O aumento do PIB per capita elevou a China de uma economia de rendimento baixo para uma economia de rendimento médio-alto
O desempenho económico em termos de comparações internacionais ainda consegue ser mais impressionante
As razões do milagre do crescimento económico
Os problemas dos últimos 6 anos
Este artigo faz parte de uma série dedicada ao investimento em ações chinesas.
No primeiro artigo, fez-se uma introdução geral ao tema, incluindo uma síntese do notável desempenho do crescimento e desenvolvimento económico nas últimas 4 décadas, assim como os desafios que tem enfrentado sobretudo a partir de meados de 2015.
Neste segundo artigo iremos desenvolver os aspetos do forte crescimento económico da China nas últimas 4 décadas.
Em artigos anteriores já tínhamos desenvolvido a dimensão e o peso da economia chinesa em termos mundiais, do seu enriquecimento nos últimos anos, assim como a convergência relativamente aos países mais desenvolvidos.
O crescimento económico chinês foi de 9% ao ano nas últimas quatro décadas, apesar da desaceleração dos últimos anos
O desempenho económico da China tem sido excecional nas últimas três décadas, com um crescimento alto notável e persistente.
Este crescimento elevou a economia de uma posição de rendimento baixo para uma de rendimento médio-alto.
O PIB da China foi de US$ 18,3 biliões em 2022, 73% do PIB dos Estados Unidos e 10 vezes mais do que os 7% do PIB americano registados em 1990.
O rendimento per capita da China é agora de cerca de US $ 13.000, aproximadamente 17% do rendimento per capita dos EUA, que compara com menos de 2% em 1990.
Na última década e meia, a China tem sido o principal motor do crescimento económico mundial, representando 35% do crescimento nominal global do PIB, enquanto os Estados Unidos representam 27%.
Durante décadas, desde que a China se reabriu ao mundo em 1978, foi uma das principais economias de crescimento mais rápido do planeta:
Entre 1991 e 2011, cresceu 10,5% ao ano.
A expansão desacelerou durante o governo do líder chinês Xi Jinping, mas ainda estava em média 6,7% na década até 2021.
A trajetória descendente do crescimento inicia-se a partir da Grande Crise Financeira e acentua-se a partir de 2016:
O aumento do PIB per capita elevou a China de uma economia de rendimento baixo para uma economia de rendimento médio-alto
Este ritmo de crescimento económico refletiu-se também em termos do enriquecimento da população, ou no aumento do produto per capita:
A China atingiu um PIB per capita próximo de US$ 13.000 em 2023, que compara com US$ 7.051 uma década antes e US$ 163,9 em 1962.
A taxa de crescimento anual do PIB per capita situou-se acima de 6% entre 1980 e 2010, estando agora nos 3,2%:
O desempenho económico em termos de comparações internacionais ainda consegue ser mais impressionante
O crescimento económico chinês ainda é mais assinalável quando o comparamos com outros países:
Desde 1992, a China registou uma taxa de crescimento média anual do PIB de 9%, que compara com uma taxa de 2% nos EUA, de pouco mais de 1% na Zona Euro e de 0% no Japão.
Em termos de rendimento per capita, o progresso também é muito acentuado numa base comparativa:
A evolução da China nos últimos 40 anos é formidável quando comparada com os EUA, embora o seu nível ainda esteja muito distante, o que pode ser revelador do seu potencial:
A China passou de um rendimento per capita de $307 dólares em 1980 para $12,359 em 2021, 40 vezes mais (e este progresso concentrou-se, sobretudo, apenas nos últimos 30 anos)
No mesmo período o rendimento per capita dos EUA passou de $ 12,553 para $69,231, pouco mais de 5 vezes.
O rendimento per capita da China era apenas 2,4% do norte-americano em 1980 (e de somente 1,4% em 1990!), sendo hoje 18% (ainda muito distante, é certo).
O rendimento per capita chinês é muito baixo relativamente à grande maioria dos países da OCDE:
O rendimento per capita chinês está nos $13,000 enquanto o da média dos países da OCDE se situa acima dos $43,000.
As razões do milagre do crescimento económico
Este crescimento económico deveu-se a uma série de reformas desenvolvidas após a queda de Mao Tsé-Tung, iniciadas por Deng Xiaoping e prosseguidas pelos seus líderes subsequentes:
A China é economia de mercado socialista, em desenvolvimento, de rendimento médio-alto, que incorpora políticas industriais e planos estratégicos quinquenais.
É uma economia que possui empresas do setor público, empresas maioritariamente estatais (SOE) e empresas de propriedade mista, bem como um grande setor privado nacional e abertura a empresas estrangeiras.
O investimento – público e privado – e as exportações são os principais motores do crescimento económico na China, mas o governo chinês também tem enfatizado o consumo interno.
É o maior parceiro comercial mundial.
A China tem um crescimento sustentado devido às exportações, ao seu sector industrial e à mão-de-obra de baixos salários.
A China tornou-se uma potência industrial, indo além dos sucessos iniciais em setores de baixos salários, como vestuário e calçado, para a produção cada vez mais sofisticada de computadores, produtos farmacêuticos e automóveis.
Este processo de crescimento foi acompanhado por um fenómeno intenso de urbanização, com um enorme movimento da população chinesa dos campos para as cidades:
Em 1980, a população urbana não atingia 200 milhões de pessoas. Hoje, esta população aproxima-se do um milhar de milhão de pessoas.
A China retirou mais pessoas da pobreza extrema do que qualquer outro país na história. Entre 1978 e 2018, a China reduziu a pobreza extrema em 800 milhões de habitantes.
Os problemas dos últimos 6 anos
Nas últimas 4 décadas tivemos taxas de crescimento económico muito altas, um forte aumento do PIB per capita, da urbanização, da riqueza, da poupança e do investimento.
Porventura ainda mais impressionante do que ritmo, foi a duração deste ciclo de crescimento muito alto.
Todos sabemos que seria muito difícil mantê-lo por muito tempo, pelo efeito base, dos rendimentos decrescentes e sobretudo dos desafios das mudanças necessárias do modelo de desenvolvimento.
Nos últimos 7 anos o crescimento abrandou significativamente.
No princípio, pensou-se que esta desaceleração seria devida à pandemia de 2020, mas hoje admite-se que é mais estrutural.
Começaram a surgir algumas fraturas, fragilidades e vulnerabilidades no modelo de desenvolvimento económico, tais como as ineficiências e a baixa produtividade do investimento público e das SOE (que se manifestaram nas falências do setor da construção, entre outras), o envelhecimento demográfico, e os efeitos do retrocesso da globalização.
Nos próximos artigos iremos dissecar cada um destes aspetos e os reflexos relativamente ao interesse do mercado acionista chinês para o investidor estrangeiro.
Esta questão central da atratividade do mercado chinês é muito pertinente porque, como sabemos, investir bem é diversificar riscos, fazendo-o, sobretudo, nas maiores economias e empresas mundiais, e privilegiando aquelas que são líderes mundiais e de grande consumo, para pormos a economia a trabalhar para nós.