No passado recente, os mercados emergentes foram vistos como um bloco mais ou menos homogéneo dos principais países que os compõem, associando-se o seu desempenho absoluto e relativo a 4 fatores essenciais: o preço dos “commodities”, o comércio mundial, a evolução do dólar e as condições financeiras globais.
O pior desempenho dos mercados emergentes versus os mercados desenvolvidos a partir de 2000 está associado à perda de ritmo de crescimento económico e de produtividade superior
Há 4 grandes razões que influenciam os mercados acionistas emergentes em geral e explicam o mais baixo crescimento económico e desempenho dos mercados acionistas dos países emergentes no virar do milénio: preço dos “commodities”, o comércio mundial, a evolução do dólar e as condições financeiras globais
#1 O preço dos “commodities”
#2 O crescimento comércio mundial
#3 A evolução do dólar
#4 Condições financeiras globais e fluxos de capitais
O pior desempenho dos mercados emergentes versus os mercados desenvolvidos a partir de 2000 está associado à perda de ritmo de crescimento económico e de produtividade superior
O pior desempenho relativo dos mercados emergentes sobretudo desde 2000 tem vindo a refletir o forte arrefecimento económico na maioria dos países nos últimos anos como podemos ver neste gráfico:
O abrandamento do crescimento económico é bastante visível.
Começando numa média de crescimento anual do PIB de 4,9% entre 2000 e 2005, baixou para 4,3% entre 2006 e 2010, seguindo-se 4,1% entre 2011 e 2015, e registando subsequentemente o maior arrefecimento para níveis de 2,3% entre 2016 e 2019.
Há 4 grandes razões que influenciam os mercados acionistas emergentes em geral e explicam o mais baixo crescimento económico e desempenho dos mercados acionistas dos países emergentes no virar do milénio: preço dos “commodities”, o comércio mundial, a evolução do dólar e as condições financeiras globais
#1 O preço dos “commodities”
A generalidade dos países emergentes é abundante em “commodities” ou mercadorias, que exportam para o resto do mundo.
No gráfico seguinte comprova que existe uma elevada correlação entre a evolução dos preços dos “commodities” (cobre, chumbo, aço, estanho, zinco, serapilheira, algodão, lãs, couro, estampados, borracha, resina e sebo) e dos mercados acionistas emergentes:
Há uma grande sincronia da evolução, mais marcante nos dois ciclos de subidas acentuadas de 2000 a 2007 e de 2009 a 2011. A estabilização e quedas do preço das “commodities” desde 2011 tem pesado sobre o desempenho dos mercados acionistas desde então.
#2 O crescimento do comércio mundial
Não são só as mercadorias que são exportadas. Há produtos industriais em que os países emergentes são também os grandes exportadores do mundo, embora sejam sobretudo os de baixo nível de transformação e consequentemente de baixo valor acrescentado, assente na vantagem competitiva da mão-de-obra barata.
O gráfico seguinte mostra a elevada correlação entre as taxas de crescimento do comércio global e do desempenho relativo dos mercados acionistas emergentes:
Vemos que quanto maior a taxa de crescimento do comércio global melhor o desempenho dos mercados emergentes face aos desenvolvidos.
Desde 2011 que as taxas de crescimento do comércio mundial têm sido da ordem de 4%, bastante mais modestas das médias desde 1960 e sobretudo das verificadas no período dourado dos mercados acionistas emergentes, entre 1990 e 2010.
O crescimento entre 1960 e 2010 deveu-se sobretudo à eliminação de tarifas e quotas que recentemente estão a níveis mínimos.
#3 A evolução do dólar
O gráfico seguinte mostra que os mercados emergentes evoluem inversamente ao dólar:
Os mercados emergentes têm pior desempenho do que os mercados desenvolvidos quando o dólar se valoriza, como sucedeu nos períodos entre 1995 e 2001 e entre 2015 e 2019, e melhor desempenho quando o dólar se desvaloriza, situação verificada entre 2003 e 2002 e 2008.
Quando o dólar se fortalece, as economias de mercado emergentes sentem-se normalmente pressionadas a aumentar as taxas de juro para defender as suas moedas, o que muitas vezes se revela negativo para o desempenho do mercado de capitais.
Há 3 fatores que explicam que um dólar forte tenha um efeito negativo nos mercados emergentes: custos das dívidas, fluxos de capitais e exportações.
Durante períodos de baixas taxas de juro dos EUA, muitos governos e empresas dos mercados emergentes procuram aproveitar um dólar mais fraco para pedir dinheiro emprestado para financiar o crescimento e as necessidades orçamentais. Contudo, quando o dólar é forte, estes países ficam sob pressão uma vez que o reembolso das suas dívidas se torna mais caro.
A maioria dos mercados emergentes depende fortemente dos fluxos de capital estrangeiros para financiar os défices orçamentais ou de balança corrente. As taxas de juro mais elevadas nos EUA, normalmente associadas a um dólar mais forte, fazem com que o capital se afaste das economias emergentes e regresse aos EUA em busca de maiores retornos de investimento.
Além disso, muitas economias de mercado emergentes dependem igualmente das exportações de mercadorias para impulsionar o seu crescimento económico. Dado que a maioria das mercadorias tem preços em dólares, os exportadores de mercado emergentes perdem dinheiro em termos reais se a sua moeda nacional desvalorizar face ao dólar.
#4 Condições financeiras globais e fluxos de capitais
Vimos que os mercados emergentes estão muito expostos às condições financeiras globais e muitas das suas economias dependem dos fluxos de capitais externos para financiarem os seus desequilíbrios públicos e externos.
O gráfico seguinte mostra a evolução dos movimentos de capitais em percentagem do PIB para as economias emergentes entre 1975 e 2015:
Estes fluxos foram muito relevantes no passado, mas têm vindo a cair de forma acentuada desde 2012.
Desde 2012, há uma diminuição generalizada dos fluxos de capitais para todas as economias emergentes, mas os países mais atingidos têm sido a China e os restantes países asiáticos.
Desde 2011, as condições financeiras também não têm sido particularmente favoráveis nas economias emergentes:
Estas economias, e sobretudo a China, têm enfrentado condições financeiras mais restritivas dos que as economias desenvolvidas.