Defendemos que o investidor comum deve ter uma carteira de investimentos maioritariamente constituída por fundos indexados, mas que a mesma pode ser complementada por investimento direto em ações
O racional e o enquadramento do investimento ativo em ações de crescimento secular ou vintage
A saga da busca das FAANMG escondidas (e muitas outras)
Esta estratégia de investimento direto em ações tem como base a estratégia geral de gestão de investimentos “core” e satélite
O programa desta série de investir em ações
Este é o primeiro artigo de uma série sobre o investimento direto em ações, com o objetivo de apoiar o investidor na execução e gestão deste tipo de investimento.
Nesta série iremos apresentar o racional e o enquadramento que preconizamos para esse investimento direto em ações, objetivos e as regras desse investimento, critérios para selecionar ações, métodos e indicadores para avaliação de empresas, entre outros.
Neste artigo começamos por abordar as razões, as motivações e a estratégia do investimento em ações.
“Given a 10% chance of a 100 times payoff, you should take that bet every time.” — Jeff Bezos
“Buy into a company because you want to own it, not because you want the stock to go up.” – Warren Buffett
A nossa opinião é de que os investidores individuais devem investir a maior parte do seu património em fundos de investimento, indexados e de baixo custo.
Consideramos que a alocação pelas principais classes de ativos, ações e obrigações, deve fazer-se de acordo com o prazo do investimento e o perfil do investidor, sabendo-se que esta é a principal determinante do desempenho.
Entendemos que os investidores devem ainda prosseguir um bom nível de diversificação dos investimentos, assegurando a distribuição por geografias e em termos dos próprios títulos e/ou das empresas.
A composição do mercado acionista mundial pode constituir uma boa referência para a repartição geográfica. E a maior parte dos maiores fundos de investimentos contém mais de 50 títulos, o que é considerado um bom grau de diversificação por valores mobiliários.
Entendemos que os investidores devem preferir os fundos indexados aos principais índices de mercado, que melhor repliquem a alocação e diversificação pretendidas, e de baixo custo.
Apesar disto, não queremos dizer que os investidores não devam alocar uma parte minoritária do seu património a outros investimentos financeiros, incluindo outro tipo de fundos de investimento, ou até ações individuais.
Em particular e naqueles termos, consideramos que o investidor particular pode e deve fazer o investimento nalgumas ações, seja diretamente ou através de fundos ativos, procurando obter rendibilidades superiores às do mercado para níveis de risco comportáveis.
Um bom exemplo de ações com desempenho superior nas últimas duas a três décadas foram as FAANMG, mas há mais.
O racional e o enquadramento do investimento ativo em ações de crescimento secular ou vintage
Para obtermos as altas rendibilidades nos investimentos em ações temos de seguir um processo planeado e estruturado a médio e longo prazo.
Devemos poupar para investir o mais cedo possível e devemos investir considerando os nos objetivos financeiros, perfil de risco e situação e capacidade financeira.
Tendo em conta que podemos começar a investir quando temos 20 anos (ou até menos) e que podemos viver até aos 90 (ou até mais), os nossos investimentos em ações podem ter um prazo de 70 anos (ou mais, na verdade, se deixarmos esse património em herança para as futuras gerações).
Significa que temos um prazo muitíssimo longo para investir.
Mesmo que não queiramos assumir a totalidade dos 70 anos, pelo menos, conseguimos perspetivar um período de 30 a 50 anos, correspondente ao tempo de uma geração de investimento, o que continua a ser muito longo.
Com um horizonte de 30 a 50 anos pela frente podemos perfeitamente viver com os riscos de flutuações dos mercados acionistas.
Durante este período, iremos vivenciar muitos ciclos de mercado, uns positivos e outros negativos, sabendo que, a história nos diz que no final os nossos investimentos estarão mais valorizados.
Segundo a história financeira, os ciclos positivos duram mais tempo e resultam em maiores valorizações do que as quedas dos ciclos negativos.
Em média, desde 1926 até hoje, as rendibilidades das ações de grandes empresas são de 10% ao ano, o que em 30 a 50 anos resulta numa valorização de 17 a 117 vezes dos capitais investidos, respetivamente.
Investir com rendibilidades de 10% ao ano e riscos muito diversificados é muito bom, sob qualquer prisma.
Aliás, consideramos que é muito difícil, se não mesmo impossível fazer melhor, de forma sistemática e consistente, sendo essa uma das razões fundamentais para recomendarmos o investimento em fundos índice dos principais mercados (a outra é o baixo custo).
Mas nos últimos 30 anos, ou em períodos de várias últimas décadas, também houve algumas ações de empresas que fizeram bastante melhor do que a média. Não estamos a falar de ações de pequena dimensão, mas sim de empresas médias e grandes.
A saga da busca das FAANMG escondidas (e muitas outras)
A título de exemplo, no gráfico seguinte vemos as 20 ações do índice S&P 500 que mais se valorizaram nos últimos 30 anos e a sua rendibilidade anualizada:
Estas 20 ações tiveram valorizações que atingiram o mais do dobro da valorização do índice S&P 500, nalguns casos o triplo.
Uma taxa de rendibilidade anual de 20% durante 30 anos transforma 10,000 de capitais investidos em 2,37 milhões, 10 vezes mais do que os 174,5 mil que obteríamos se a rendibilidade fosse os 10% da média do S&P 500.
