400 milhões de pessoas chinesas estão por detrás do crescimento da classe média mundial nos últimos anos, poupam como ninguém e ainda investem fundamentalmente em imobiliário e produtos bancários
A importância e o peso económico da China no mundo
A riqueza, a taxa de poupança e o crescimento da classe média nas famílias chinesas
A alocação de ativos das famílias chinesas
A sua dimensão e influência a nível mundial, assim como o seu rápido desenvolvimento económico nos últimos 30 a 40 anos, desde o movimento de abertura de Deng Xiaoping até aos nossos dias, só comparável aos 200 anos que se seguiram à Revolução Industrial na Europa e nos EUA, tornam imprescindível conhecer um pouco da China na perspetiva do investimento financeiro do nosso património.
É importante fazê-lo sob dois ângulos diferentes: do ponto de vista interno, de dentro para fora, no sentido de sabermos a situação e os comportamentos dos governantes, das empresas e sobretudo das famílias relativamente aos mercados financeiros, e do ponto de vista externo, de fora para dentro, para conhecermos como a comunidade internacional perceciona o mercado de capitais chinês.
Neste artigo iremos debruçar-nos sobre a ótica interna.
A importância e o peso económico da China no mundo
A China é hoje a 2ª maior economia do mundo logo a seguir aos EUA, mas é a maior economia mundial em termos de paridade de poder de compra, superando os EUA.
Em 2018, o seu PIB atingiu $13,4 biliões (milhões de milhões) e o dos EUA $20,5 biliões. Nesse mesmo ano, em termos de paridade de poder de compra o PIB chinês foi de $25,3 biliões e o dos EUA dos mesmos $20,5 biliões.
Recorde-se que em 1980 a China era somente a 7ª maior economia com um PIB de $305,3 bilhões (mil milhões), e o dos EUA era de $2,9 biliões.
Em 1978, a China iniciou um processo de reformas de mercado, passando de ser uma economia fechada e de planeamento central para se tornar num centro económico industrial e exportador a nível global, com crescimentos de 10% ao ano.
Hoje a China já é muito mais do que a fábrica mundial, pelo crescimento do peso do setor dos serviços.
No gráfico seguinte é notória a extraordinária evolução económica chinesa nas últimas décadas, que ressalta melhor quando fazemos a comparação com os EUA e a India:
A China teve um crescimento do PIB nos últimos 30 a 40 anos só comparável aos 200 anos das economias da revolução industrial, aproximando-se a passos largos dos EUA, a maior potência económica desde 1871.
As suas taxas de crescimento do produto são assinaláveis:
Desde 1978, as taxas de crescimento do PIB têm superado todos os anos as dos EUA, com níveis médios de 10% ao ano.
A importância da China também resulta de ser a economia mais populosa do mundo:
A China tem 1.4 mil milhões de habitantes, quase 5 vezes mais do que os EUA.
O crescimento do produto tem sido bem superior ao da população pelo que o GDP per capita também tem evoluído positivamente:
A China tem tido um ritmo de crescimento do PIB per capita muito notável, aproximando-se atualmente dos $8 mil.
A taxa de crescimento média da riqueza na China a taxas correntes nestes 17 anos foi superior a 8% por ano, bem acima dos 6% por ano da América do Norte, dos 4% por ano da India dos 1% por ano da Europa e dos pouco mais de 3,5% por ano no Mundo.
Em termos de taxas constantes, o crescimento médio da riqueza na China no período foi de 8% ao ano, ultrapassado pelos 10% ao ano da India e a com a América Latina quase a par, mantendo-se os 6% ao ano da América do Norte, subindo a Europa para 3,8% ao ano e o Mundo para quase 5,5% ao ano.
A riqueza, a taxa de poupança e o crescimento da classe média nas famílias chinesas
No gráfico seguinte vemos a distribuição da riqueza pelas famílias na China, India e EUA:
A China tem 400 milhões de pessoas com riqueza superior à média, de $8 mil, e mais de 200 milhões com riqueza acima dos $18 mil.
O crescimento da classe média mundial nos últimos anos deve-se sobretudo à China:
A classe média mundial (entendida como as famílias com ativos financeiros líquidos entre 30% e 180% do seu valor médio mundial de €25,360, ou seja €7,600 e €45,600) passou de 440 milhões no ano 2000 para 1,040 milhões em 2018. 40% dessa classe média vive na China, é chinesa, correspondente a mais de 400 milhões de pessoas.
A classe média alta inclui as famílias com ativos financeiros líquidos acima do limite superior, isto é, a €45,600. Quase 25% das 580 milhões de famílias vivem na China, equivalentes a 150 milhões.
As famílias chinesas têm altas taxas de poupança:
As taxas de poupança das famílias na China rondam os 40%, o dobro d valor do país desenvolvido que mais poupa, a Suíça, e muito superior aos 2% a 10% dos restantes países mais avançados.
As famílias chinesas poupam mais do que as dos restantes países asiáticos com exceção de Singapura, acima dos mais avançados tais como a Coreia do Sul e Taiwan, assim como dos em desenvolvimento, como a Indonésia, a Malásia as Filipinas e a Tailândia.
Têm sido feitos muitos estudos para encontrar as explicações para estas altas taxas de poupança das famílias, com as seguintes conclusões:
- Fatores demográficos conjugados com o ciclo de vida: a política de um filho, diminui as necessidades de consumo e aumenta a poupança para viver a velhice, e o desequilíbrio de género leva as famílias a pouparem para concorrerem ao melhor dote de casamento;
- Motivos preventivos: a incerteza do emprego e do rendimento decorrentes da mudança para uma economia de mercado, as dúvidas relativamente às pensões trazidas pela reforma do sistema de pensões e diminuição da proteção social, e o aumento das despesas de educação e saúde;
- O enorme desejo de possuir casa e a forte evolução dos preços das casas desde a abertura do mercado à iniciativa privada.
A alocação de ativos das famílias chinesas
Estas poupanças são canalizadas sobretudo para a compra de habitação ou ativos imobiliários, em detrimento dos mercados financeiros:
As famílias chinesas têm quase 74% do seu património representado por imobiliário e apenas 11% em ativos financeiros, o que compara com os 34% em imobiliário e os 42% em ativos financeiros das famílias norte-americanas.
Deste facto resulta que a China seja um dos países como a maior taxa de propriedade de habitação:
Quase 90% das famílias chinesas são proprietárias da sua habitação.
Nos últimos anos, os preços das casas na China têm subido a taxas de mais de 10% ao ano nas principais cidades.
O preço por metro quadrado da habitação nas principais cidades chinesas supera os das maiores cidades norte-americanas.
A China ainda está longe dos níveis de ativos financeiros per capita doutros países da região:
Os ativos financeiros brutos per capita na China são de $17,220, superiores à média asiática de $14,670, mas muito inferiores aos $125,960 de Singapura, $87,100 de Taiwan ou $55,960 da Coreia do Sul.
Em termos de composição desses ativos financeiros, a situação não é assim tão diferente da dos restantes países da região:
A percentagem mais elevada de títulos é enganadora pois, na verdade, trata-se de produtos de investimento bancários, nalguns casos com garantias dadas pelos bancos, pelo que o que predomina são depósitos.
Nos últimos 17 anos a evolução do mercado de ações chinês foi bastante positiva:
O mercado acionista chinês valorizou-se cerca de 200% desde 2000, mas com bastante volatilidade, típica de mercados emergentes, e sem esquecer que se trata de um país com mercados financeiros incipientes e ainda com bastantes controlos de movimentos de capitais.