Os outlook para 2023 dos principais bancos de investimento
Recessão nos EUA com probabilidade elevada, S&P 500 nos 4,000 pontos (o nível atual), com oscilações ao longo do ano, e taxa de juro das obrigações do tesouro americanas em baixa ligeira
JP Morgan: 80% de probabilidade de recessão entre os primeiros trimestres de 2023 e de 2024
Goldman Sachs: S&P 500 nos 4,000, com mínimos de 3,600, ou 3,150 em caso de recessão profunda
Morgan Stanley: S&P 500 nos 3,900, com mínimos de 3,600 no primeiro trimestre, ou 3,000-3,200 se suporte quebrado
Bank of America: S&P 500 nos 4,000, com pessimista nos 3,000, e otimista nos 4,600
Os outlook para 2023 dos principais bancos de investimento
Esta semana começaram a ser publicados e divulgados pela imprensa os relatórios sobre as perspetivas dos mercados financeiros para 2023 dos principais bancos norte-americanos: JP Morgan, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of America.
Todos os anos, os investidores individuais devem fazer uma avaliação do posicionamento dos seus investimentos e este é o momento oportuno para o fazerem, tendo por base um balanço do corrente ano e as perspetivas para o próximo.
Neste artigo, começamos por apresentar as principais conclusões de uma análise conjunta das várias opiniões, passando em seguida para mais algum desenvolvimento sobre a posição de cada um, e concluindo as ideias com as nossas recomendações relativamente aos investimentos.
No ano passado, por esta altura, os preços alvo para o S&P 500 em final de 2022 foram os seguintes: JP Morgan (4,400); Goldman Sachs (5,100); Morgan Stanley (4,400); e Bank of America (4,600).
Recorde-se que estes níveis foram definidos antes da guerra da Ucrânia, e com uma inflação de 7% ainda tida por alguns como temporária e a não justificar grandes subidas de juros.
Desde estão, estes bancos têm vindo a rever estes níveis em baixa, sendo os mais negativos a Morgan Stanley e o Bank of America.
Como é habitual, estes exercícios não consideram quaisquer alterações de fatores exógenos, atuais ou potenciais, incluindo mudanças no contexto geopolítico, em particular da guerra da Ucrânia.
Em nossa opinião, é interessante e importante considerar e acompanhar a opinião dos grandes bancos relativamente à economia e aos mercados financeiros em geral.
Pelo contrário, somos bastantes críticos sobre o valor das suas recomendações relativamente a títulos individuais.
Recessão nos EUA com probabilidade elevada, S&P 500 nos 4,000 pontos (o nível atual), com oscilações ao longo do ano, e taxa de juro das obrigações do tesouro americanas em baixa ligeira
As conclusões comuns às várias perspetivas dos bancos são:
O tema económico dominante será o combate à inflação pela política monetária restritiva, tendo como consequência provável uma recessão económica
A probabilidade de recessão situa-se entre 50% a 80%, podendo ocorrer entre o 2º trimestre de 2023 ou o primeiro trimestre de 2024
A recessão será diferente do habitual, mais suave e mais curta do que as anteriores, devido à boa situação económica e financeira das famílias e empresas
O crescimento económico anual será muito baixo, cerca de 1%, mas há uma grande dúvida e dispersão quanto à inflação no final de 2023
O S&P 500 terminará o ano de 2023 à volta dos 4,000 pontos, o atual nível, mas com bastantes oscilações, podendo cair até aos 3,600 pontos (média móvel dos 200 dias), e atingir os 3,000 a 3,300 num caso extremo, no primeiro ou no segundo trimestre
As taxas de juro das obrigações do tesouro a 10 anos irão situar-se cerca dos 3,5% no final de 2023, mais baixo do que os atuais 3,7%
O dólar atingiu o valor mais alto em 2022 e cairá em 2023
JP Morgan: 80% de probabilidade de recessão entre os primeiros trimestres de 2023 e de 2024
A equipa de economistas do JP Morgan liderada por Bruce Kaufman considera que a economia americana enfrenta 4 cenários prováveis, não havendo nenhum muito favorável, estabelecendo a probabilidade de se evitar uma recessão em 20%.
