Não vamos longe só com depósitos ou contas poupança
Os casos: Alemanha, EUA, Japão, Reino Unido, Zona Euro e os países do G7
Não vamos longe só com depósitos ou contas poupança
O que ganhamos de rendimento com os depósitos e as outras aplicações de poupança? Uma taxa de juro, normalmente fixa e de curto prazo.
Achamos sempre que o valor dessa taxa de juro é muito baixo. Esta sensação tem aumentado nos últimos anos porque ultimamente as taxas de juro têm estado muito baixas, já há vários anos.
Mas para tomarmos decisões racionais precisamos de saber ou procurar medir o seu valor.
Ao contrário do que se passa com os investimentos financeiros, seja nos mercados acionistas ou obrigacionistas, as informações relativamente aos depósitos e a outras contas de poupanças são muito escassas.
A razão é simples: estas aplicações são contratadas diretamente com um dos nossos bancos, não existindo ainda informação sistemática e consistente que agregue os dados de todas estas inúmeras transações.
No entanto, embora dispersa, podemos encontrar alguma informação sobre este tema.
Alemanha
O banco central alemão publicou um estudo com a evolução das taxas de juros reais (deduzidas da inflação) dos depósitos e de outras contas poupança na Alemanha entre 1967 e 2015:
As taxas de juro reais praticadas nos depósitos a prazo mobilizáveis a qualquer momento (a encarnado) oscilaram entre +2% e -2% ao ano, sendo a sua média negativa ou abaixo de 0% ao ano. Só as taxas de juro reais dos depósitos a prazo, não mobilizáveis antes do vencimento, é que foram positivas, no período entre 1980 e 2003, da ordem dos 4% ao ano até 1995 e de 2% a partir desse ano; desde 2003 e excetuando alguns picos pontuais, estas taxas de juro são, em média, zero ou negativas. As taxas de juro reais dos depósitos à ordem foram quase sempre negativas desde que existem dados, de1997 até 2017.
EUA
Para os EUA, não existe uma série de dados tão longa das taxas dos depósitos e poupanças.
O gráfico seguinte mostra a evolução das taxas de juro dos Certificados de Depósito e das taxas efetivas do banco central norte-americano desde 1965 (a série dos CD’s foi descontinuada em meados de 2013):
Como vemos as taxas dos Certificados de Depósito são praticamente iguais às taxas de juro base do banco central, no caso o Federal Reserve Bank.
Afinal, estas taxas são as praticadas para as transações entre os vários bancos e o banco central, servindo como tal de referência para as taxas de juros praticadas nas operações interbancárias. Dum modo geral, como os bancos se financiam ou junto dos seus clientes ou junto de outros bancos, estas taxas acabam para se tornar as taxas de referência ou de base praticadas pelos vários bancos.
Esta taxa de juros foi na maioria do tempo entre 3% e 10% ao ano até 2009, com uma média próxima dos 5%. Como a taxa de inflação média foi de cerca de 3%, a taxa de juros real média terá sido da ordem de 2.
O gráfico seguinte mostra a evolução mais recente da taxa de juros efetiva do banco central:
Entre 2009 e 2016 a taxa de juros da FED foi fixada em 0% começando a subir gradualmente até atingir cerca de 2,5% ao ano atualmente, ainda abaixo da taxa de inflação.
Japão
O gráfico seguinte mostra a evolução das taxas de juro nominais praticadas nos Certificados de Depósito no Japão de 1980 até à data:
Após um período de taxas manifestamente positivas nos primeiros quinze anos, a partir de 1995 e até à data o Japão tem vivido um período de taxas de 0% ao ano. Este último é o período chamado de “estagflação” do Japão, caraterizado por falta de crescimento económico e deflação, e a que se associa como uma das principais razões o forte envelhecimento demográfico, que os restantes países desenvolvidos das velhas economias têm vindo a registar nos anos mais próximos.
Reino Unido
O gráfico seguinte mostra a situação das taxas de juro do banco central no Reino Unido desde 1970:
Num período inicial as taxas de juro nominais situaram-se entre 10% a 15% ao ano acompanhando a elevada inflação, baixando depois para o nível de 5% até 2009 e a partir de então têm estado próximas de 0%.
Zona Euro
Nos países da zona Euro só temos informação das taxas de juro aplicadas aos depósitos a prazo a partir de 2000:
Entre 2000 e 2010 as taxas de juro nominais dos depósitos a prazo situaram-se entre 4% e 2% e a partir de 2010 forma caindo até ficarem próximas de 0% ao ano desde 2015.
Países do G7
O gráfico seguinte ilustra bem o declínio das taxas de juro reais registado nos últimos anos nos países do G7:
Fonte: Real Interest Rates over the Long Run, September 2016, Federal Reserve Bank of Minneapolis
Em suma:
- As taxas de juros reais dos depósitos e poupanças (deduzidas da inflação) são marginalmente positivas, não chegando a 1% ao ano, exceto em períodos de inflação anormalmente elevada como ocorreu entre 1970 e 2000;
- Nos últimos anos, na maioria dos países desenvolvidos, as taxas de juro dessas aplicações estão próximas de 0% desde há alguns anos, sendo a exceção recente os EUA em que essa taxa está próxima da média histórica dos 2% ao ano, verificada em períodos de inflação normalizada em cerca de 2% a 3% ao ano;
- As taxas de juro destas aplicações tenderão a situar-se baixas devido ao crescimento económico moderado e ao envelhecimento demográfico, tal como sucede no Japão há cerca de quase três décadas.