tiveram um desempenho muito idêntico ao dos mercados desenvolvidos entre 1900 e 1945, embora ambos com fraco registo, mas registaram uma perda significativa nos primeiros 5 anos do pós-guerra. Após 1950, fase com uma valorização mais significativa dos mercados acionistas mundiais, os mercados emergentes retomaram uma linha ascendente, embora sem convergência até meados da década de 1970, momento a partir do qual têm um desempenho superior.
O gráfico seguinte evidencia as rendibilidades anuais por períodos de 10 anos dos mercados emergentes entre 1936 e 2017:
Fica claro que as rendibilidades anuais médias por períodos de 10 anos até ao final da década de 1950 foram baixas, sendo mesmo negativas nos 10 anos após a 2ª guerra mundial, mas a partir de então foram crescentes e atingiram um pico de 30% ao ano por volta de 1995. Em seguida, iniciaram um movimento de descida até 0% em 2005, ano em que retomam a subida para valores de 15% em 2013, após o qual registaram nova queda abrupta para rendibilidades anuais insignificantes.
O gráfico seguinte mostra que nos últimos 50 anos, o desempenho dos mercados emergentes foi superior ao das restantes regiões:
Os mercados emergentes registaram uma maior valorização do que os restantes mercados entre 1970 e 2016.
As maiores rendibilidades dos mercados emergentes estiveram associadas a maiores volatilidades:
O gráfico acima compara as rendibilidades e a respetiva volatilidade ou risco dos mercados acionistas (à direita) e obrigacionistas (à esquerda) dos EUA, Europa e Emergentes entre 1999 e 2018.
Vemos que neste período os mercados emergentes registaram maiores rendibilidades, mas também maior risco quando comparadas com os mercado norte-americano. Em termos dos mercados acionistas as rendibilidades anuais médias dos mercados emergentes foram de 7,9%, superando os 5,4% dos EUA e os 3,5% da Europa, mas a volatilidade foi de 20,9%, acima dos 14,4% dos EUA e praticamente igual à europeia.
Dum modo geral, a partir de meados dos anos oitenta o desempenho dos mercados emergentes foi superior ao dos mercados desenvolvidos, sobretudo durante os ciclos de mercado positivos, mas sofrem perdas mais acentuadas durante as crises
Os fatores do passado, como a abundância do trabalho, ou o enriquecimento ou escalada sociais, não são suficientes.
O gráfico seguinte apresenta a evolução relativa entre os mercados emergentes e os desenvolvidos entre 1988 e 2019:
Neste período os mercados emergentes tiveram um desempenho que foi quase o dobro dos mercados desenvolvidos em dólares. A valorização dos mercados emergentes foi 4 vezes superior entre 1988 e 1996, mas depois e até à bolha tecnológica perderam quase toda a vantagem. A partir de 2002 voltam a registar uma valorização muito acentuada, mais uma vez de 4 vezes mais até 2012, perdendo novamente vantagem até 2015, quando estabilizam.
A evolução da comparação entre os mercados emergentes e o mercado acionista americano ainda é também contrastante:
Dum modo geral, os mercados emergentes foram mais rentáveis durante os ciclos positivos, embora sofram maiores perdas nas crises, como a da grande bolha tecnológica de 2000 e a Grande Crise Financeira de 2007, mostrando-se muito mais voláteis.
Contudo, esta realidade mudou no ciclo positivo mais recente. A recuperação da última crise a partir de 2009 mostrou um melhor desempenho dos mercados emergentes face ao mercado norte-americano até 2011, mas enquanto este prosseguiu uma trajetória ascendente, os emergentes lateralizaram e até regrediram em 2015, para depois retomarem a subida.
O gráfico permite ver melhor o desfasamento do desempenho dos mercados emergentes face aos desenvolvidos neste último ciclo:
Nos últimos 10 anos, os mercados desenvolvidos valorizaram 150% enquanto os mercados emergentes só cresceram 44%.
O gráfico a seguir apresenta a evolução dos índices dos mercados emergentes, dos EUA e os restantes países desenvolvidos (compreendendo a Europa-Australásia-Médio Oriente) neste período:
Entre 2010 e 2020, os EUA tiveram rendibilidades médias anualizadas de 11% correspondentes a uma valorização acumulada de 185%, enquanto o Resto do Mundo desenvolvido teve rendibilidades de 2,6% e valorização cumulativa de 16,2%, e os mercados emergentes se ficaram por desempenhos ainda mais modestos, de rendibilidades médias anualizadas de 1,2% e acumuladas de 12,7%. Este tem sido claramente um ciclo forte dos EUA, e fraco dos emergentes.
O gráfico seguinte mostra o desempenho dos mercados acionistas ao nível das principais economias desenvolvidas e emergentes entre 2007 e meados de 2018:
Relativamente aos mercados emergentes, vemos o seu fraco desempenho neste período resulta fundamentalmente das baixas valorizações da China e da Rússia, dois pesos pesados no respetivo índice, países com desempenhos fracos, sem recuperarem sequer os níveis de 2007. A India é a única economia que tem um desempenho forte, ao nível do dos EUA.
Nos países desenvolvidos vemos o desempenho extraordinário dos EUA, assim como a boa recuperação da Alemanha e do Japão, em contraste com a fraqueza do Reino Unido e da França.
O diferente desempenho de dois dos principais mercados emergentes é bem evidenciado no gráfico seguinte que cobre o período de 2000 a 2018:
As evoluções dos principais índices acionistas destas economias mostram que a Índia e a China têm desempenhos semelhantes até 2009, ano a partir do qual a Índia observa uma progressão elevada e a China estabiliza.