Recordatório: O que é o PER?
O PER do mercado
A relação entre o PER do mercado e as taxas de rendibilidade futura do mercado de ações a médio e longo prazo
As vantagens do PER
As limitações do PER
Sendo as ações partes do capital das empresas, dando, por isso, direito aos resultados económicos distribuíveis, as principais métricas de avaliação centram-se na estimação desses resultados e na modelização da relação entre os preços das ações e os resultados das empresas
Os principais indicadores de avaliação são os resultados por ação ou “Earnings Per Share” (EPS) e o múltiplo do preço sobre os resultados ou “Price Earnings Ratio” (PER).
Tendo em conta a sua importância deste último indicador, não é de estranhar que o mesmo surja em diferentes artigos anteriores, com diferentes abordagens.
Este indicador surge no artigo em que descrevemos e caraterizamos o investimento em ações.
Num artigo subsequente apresentámos a definição, evolução e a importância dos EPS e também do PER para a avaliação das ações.
Noutro artigo, abordámos o PER na perspetiva da avaliação do valor justo do mercado.
Finalmente, num artigo mais recente, analisámos a relação entre as taxas de juros e estes dois indicadores.
A importância destes dois indicadores para o investimento em ações faz com que sejam objeto de uma análise desenvolvida em todas as perspetivas trimestrais dos mercados financeiros publicadas.
Recordatório: O que é o PER?
O PER é uma das medidas de avaliação das ações mais usadas.
O rácio de PER obtém-se pelo quociente entre o preço e os resultados por ação, mede o número de anos de resultados que o investidor precisa para recuperar o capital investido.
É a medida de avaliação dos mercados acionistas mais usada porque é simples de perceber e fácil de calcular.
Permite comparações entre ações e das mesmas ações em diferentes períodos do tempo.
O PER pode ser usado para avaliar ações individuais, cabazes ou grupos de ações, ou conjuntos alargados de ações, como por exemplo, os principais índices do mercado.
Ouvimos falar com frequência sobre o múltiplo de PER a que o mercado está a transacionar (normalmente o principal índice norte-americano S&P 500, mas pode ser aplicável a qualquer outro índice de mercado).
A este propósito vale a pena recordar as palavras sábias de Warren Buffett: “É muito melhor comprar uma excelente empresa a um preço justo do que uma empresa mediana a um preço excelente”.
O PER do mercado
O PER do mercado obtém-se dividindo o índice do mercado de ações pelos resultados das empresas desse índice.
Por definição, tal significa que o valor do índice do mercado lado resulta da multiplicação do correspondente valor do PER pelos resultados por ação das ações que o compõem (EPS desse índice).
O PER do mercado mais usado é o do S&P 500, dado tratar-se do principal índice do mercado acionista norte-americano, que tem um peso superior a 55% no mercado de ações global.
Assim, este índice constitui a referência de todos os índices acionistas mundiais, e qualquer direção ou variação no valor deste índice tem importância e é refletida em todos os restantes índices de mercado de ações.
Pode dizer-se que o PER representa o número de anos de resultados das empresas que é necessário para pagar o investimento no mercado acionista. Ou seja, um PER de 15 significa que são necessários 15 anos para reaver o investimento no mercado.
Assim, tudo o resto constante, quanto maior o PER (ou mais longo o retorno), mais caro estará o mercado, e vice-versa, quanto mais baixo o PER (ou mais rápido o retorno), mais barato o mercado.
Qual o PER que é usado: “Trailing” ou “Forward”?
O PER “Forward”, ou PER prospetivo (a prazo, ou previsto), usa os a projeção dos resultados futuros para calcular a relação preço/lucros.
O PER “Trailing”, ou PER retrospetivo (passado, ou observado), que é a forma padrão e mais usada da relação preço sobre os resultados, é calculado usando os últimos resultados (do passado mais recente).
O PER retrospetivo é calculado dividindo o valor de mercado atual, ou preço da ação, pelo lucro por ação nos 12 meses anteriores.
O PER prospetivo usa a estimativa do lucro por ação para os próximos 12 meses como divisor do valor do mercado atual.
A principal diferença entre os dois rácios é que o PER observado (“Trailing”) se baseia em estatísticas de desempenho reais, enquanto o PER a prazo (“Forward”) se baseia em estimativas de desempenho futuro.
Dum modo geral, quando os analistas se referem ao PER, estão a referir-se ao PER observado (“Trailing”).
Esta medida é considerada a mais fiável das duas métricas, uma vez que é calculada com base no desempenho real e não no desempenho futuro esperado.