Mais importante, em 30 anos, uma ação com rendibilidade de 20% ao ano tem uma valorização de 13,6 vezes a de uma ação com a rendibilidade de 10%, igual à média do mercado. Ou seja, investir nessa ação é igual a investirmos de mais de 13 ações médias.
Podemos ver que para rendibilidades de 30% o capital atingido em 30 anos seria de 26,2 milhões, assim como que para rendibilidades de 20% e um prazo mais longo de 40 anos o capital seria de 14,7 milhões.
Mas vale a pena pensar ir atrás só das melhores 20 ações? Seria um exercício difícil, complicado, se não impossível.
Não, e por duas razões.
A primeira é que uma diferença que parece pequena de apenas 2% de rendibilidade anual faz com que o acréscimo de ganho seja considerável. Tal deve-se ao efeito da capitalização por períodos longos.
A segunda razão é que há centenas de ações que têm rendibilidade superior ao mercado. Um estudo recente de Hendrik Bessembinder mostrou que entre 1926 e 2019 houve mais de 1.000 entre as 26.000 do S&P 500 que fizeram bem melhor do que o índice.
Por isso e muito embora a diversificação dos riscos nos conduza a aconselhar investir a maior parte da componente acionista do nosso património em fundos sobre os principais índices do mercado acionista, não devemos ignorar esta realidade, pelo que não podemos ser contra o investimento direto nalgumas empresas.
Pelo contrário, consideramos que devemos fazê-lo, mas com regras simples, bem definidas e melhor implementadas.
Esta série de artigos que agora se inicia irá abordar precisamente estas regras de investimento direto em ações a longo prazo para se alcançar maiores valorizações do que o mercado.
Dito por outras palavras, procuramos investir nas empresas ganhadoras dos próximos 20 a 30 anos.
É um exercício muito difícil, mas não é impossível.
E com algum método, as probabilidades de sucesso aumentam substancialmente.
O que queremos é identificar uma ou mais empresas que venham a constar da lista das melhores dos próximos 20 a 30 anos.
O nosso futuro ou os nossos descendentes agradecem este exercício!
Nos posts seguintes veremos todas estas regras com mais detalhe.
Por ora, basta referir que deve ser para uma percentagem reduzida e controlada do património ou investimento total acionista, entre 10% e 20%, numa perspetiva de muito longo prazo, ou seja dos 20 ou até os 30 anos, e não de trading, repartindo os investimentos por várias empresas com grande potencial de valorização e que já possuam alguma dimensão de mercado.
A separação destes investimentos ativos e complementares dos investimentos indexados e principais é essencial para não misturarmos, marcarmos bem as diferenças e gerirmos cada um destes investimentos à sua maneira.
Aliás, esta ideia de combinar dois grandes grupos de investimentos, fundos de investimentos índice, por um lado, e investimentos ativos (sejam fundos, ações, etc.), por outro, está na base da estratégia de investimento chamada de core-satélite.
Esta estratégia reconhece as diferenças e combina as vantagens de cada tipo de investimentos, passivos e ativos.
Utiliza os fundos indexados como o core da carteira e os investimentos ativos como o seu satélite.
Por um lado, os investimentos indexados ou de gestão passiva e de baixo custo refletem a rendibilidade e o risco controlável do segmento de mercado pretendido, mas não oferecem a oportunidade de desempenhos superiores.
São a forma de com risco controlado e a baixo custo, captar as rendibilidades do mercado (beta) a longo prazo.
Devem ser usados como o core ou a posição nuclear e principal da carteira e para os investimentos em mercados eficientes, por exemplo em empresas com grandes capitalizações nos mercados desenvolvidos.
Por outro, os investimentos ativos são uma forma para se obterem desempenhos superiores ao mercado (alfa).
Estes investimentos ativos são usados como satélites ou a posição secundária da carteira relativamente a investimentos em que o investidor considere que existem competências e capacidades para poderem gerar rendibilidades superiores ao mercado.
Neste grupo podemos englobar os fundos ativos, os investimentos diretos em títulos, etc.
É muito importante separar estes dois grupos de investimento para se ser bem-sucedido, pois a forma de decidir e gerir cada um é diferente e reside na distinção e associação passivo/core e ativo/satélite.
Em conclusão, a estratégia de investimento em core e satélites é um método de construção de carteiras concebido para minimizar os custos, a tributação e a volatilidade, proporcionando ao mesmo tempo uma oportunidade para superar o amplo mercado bolsista no seu conjunto.
O núcleo da carteira consiste em investimentos passivos que acompanham os principais índices de mercado, como o Standard and Poor’s 500 Index (S&P 500). As posições adicionais, conhecidas como satélites, são adicionadas à carteira sob a forma de investimentos geridos ativamente.
Esta estratégia core e satélite que tem como objetivo conciliar o melhor de 2 mundos pode ser seguida para combinações de investimentos passivos e ativos de vários tipos, e não só para o investimento direto em ações como aqui foi ilustrado.
Uma hipótese é tomar como core os fundos dos principais ativos e mercados mundiais e como satélites ativos e mercados secundários, ou até os investimentos alternativos:
Outra possibilidade, com base em combinações de ETF, é usar o ETF sobre o portefólio de mercado mundial como core e os ETF de países, setores, fatores e matérias-primas como satélites: