#R6 Temos as crises energética e de produtos agrícolas.
#R7 A dependência energética da Europa.
#R8 Temos o aumento de juros com países com elevado endividamento.
#R9 Ainda temos ainda uma crise pandémica.
#R10 Os retrocessos da globalização ou a fragmentação mundial.
#R11 A fome em África.
#R12 As cadeias de fornecimento, o “ioiô” de “start-stock” ou “reset” e “lockdowns”.
#R13 A contração monetária e o stress em mercados menos líquidos, como os de crédito e derivados.
Este é o segundo de três artigos sobre o exercício de construção de cenários de avaliação dos riscos e oportunidades dos mercados financeiros.
Tomámos a atual situação dos mercados para referência e exemplo deste exercício, em que os investidores, acionistas e obrigacionistas, estão a incorrer em perdas importantes.
É uma situação rica e complexa de eventos múltiplos e que atuam com forças intensas e em sentidos opostos.
Neste artigo continuaremos a desenvolver os riscos.
Na terceira e última parte abordaremos as principais oportunidades e faremos um balanço criterioso entre riscos e oportunidades, de modo a enfocarmos nas questões determinantes que impendem sobre os mercados financeiros.
#R6 Temos as crises energética e de produtos agrícolas.
A inflação deve-se ao aumento de preços das matérias-primas, sobretudo da energia e produtos agrícolas, e aos problemas das cadeias de fornecimento.
Estes aumentos das matérias-primas já vinham de trás, mas foram agravados pela guerra.
O aumento dos preços da energia traz-nos à memória as crises do petróleo de 1973 e 1983. O primeiro trouxe-nos estagflação e o segundo recessão.
Em artigos anteriores, desenvolvemos o tema do impacto do petróleo nos mercados.
O aumento dos preços produtos agrícolas atinge sobretudo às classes mais desfavorecidas e aos países mais pobres.
Os riscos das revoltas populares são maiores.
#R7 A dependência energética da Europa.
Nos últimos 20 anos a Europa criou uma grande dependência energética da Rússia. 40% das suas necessidades de energia são supridas pela Rússia.
Grande parte das infraestruturas de abastecimento de petróleo e gás europeias são para o uso de energia russa. As alternativas não são fáceis.
O petróleo é controlado pela OPEP+, que integra a Rússia.
O gás ainda é mais difícil pois a maioria dos países europeus não está preparada para mais gás liquefeito. Depende do gasoduto russo.
A Rússia ameaça o corte do fornecimento do gás. E o inverno está à porta.
Também já analisámos a dependência energética da Europa na Rússia, num artigo anterior.
#R8 Temos o aumento de juros com países com elevado endividamento.
Há países europeus com um elevado nível de endividamento, como Itália, Grécia e Espanha.
Há menos de 10 anos tivemos a crise das dívidas soberanas na zona Euro.
Esta só foi ultrapassada por uma maior solidariedade e coesão europeia, e taxas de juros baixas. Tão baixas que foram negativas nos últimos 5 anos.
O aumento dos juros reacende este tema. Fala-se de fragmentação europeia.
Vimos também a enorme instabilidade que viveu o Reino Unido, com o miniprograma económico não sustentado de Liz Truss e de Kwasi Qwarteng.
Mas não é só na Europa e nos países desenvolvidos.
Há países emergentes com uma grave crise financeira. O Sri Lanka faliu. O Paquistão, Gana, Tunísia, Egipto, e a Argentina estão com sérios problemas.
#R9 Ainda temos ainda uma crise pandémica.
A inflação e a guerra quase que nos fizeram esquecer a crise pandémica. Mas ainda a temos.
Podemos estar a passar para o estado de endemia nos países desenvolvidos, mas nos países em desenvolvimento ainda falta muito.
Apesar das melhoras e dos avanços, nunca sabemos o que o futuro nos reserva.
O risco de aparecimento de mutações do vírus mais infeciosas, resistentes ou mais gravosas não pode ser excluído.
Entretanto, a política de tolerância zero de covid na China provoca “lockdowns” sucessivos, continua a prejudicar a regularização das cadeias de abastecimento globais.
#R10 Os retrocessos da globalização ou a fragmentação mundial.
Com Donald Trump na presidência dos EUA foi desencadeada uma guerra comercial com vários países, designadamente com a China.
A mudança trouxe algum desanuviamento.
No entanto, tal ocorreu em plena pandemia.
Além disso, ressurgia a guerra pela tecnologia e cibernética entre as duas grandes potências mundiais, China e EUA.
Há uma ambição comum e uma desconfiança mútua que se manifesta desde a tecnologia 5G até aos computadores.
A guerra na Ucrânia traz novos dados.
A Rússia está arredada do comércio com o Ocidente. Hoje são as sanções, amanhã será a desconfiança e a libertação da dependência energética.
Resta ainda saber se o confronto entre a China e os EUA não aumentará a fragmentação mundial.
#R11 A fome em África.
A subida dos preços dos bens agrícolas e o bloqueio às exportações ucranianas agudizam a fome em África.
A Ucrânia é um dos maiores produtores de cereais e de óleo de girassol do mundo.
Muitos países africanos importam mais de 50% esses bens da Ucrânia. O bloqueio impede este comércio. São países pobres e a fome aumenta.
Não sendo um risco direto e com impacto forte, é um problema humanitário grave e pode criar focos de instabilidade geopolíticos importantes.
#R12 As cadeias de fornecimento, o “ioiô” de “start-stock” ou “reset” e “lockdowns”.
O problema das cadeias de fornecimento é saber se a questão se resume a estrangulamentos que a pandemia deixou ou se é mais grave e estrutural do que isso.
A pandemia trouxe paralisações da atividade e muita incerteza económica.
A disrupção foi forte. As fábricas pararam, o turismo (viagens, alojamento e restauração) caiu a pique, houve muitos despedimentos, e os retalhistas reduziram encomendas por precaução.
O PIB caiu mais de 20% num único trimestre e 5% num ano em muitos países ocidentais. A retoma foi igualmente brusca e forte. Agora admite-se uma possível recessão.
Nestas condições, é difícil planear e gerir bem as encomendas e os inventários.
As cadeias de abastecimento são globais. O regresso à normalidade custa. A reativação das empresas para a plena atividade demora tempo.
A agravar há ainda os “lockdowns” na China e a fragmentação mundial, anteriormente referidos.
#R13 A contração monetária e o stress em mercados menos líquidos, como os de crédito e derivados.
Os mercados estão mito sensíveis, pelo que aos mínimos sinais de perturbação ou instabilidade os movimentos são muito violentos.
Os exemplos do recente desempenho da ação do Credit Suisse e da volatilidade dos preços das obrigações do tesouro inglesas de muito longo são um bom exemplo.
Os riscos são maiores nos mercados menos líquidos, como os de crédito e dos derivados, a que se junta a elevada alavancagem que se desenvolveu no período em que o custo do dinheiro foi muito baixo.