O PER observado também ajuda os analistas a comparar períodos em diferentes anos para obter uma medida mais precisa e atualizada do valor relativo em cada momento.
No entanto, pode revelar-se uma estimativa limitada ou defeituosa, uma vez que os fatores de desempenho, os custos e os lucros de uma empresa mudam ao longo do tempo; ou seja, o desempenho passado de uma empresa não sinaliza comportamento futuro.
O facto do valor dos lucros por ação se manter constante enquanto os preços das ações flutuam é também um problema, sobretudo para o PER observado (“Trailing”).
O PER a prazo (“Forward”) é favorecido por analistas que acreditam que as decisões de investimento são melhor tomadas com base em estimativas do futuro de uma empresa do que no desempenho passado.
As estimativas usadas para o PER a prazo são obtidas da divulgação de resultados de uma empresa ou dos analistas.
Como o PER a prazo depende de ganhos futuros estimados, está sujeito a erros de cálculo e/ou aos enviesamentos dos analistas, ou das estimativas das empresas.
É útil para os investidores considerarem ambos os cálculos do rácio do PER, e confrontar as observações com as estimativas feitas anteriormente.
A relação entre o PER do mercado e as taxas de rendibilidade futura do mercado de ações a médio e longo prazo
O PER é um indicador de avaliação importante porque existe uma relação negativa ou inversa entre o valor do PER e a rendibilidade do investimento no mercado acionista.
O gráfico seguinte mostra a relação inversa entre o PER de Schiller e a rendibilidade do mercado nos 20 anos seguintes, apresentada pelo próprio Schiller no seu livro Irrational Exuberance:
O PER de Schiller obtém-se dividindo o valor atual do mercado pela média dos resultados ajustados pela inflação nos últimos 10 anos.
Esta memória de 10 anos é usada para alisar os períodos e os ciclos, e evitar as oscilações e os picos de volatilidade, de forma a robustecer do PER enquanto métrica de avaliação.
Quanto maior o PER menor será a taxa de retorno média anual do mercado nos 10 anos seguintes, e vice-versa.
Dum modo geral, um PER de 20x corresponde a uma taxa de retorno média anual de quase 5%, enquanto um PER de 10x corresponde a uma taxa média anual de 10%, nos 10 anos subsequentes.
De notar que se trata de valores médios, e que a dispersão das observações é grande.
As vantagens do PER
O PER é uma medida única, simples e fácil de calcular.
Pode ser calculado a qualquer momento, por qualquer pessoa.
Basta ter dois valores – o valor do índice e o do respetivo EPS – e fazer o cálculo.
O valor do índice S&P 500 obtém-se em qualquer site noticioso e o EPS do S&P 500 também é divulgado com frequência nalguns desses sites.
Se quisermos ter uma versão mais atualizada do EPS podemos usar a informação disponibilizada, entre outras, pela Yardeni Research ou pela Factset Research:
https://www.yardeni.com/pub/yriearningsforecast.pdf
As limitações do PER
O PER é um indicador estático, instantâneo.
Divide simplesmente o valor pelos resultados correntes (presente ou do passado recente) Não é uma medida prospetiva.
Nessa medida, distancia-se do valor para o acionista.
O acionista tem direito aos resultados económicos futuros das empresas.
Por isso, os modelos de avaliação mais usados são que projetam os cash-flows futuros das empresas e descontam os esses valores obtidos para o momento presente à taxa de rendibilidade exigida pelos investidores.
É esta análise e avaliação prospetiva que não é capturada pelo PER.
A forma de compensar ou ajustar esta limitação será considerar avaliar o PER duma forma dinâmica, projetando-o para um futuro mais distante.
É por isso que muitos profissionais analisam o PER a par da taxa de crescimento dos resultados ou EPS para os 3 ou até 5 anos seguintes (com toda a incerteza contida nesta análise).
Como veremos mais adiante, os dois rácios mais usados como alternativa ou em complemento ao PER, o CAPE e o PEG, focam-se e procuram precisamente corrigir esta questão.
Numa altura de mudança de ciclo económico e financeiro, o PER tem normalmente grandes variações, afastando-se muito dos seus valores médios ou de referência.
Por exemplo, o PER desce abaixo dos 10x numa recessão económica ou numa crise profunda repentina, e ultrapassa 25x num boom ou fase de euforia do mercado.
Nestes períodos, o PER é obviamente muito volátil, pelo efeito de ajustamento das expetativas e previsões dos analistas e investidores à nova realidade económica e do mercado.