Os cenários variam consoante o tempo em que a recessão ocorre, o trajeto da política da FED e as repercussões na economia mundial.
No cenário mais provável, com 32%, a economia tem uma contração na segunda metade de 2023.
No cenário com a segunda maior probabilidade, de 28%, a recessão surge no final do ano de 2023 ou princípio de 2024.
No pior cenário, com 20% de probabilidade, a economia entra em recessão na primeira metade de 2023.
O cenário mais positivo, com 20%, é de uma aterrizagem suave, em que a FED consegue fazer descer a inflação sem grandes danos sobre a economia.
Goldman Sachs: S&P 500 nos 4,000, com mínimos de 3,600, ou 3,150 em caso de recessão profunda
O estratega David Kostin e a sua equipa consideram como cenário base uma aterrizagem suave, com um crescimento abaixo do potencial e um aumento de 0,5% na taxa de desemprego.
Neste cenário, preveem que o S&P 500 termine 2023 nos 4,000, ao nível atual, com um crescimento de resultados próximo de zero.
Os resultados por ação do S&P 500 serão de $224 e o múltiplo do PER de 17x.
A previsão é de que o S&P 500 comece por cair até aos 3,600 pontos no primeiro trimestre, uma desvalorização de 10% face aos níveis atuais, com a FED a terminar o ciclo de subida de taxas de juro em maio, iniciando-se uma subida do mercado até ao fim do ano.
Caso se verifique um cenário recessivo o S&P 500 poderá cair até ao nível de 3,150.
Morgan Stanley: S&P 500 nos 3,900, com mínimos de 3,600 no primeiro trimestre, ou 3,000-3,200 se suporte quebrado
Mike Wilson, o estratega da Morgan Stanley, e a sua equipa, veem o S&P 500 nos 3,900 entre junho e o final do ano, caindo até aos 3,600, a média móvel dos últimos 200 dias, no primeiro trimestre de 2023, coincidente com o fim do “bear market”.
No entanto, consideram que se este nível suporte de 3,600 for quebrado, o S&P 500 poderá cair até aos 3,000-3,200.
Bank of America: S&P 500 nos 4,000, com pessimista nos 3,000, e otimista nos 4,600
Savita Subramanian, responsável pela estratégia de ações americanas quantitativa do Bank of America, e a sua equipa, preveem que o S&P 500 feche o ano de 2023 nos 4,000 pontos, o nível atual.
No cenário pessimista veem o S&P 500 nos 3,000, e no cenário otimista nos 4,600.
Admitem que o mercado viverá alguma turbulência ao longo do ano à medida que a economia entre em recessão, embora diferente e mais suave do que as anteriores.
Estimam que os resultados por ação do S&P 500 fique nos $200, registando uma queda de 9%, menos acentuada do que os 20% da média das recessões.
Conclusões e recomendações
Estas previsões recomendam que os investidores sejam cautelosos relativamente ao mercado de ações, e favoreçam as mais defensivas.
Nesta fase final da mudança de ciclo, os investidores devem estar atentos à evolução económica, às políticas legislativas e regulatórias, aos resultados das empresas e à avaliação dos mercados.
Considerando estas previsões, as recomendações são as seguintes:
Manutenção s alocações dos investimentos nos planos de pensões
Manutenção de altos níveis de cash, aguardando que o mercado de ações atinja e mostre suporte nos níveis mínimos previstos, de 3,600 no S&P 500, para aumentar a exposição a ações, faseadamente, a partir dessa altura
Aumento da exposição a obrigações do tesouro americanas até 10 anos para os investidores americanos, e esperar 3 a 6 meses para o aumento de obrigações do tesouro europeias pelos investidores europeus, quando o BCE estiver mais avançado na subida das taxas de juros oficiais e as de longo prazo mostrarem estabilidade
Redução da exposição aos investimentos em ações mais voláteis, de empresas menos maturas e sólidas, de crescimento, com resultados negativos ou baixos, e maior endividamento, que ainda transacionam a múltiplos elevados
Diminuição da exposição ao setor da tecnologia, e aumento da exposição aos setores de bens de consumo corrente, saúde, bens públicos, energia e financeiro.