O que são as bolsas de valores?
Como funcionam as bolsas?
As funções das bolsas de valores
A regulação e fiscalização das bolsas e dos mercados de capitais
A dimensão do mercado de capitais global em comparação com o PIB e a riqueza mundial
Em artigos anteriores vimos que as pessoas investem muito pouco das suas poupanças e normalmente com resultados muito inferiores aos do mercado.
Esta situação tem consequências ao nível da valorização do património, crescimento da riqueza e aumento da qualidade de vida.
Muitas pessoas não investem simplesmente porque não sabem.
Muitas outras não o fazem porque têm medo. Temem perder o dinheiro que muito lhes custou a ganhar.
Outras não investem porque desconfiam. Pensam que o mercado é um casino, um jogo de sorte e azar, em que um pequeno número de agentes (os grandes tubarões) ganha à custa de muitos pequenos investidores (a arraia miúda), apropriando-se e destruindo as suas poupanças.
Por isso, pensámos que fazia sentido incluir no blog um artigo que abordasse o modo como os mercados funcionam, incluindo as principais regras e a fiscalização dos mercados.
Nada melhor do que fazê-lo através da apresentação das entidades gestoras das bolsas, enquanto o elemento basilar do funcionamento dos mercados.
O que são as bolsas de valores?
Uma bolsa de valores é, muitas vezes, a componente mais importante de um mercado bolsista.
Uma bolsa de valores é um mercado onde os agentes económicos podem comprar e vender títulos, tais como ações, obrigações e outros instrumentos financeiros.
Os títulos negociados em bolsa incluem as ações emitidas por empresas cotadas, obrigações, fundos de investimento, derivados e outros produtos de investimento coletivos.
Como funcionam as bolsas?
As bolsas de valores funcionam frequentemente como mercados de “leilão contínuo”, em que os compradores e vendedores consumam transações através de ofertas abertas numa central de negociação, seja num espaço físico do edifício da bolsa (“floor”) ou utilizando uma plataforma de negociação eletrónica.
As redes de comunicação eletrónica são cada vez mais usadas porque têm vantagens de maior rapidez e redução do custo das transações.
Para que um título possa ser negociado numa determinada bolsa de valores, o título deve ser previamente admitido à cotação nessa bolsa.
As emissões ou ofertas públicas iniciais de ações e obrigações aos investidores são feitas no mercado primário, e a negociação subsequente é feita no mercado secundário.
As admissões à cotação, assim como a manutenção da negociação em bolsa devem obedecer a um conjunto de requisitos regulamentares.
Estes requisitos são impostos pelas autoridades de supervisão dos mercados financeiros, e suplementarmente, nalguns casos, pelas próprias bolsas.
Cabe a ambas estas entidades a verificação do cumprimento das normas, no âmbito da fiscalização dos mercados.
A oferta e a procura nos mercados bolsistas dependem de diversos fatores que, tal como em todos os mercados de bens livres, afetam os preços dos títulos.
A negociação de títulos pode não ser feita em bolsa, e ocorrer fora de bolsa ou ao mercado de balcão.
Esta é a forma habitual de negociação de obrigações e derivados.
As bolsas fazem parte, cada vez mais, de um mercado global de valores mobiliários.
As bolsas de valores também prestam uma função económica ao concederem liquidez aos acionistas através da disponibilização de um meio eficiente de alienação de ações, mas veremos todas as suas funções, em seguida.
As funções das bolsas de valores
As bolsas de valores desempenham várias funções:
Mobilização de poupanças para investimento
Dum modo geral, quando as pessoas investem as suas poupanças em ações produz-se uma alocação racional de recursos porque os fundos, que poderiam ter sido consumidos ou mantidos em depósitos com baixo rendimento, são mobilizados e redirecionados para financiar o crescimento e desenvolvimento das empresas.
Mobilização de capital para as empresas
As bolsas de valores permitem às empresas a angariação de capital ou de dívida para a sua expansão através da venda de ações e de obrigações, respetivamente, ao público investidor.
Nesta medida, as bolsas constituem uma fonte de financiamento importante para as empresas, para além do financiamento sistema bancário, sob a forma de créditos ou de empréstimos.
Facilitar aquisições pelas empresas
As aquisições são vistas pelas empresas como uma oportunidade para expandirem linhas de produtos, aumentarem canais de distribuição, de se protegerem contra a volatilidade, aumentarem a sua quota de mercado ou adquirirem outros ativos comerciais necessários.
Uma oferta pública de aquisição através do mercado bolsista são das formas mais simples e comuns de uma empresa crescer por via de fusões e aquisições.
Partilha de resultados
As bolsas permitem a partilha de resultados das empresas por investidores de ações individuais e profissionais, grandes como os investidores institucionais, ou pequenos como uma família, através do pagamento de dividendos e dos aumentos de preços das ações que podem resultar em mais-valias.
Melhoria do governo societário
As empresas cotadas em bolsa são objeto de regras mais rigorosas impostas pela lei e entidades regulamentares e tendem geralmente a melhorar os padrões de gestão e a eficiência para satisfazer as exigências do seu amplo universo de acionistas.
Criação de oportunidades de investimento para os pequenos investidores
A negociação em bolsa permite o investimento em ações tanto dos grandes como dos pequenos investidores de ações, uma vez que os montantes mínimos de investimento são mínimos.
Por conseguinte, a bolsa oferece a oportunidade para os pequenos investidores deterem ações das mesmas empresas que os grandes investidores.
