As mulheres controlam cerca de 1/3 da riqueza financeira nos países desenvolvidos e na próxima década esta percentagem será muito superior
As mulheres investem cada vez mais, mas ainda menos do que os homens, subsistindo um “gap” de investimento de género
Principais motivações e bloqueios do investimento pelas mulheres
Desenvolvemos uma série de artigos com o título “Como investem” para mostrarmos as caraterísticas dos investimentos de algumas classes de investidores de referência, particulares e institucionais.
Consideramos que estas caraterizações proporcionam conhecimentos úteis para o investimento da generalidade dos investidores particulares.
Relativamente aos investimentos de particulares, abordamos as diferenças do investimento das regiões ou países, dos rendimentos e riqueza das famílias, e damos especial relevância às diferenças entre as várias gerações e entre mulheres e os homens.
Este é o primeiro do conjunto de artigos desta série dedicado ao investimento nos mercados financeiros pelas mulheres.
É realizado com base em estudos e inquéritos feitos recentemente sobre o investimento das mulheres nos EUA e na Europa.
Veremos que as mulheres ainda investem menos do que os homens, o chamado “gap” de investimento, devido a um conjunto de desvantagens financeiras e a outros aspetos que limitam a sua influência enquanto investidores.
Contudo, a importância do investimento das mulheres tem sido crescente e irá aumentar nos próximos anos.
Na verdade, as mulheres já controlam um terço da riqueza nos países ocidentais e estima-se que possa ultrapassar os 50% na próxima década.
As mulheres investem de forma diferente do que os homens e obtêm resultados equivalentes ou até superiores.
Focam-se mais nos objetivos, privilegiam a segurança familiar, são mais conservadoras e mais investem com maior estabilidade.
O “gap” de investimento coloca-lhes um desafio crítico para a vida na reforma.
Ganham menos, têm mais interrupções de careira, acumulam menos riqueza, têm pensões mais baixas e vivem mais tempo do que os homens.
Esta realidade exige uma perspetiva de investimento diferente da dos homens.
Afirmam que precisam de maior literacia financeira e do acesso a consultores especializados, que percebam as suas especificidades em termos dos objetivos, da situação financeira e do seu perfil de investidor.
O mundo da gestão e consultoria das finanças pessoais e dos investimentos ainda é muito dominado por homens, sendo a presença das mulheres muito pouco significativa
As mulheres controlam cerca de 1/3 da riqueza financeira nos países desenvolvidos e na próxima década esta percentagem será muito superior
De acordo com o estudo “Women as the next wave of growth in US wealth management”, realizado pela McKinsey e publicado em julho de 2020, as mulheres afluentes já controlam cerca de um terço dos ativos financeiros nos EUA correspondente a 10,9 biliões de dólares:
Mas estes valores irão aumentar significativamente na próxima década devido à fatores demográficos.
Estima-se que em 2030, as mulheres norte-americanas controlem cerca de 30 biliões de ativos financeiros, em resultado de uma enorme transferência de riqueza dos Baby Boomers (quase equivalente ao PIB anual dos EUA), e da maior igualização de rendimentos do trabalho das mulheres.
Noutro estudo semelhante, “Wake up and see the women: Wealth management’s underserved segment”, da McKinsey, publicado em junho de 2022 e realizado a 3,000 mulheres e 2,000 homens afluentes na Europa ocidental, concluiu-se que as mulheres europeias afluentes controlam também cerca de um terço dos ativos financeiros, correspondente a 4,6 biliões de euros:
Estima-se que em 2030 as mulheres europeias controlem cerca de 45% dos ativos financeiros correspondentes a 10 biliões de euros, pelas mesmas razões que nos EUA. Os ativos das mulheres crescerão a 8,1% ao ano e o dos homens a 2,7% ao ano.
As mulheres investem cada vez mais, mas ainda menos do que os homens, subsistindo um “gap” de investimento de género
Os vários estudos recentes nos países ocidentais mostram que as mulheres ainda investem menos do que os homens, mas têm aumentado significativamente o investimento nos últimos anos, reduzindo o gap de género.
Segundo um estudo “2021 Women and Investing Study” feito pela Fidelity nos EUA, 67% das mulheres fazem atualmente investimentos para além da reforma, comparativamente com 44% em 2018:
De salientar que as maiores percentagens das gerações mais novas, os 71% das Millennials e os 67% das Gen X.
A Gallup realiza anualmente estudos sobre a propriedade das ações norte-americanas pelas famílias (incluindo ações individuais, fundos de investimento ou em contas de poupança reforma geridas diretamente), cuja evolução tem sido a seguinte:
Esse inquérito mais recente mostrou que 56% mulheres das mulheres possuem investimentos em ações contra 60% dos homens nos EUA:
Este gap tem vindo a estreitar ao longo do tempo, de mais de 6% quando da Grande Crise Financeira.
O inquérito feito pelo JP Morgan a 4,000 mulheres de 10 países europeus (Áustria, Alemanha, Espanha, Finlândia, França., Itália, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça), em 2021, revelou que dois terços das inquiridas se identificaram como investidores, em comparação com três quartos dos homens.
E menos de uma em cada cinco mulheres investe regularmente, em comparação com três em cada 10 homens.
O estudo feito pela N26 em 2022 a 16,000 mulheres e homens afluentes de 5 grandes países europeus (Alemanha, Áustria, França, Espanha e Itália), concluiu que as mulheres investem menos 29% do que os homens.
No entanto, mais de dois terços das mulheres querem investir mais.
As mulheres europeias afluentes investem, em média, €857,52 do seu rendimento mensal, com a maioria a investir entre €100 e €499 por mês.
Os homens afluentes investem em média €1.184,49 por mês.
A principal razão para este “gap” de investimento é claramente a diferença de rendimentos do trabalho, e consequentemente, a menor acumulação de património para investimento, até porque os estudos mostram que as mulheres poupam mais.
Analisaremos este “gap” de investimentos em mais detalhe num artigo posterior.
No entanto, os estudos mostram que há diferenças significativas na forma como as mulheres e os homens veem, planeiam e gerem os investimentos. Também veremos este aspeto num outro artigo subsequente.
O inquérito feito pelo Bank of New York Mellon a 16,000 mulheres em 16 países, assim como a 100 gestoras de ativos gerindo um total de mais de 60 biliões de dólares – “The Pathway to Inclusive Investment: How Increasing Women’s Participation Can Change the World” – concluiu que o aumento do investimento das mulheres teria um impacto positivo importante na vida das mulheres, na indústria de investimento e no planeta.
Se as mulheres investissem ao mesmo nível do que os homens, haveria pelo menos mais 3,22 biliões de dólares de ativos sob gestão de particulares.
Talvez mais importante, como as mulheres são mais propensas a fazer investimentos que têm impactos sociais e ambientais positivos, haveria um afluxo de 1,87 biliões de dólares de capital adicional em investimento sustentável.
Principais motivações e bloqueios do investimento pelas mulheres
Segundo a N26, as principais motivações e bloqueios do investimento pelas mulheres europeias são os seguintes:
À cabeça das motivações surgem a valorização dos capitais a longo prazo, a segurança financeira da família e a poupança para a reforma.
Os principais bloqueios são a falta de dinheiro e a falta de conhecimentos.
Relativamente às motivações há ligeiras diferenças entre os países:
No sul da Europa destaca-se uma maior preocupação relativamente à proteção conta a inflação e as crises.