2023 em revista: Grandes avanços na batalha contra inflação nas economias avançadas, com impacto controlado no crescimento. Concentração dos retornos das ações norte-americanas nas 7 magníficas e na Inteligência Artificial, depois de um 2022 em que as perdas das tecnológicas assustaram os investidores.
Perspetivas macroeconómicas para 2024: Inflação, taxas de juros e crescimento económico
Perspetivas dos mercados financeiros para 2024: valorizações interessantes das obrigações dos EUA, e da Europa, assim como das ações americanas (nos vários segmentos de capitalização) e japonesas
Principais conclusões e recomendações: sobre ponderar obrigações dos EUA e Europa, ações norte-americanas e japonesas, e atratividade das carteiras equilibradas e do portefólio tradicional 60/40
No artigo anterior publicámos as perspetivas para os mercados financeiros em 2024 dos principais bancos de investimento globais, na linha do que iniciámos em 2023.
Neste artigo apresentaremos as nossas opiniões e recomendações.
2023 em revista: Grandes avanços na batalha contra inflação nas economias avançadas, com impacto controlado no crescimento. Concentração dos retornos das ações norte-americanas nas 7 magníficas e na Inteligência Artificial, depois de um 2022 em que as perdas das tecnológicas assustaram os investidores.
O crescimento económico mundial foi assíncrono. Nos EUA, o crescimento foi bastante melhor do que esperado, a Europa estagnou, e China abrandou significativamente,
O ano de 2003 foi ainda mais difícil do que o habitual para os gestores de investimentos e investidores individuais.
O retorno de 18% do S&P 500 deveu-se em grande parte às Sete Magníficas – Apple, Microsoft, Alphabet, Meta, Amazon, Nvidia e Tesla – com um peso de 25% e retornos médios superiores a 90%, sobretudo a partir do segundo semestre (nota: o seu peso no Nasdaq 100 ultrapassa os 50%).
Na primeira metade ao ano, ainda houve alguma largura no mercado acionista americano, mas na segunda a concentração acentuou-se nas Sete Magníficas.
O mercado acionista japonês teve bons retornos, enquanto os europeus foram moderados e o chinês foi negativo.
As taxas de juros de longo prazo subiram a maior parte do ano nos EUA e na Europa, começando a descer em novembro, em linha com a trajetória descendente da inflação e a concordante atuação dos bancos centrais.
Consequentemente, o investimento em obrigações registou perdas durante quase todo o ano.
Os fluxos de fundos para ações foram negativos, positivos para as obrigações e muito fortes para investimentos de curto prazo, como os fundos de mercado monetário.
Perspetivas macroeconómicas para 2024: Inflação, taxas de juros e crescimento económico
Em 2024, espera-se uma retração do crescimento mundial e em todas economias, avançadas e emergentes.
Os países desenvolvidos sentirão os efeitos da atual política monetária de taxas de juros altas por mais tempo, enquanto as economias emergentes serão afetadas pelo retrocesso da globalização e por um dólar forte.
Com a Europa estagnada ou em recessão, a China em arrefecimento económico e com os problemas por resolver no setor da construção que representa 25% do PIB, a grande dúvida para 2024 é saber qual a capacidade de resiliência do consumidor americano aos efeitos das taxas de juros altas, na medida em que o consumo é o grande motor do crescimento económico nos EUA.
O ponto de partida da economia americana é favorável, na medida em que as famílias e as empresas apresentam boa capacidade económica e financeira, a taxa de inflação e as taxas de juros de mercado estão a descer, e o mercado de trabalho está robusto.
Os indicadores económicos avançados continuam positivos, em geral.
Nestes termos, a evolução do consumo nos EUA irá depender dos efeitos desfasados das taxas de juro altas e da trajetória das taxas de inflação e das suas implicações diretas nos movimentos das taxas de juros, no rendimento disponível e no emprego das famílias.
Como referimos noutro artigo é muito difícil prever o desenvolvimento da inflação, dadas as suas múltiplas componentes, as suas dinâmicas. e as surpresas que o futuro sempre traz.
No entanto, somos de opinião de que a inflação nos EUA continuará a descer gradualmente estimando-se que poderá cair dos atuais 3,2% para valores próximos dos 2,5% no final de 2024.
Esta evolução deve-se ao efeito de mudança de base, às descidas dos preços dos bens e dos serviços – nomeadamente, dos custos com a habitação, que sendo a componente mais importante, se tinha mostrado como mais rígida -, e estabilidade dos preços da energia.
Acreditamos que neste cenário, a FED começará a cotar as taxas diretoras em junho, ao ritmo de 0,25% por trimestre.