Captação de capital do governo para projetos de desenvolvimento
Os governos financiam-se no mercado através da emissão de obrigações para desenvolverem projetos de investimento público, como infraestruturas de transporte, águas, energia, escolas, hospitais, etc.
Barómetro da economia
Na bolsa, os preços das ações sobem e descem dependendo, em grande parte, das forças económicas.
Os preços das ações tendem a subir ou a manter-se estáveis quando as empresas e a economia em geral mostram sinais de estabilidade e crescimento.
Uma recessão, depressão ou crise financeira leva normalmente a uma queda da bolsa.
Assim, a evolução dos preços das ações e, em geral, dos índices bolsistas é um indicador da tendência geral da economia.
A regulação e fiscalização das bolsas e dos mercados de capitais
Muitas pessoas temem e desconfiam do investimento bolsista e dos mercados de capitais por causa de alguns escândalos muito mediatizados.
Foram os casos da Enron, Worldcom, Lehman Bros (e outros da crise do imobiliário), Dieselgate, BP Deepwater, Madoff, Wirecard, Archegos, MDB1, etc., muitos já há alguns anos, mas outros muito recentes.
Os filmes de grande sucesso de bilheteira sobre a ganância e a corrupção na indústria financeira, baseados nalguns destes escândalos reais e outros ficcionados, ajudam a enraizar esta perceção.
Desde os filmes Wall Street, The Big Short, Wolf of Wall Street, Margin Call, Rogue Trader, Internal Job, Money Monster, the Wizard of Lies, até aos documentários, The Smartest Guys in the Room (Enron) e Inside Lehman Brothers.
No entanto, muitas dessas pessoas não sabem que as bolsas e o mercado de capitais são dos mais regulados e fiscalizados das nossas sociedades.
De certa forma, os mercados de capitais são mais regulados e fiscalizados do que atividades tão importantes para as nossas vidas como as da alimentação, educação e saúde.
O objetivo da regulação é prevenir e investigar fraudes, manter os mercados eficientes e transparentes, e garantir que os investidores sejam tratados de forma justa e honesta.
Ou seja, a regulação constitui e tem como objeto a proteção e defesa dos interesses dos investidores, em particular dos mais pequenos, como os investidores individuais.
Esta regulação começa nas leis e normas, incluindo os códigos das sociedades comerciais, códigos dos valores mobiliários e normativos complementares.
Compreende também a definição das estruturas e regras de organização e funcionamento dos mercados.
Neste âmbito, destaca-se as nomeação e atribuição das responsabilidades das autoridades do supervisão e fiscalização dos mercados como os bancos centrais, as comissões do mercado de valores mobiliários e as sociedades gestoras das bolsas.
Abrange também a definição do conjunto de deveres, obrigações e responsabilidades a que estão sujeitos vários agentes do mercado, com destaque para as entidades que emitem os títulos negociados em bolsa.
As empresas com ações cotadas têm obrigações de regularidade e fiabilidade de prestação e divulgação de contas ao mercado, de comunicação de outra informação ou factos relevantes, etc.
Além disso, o trabalho dos analistas de recomendações de investimento também envolve fazer análises de verificação das informações económicas e financeiras.
Por tudo isto, as entidades cotadas e os valores por si emitidos estão sujeitos a permanente e detalhado processo de fiscalização.
É óbvio que, apesar disso, os escândalos financeiros continuam a suceder, prejudicando os investidores em muitos casos.
Contudo, são cada vez mais difíceis de ocorrer, e mais uma vez, há muitas outras áreas pelo menos tão importantes para as nossas vidas, cuja regulação é tão ou mais permeável a atividades criminosas, e têm porventura, um quadro regulatório menos abrangente e robusto.
Em suma, considerando a regulação existente e a reduzida expressão dos casos, o receio é exagerado e injustificado, quando nos impede de investir nos mercados.
A perda do valor do investimento é certamente muito maior do que os custos dos crimes praticados.
A dimensão do mercado de capitais global em comparação com o PIB e a riqueza mundial
Consideramos que para se perceber a importância dos mercados financeiros no mundo basta apresentar a sua dimensão e compará-la com outras variáveis económicas relevantes, como o PIB e a riqueza globais.
O valor dos mercados de capitais a nível global totalizava mais de 175 biliões de dólares em 2018:
O valor do mercado das obrigações cotadas em bolsa excedia 100 biliões de dólares e o das ações 75 biliões de dólares em 2018.
A distribuição da capitalização bolsista do mercado de ações global por países era a seguinte:
Nesse ano, o PIB mundial foi de 86 biliões de dólares:
E a riqueza mundial estimada era de 360,6 biliões de dólares nesse ano:
Daqui se vê a grandeza e importância dos mercados mundiais das ações e obrigações, quer em termos absolutos quer relativos, por comparação com o produto e a riqueza.
As principais bolsas mundiais
As 15 principais bolsas mundiais são as seguintes:
As duas maiores são americanas, a NYSE e o Nasdaq, com uma capitalização de 26 e de 19 biliões de dólares, respetivamente, em 2020.
Seguidamente surgem três asiáticas, a chinesa de Shangai, a japonesa e a de Hong Kong.
Depois aparece a Euronext, que integra as bolsas dos Países Baixos, França, Bélgica, Portugal, Irlanda e Noruega, com uma capitalização total de 5,4 biliões de dólares.
A bolsa de Londres está em 6º lugar, com uma capitalização de quase 4 biliões de dólares, enquanto a bolsa alemã está em 10º com uma capitalização de 2,2 biliões de dólares.
No link seguinte vemos a evolução das principais bolsas nos últimos 20 anos.