Na Europa a redução da inflação será mais gradual, o que fará com que o corte de taxas seja mais tardio.
As taxas de juros de longo prazo irão ajustar-se em conformidade, admitindo-se que as taxas das obrigações do tesouro norte-americanas a 10 anos caiam dos atuais 4,5% para menos de 4%.
Entendemos que este quadro de um círculo virtuoso de diminuição da inflação e das taxas de juros de curto a longo prazo irá compensar os efeitos desfasados das altas taxas de juros passadas, conduzindo a um aumento do rendimento disponível e do consumo das famílias.
O dólar manter-se-á forte relativamente às restantes moedas.
Perspetivas dos mercados financeiros para 2024: valorizações interessantes das obrigações dos EUA, e da Europa, assim como das ações americanas (nos vários segmentos de capitalização) e japonesas
Neste quadro de descida das taxas de juros, perspetiva-se um desempenho muito positivo para as obrigações do tesouro de longo prazo americanas e, em menor grau, para as europeias.
As obrigações de bom rating e de high-yield também deverão beneficiar, uma vez que não se antecipa um alargamento dos respetivos spreads por via de um aumento das taxas de incumprimento.
A avaliação dos mercados acionistas deve ser feita com mais granularidade dada a variedade de situações.
O mercado norte-americano está com múltiplos acima da média histórica, enquanto os restantes estão abaixo, nomeadamente os mercados europeus, japonês e das economias emergentes.
No entanto, se excluirmos as Sete Magníficas do índice S&P 500, as 493 empresas restantes cotam a múltiplos de PER ao nível da média dos últimos 20 anos.
Este fenómeno ainda é mais significativo relativamente às small e mid caps norte-americanas, que estão a múltiplos inferiores à média de longo prazo.
Esta disparidade resulta da preferência por investimento em empresas de qualidade (globais, estáveis, balanços robustos, e forte geração de cash-flows) e das diferentes estimativas de crescimento dos EPS das várias geografias e dos diversos segmentos de capitalização nos EUA.
Não se perspetiva um crescimento dos lucros por ação para as empresas europeias e dos mercados emergentes devido às dificuldades dos mercados domésticos e ao movimento de retrocesso da globalização.
Relativamente aos EUA a situação será diferente, pois após um ano de contração dos resultados por ação em 2023, esperamos um aumento dos EPS do S&P 500 entre 5% e 10% em 2024, com contributo de um número de empresas mais alargado.
Isto não significa que não consideremos que as Sete Magnificas irão continuar a manter crescimentos de receitas, das margens e dos lucros bem acima das restantes empresas, devido ao seu “footprint” global e “pricing power”.
Neste cenário, prevemos um bom desempenho para as ações norte-americanas em geral, não só das do S&P 500, como também das “small” e “mid caps”, mais expostas à economia doméstica.
Acreditamos que o mercado de ações americano irá ter menos concentração e mais largura do que em 2023, se bem que se observará ainda uma dispersão superior à média histórica, quer a nível setorial quer individual.
O cash continuará a ser um investimento concorrente das ações e obrigações com taxas que irão baixar de 5,5% até 4% nos EUA, e que se situarão entre 2,5% e 3% na Zona Euro.
Principais conclusões e recomendações: valorizações das obrigações dos EUA e Europa, ações norte-americanas e japonesas, e atratividade das carteiras equilibradas e do portefólio tradicional 60/40
Manutenção de carteiras equilibradas em termos de alocação de ativos entre ações e obrigações, alinhadas com os objetivos financeiros e o perfil de risco
Boas perspetivas de valorização das obrigações de longo prazo de norte-americanas, e em menor grau das europeias, que beneficiarão da descida das taxas de juros de níveis altos, assim como da manutenção dos spreads de crédito.
Expetativas de valorização interessantes para os investimentos em ações norte-americanas e japonesas, em resultado de um crescimento económico melhor do que o esperado.
Atratividade do investimento em pequenas e médias empresas norte-americanas, antecipando a melhoria dos resultados por ação e sobretudo a expansão dos múltiplos de mercado que estão a um nível muito baixo em termos históricos.
Combinação de investimento nos principais índices generalistas em títulos individuais das subclasses de ativos mais favorecidas.
O cash continuará a ser uma alternativa de investimento, sobretudo no primeiro trimestre, antes de se iniciar o processo de corte de taxas dos bancos centrais, previsto para a segunda metade do ano.
O dólar manter-se-á forte refletindo um ritmo de crescimento da economia americana relativamente melhor do que a do resto do mundo.