O que são as grandes, médias e pequenas capitalizações?
No muito longo prazo as pequenas capitalizações proporcionam maiores retornos do que as grandes capitalizações
A seguir à decisão da alocação de ativos, entre ações e obrigações, põe-se a questão de escolher a subclasse desses ativos em que investir.
De facto, uma questão importante que se coloca a muitos investidores é a escolha do tipo de ações ou obrigações em que investir.
Relativamente às ações a primeira decisão é a escolha da geografia do investimento (mundo, EUA, Europa, Japão, mercados emergentes, etc.), seguida da natureza ou do tipo de empresas.
Esta decisão também é chamada de escolha dos estilos de investimento e incluem a opção entre as estratégias de ações de valor ou de crescimento, e as estratégias de pequenas e médias capitalizações face às grandes capitalizações, entre outras.
Este é o tema que abordaremos neste artigo, analisando o desempenho histórico destas duas subclasses de ações.
A complementar este artigo, na pasta de Ferramentas, desenvolvemos em detalhe alguns dos principais índices dos mercados acionistas mundiais das ações com as maiores capitalizações bolsistas, designadamente os MSCI ACWI para o mercado mundial, o Dow Jones IA 30, o S&P 500 e o Nasdaq nos EUA, e na Europa, o Eurostoxx 50 e o FTSE 100).
Também incluímos o índice Russell 2000 relativo às pequenas e médias capitalizações norte-americanas.
O que são as grandes, médias e pequenas capitalizações?
A capitalização bolsista, ou capitalização de mercado, é uma medida do tamanho de uma empresa.
É o valor total das ações em circulação de uma empresa
A delimitação entre cada grupo de capitalização pode variar, mas, geralmente, é a seguinte:
Mega capitalização (“mega cap”): valor de mercado de US$ 200 mil milhões ou mais
Grande capitalização (“large cap”): valor de mercado entre US$ 10 mil milhões e US$ 200 mil milhões
Média capitalização (“mid cap”): valor de mercado entre US$ 2 mil milhões e US$ 10 mil milhões
Pequena capitalização (“small cap”): valor de mercado entre US$ 250 milhões e US$ 2 mil milhões
“Micro cap”: valor de mercado inferior a US$ 250 milhões
As ações de grande capitalização representam mais de 90% do mercado de ações americano, e são frequentemente vistas como os principais investimentos dos portefólios dos investidores.
Estas ações tendem a ser menos voláteis durante mercados instáveis, uma vez que os investidores preferem qualidade e estabilidade e se tornam mais avessos ao risco nestes períodos.
No muito longo prazo as pequenas capitalizações proporcionam maiores retornos do que as grandes capitalizações
O gráfico seguinte mostra as valorizações das principais classes de ativos desde 1926 nos EUA:
As maiores taxas de rentabilidade médias anuais foram das ações de pequenas capitalizações com 11,8%, que superaram as das ações de grandes capitalizações com 10,1%.
De notar que estas taxas estão bem acima dos 5,2% dos títulos do tesouro a 10 anos e dos 3,2% dos bilhetes do tesouro a 6 meses.
Dito de outra forma, o investimento de 1 dólar em 1926 valorizou-se em $49,052 em 2020, comparativamente com os $11,535 atingidos pelas pequenas capitalizações, ou seja, mais de vezes mais.
Este facto não ocorreu só nos EUA.
O gráfico seguinte apresenta as valorizações das ações de várias capitalizações nos EUA e no Reino Unido, desde 1926 e 1955 respetivamente:
As ações de maiores capitalizações nos EUA e no Reino Unido tiveram taxas de rentabilidade médias anuais no muito longo prazo inferiores às ações de menores capitalizações.
Nos EUA, as ações de pequena capitalização proporcionaram taxas de rentabilidade de 12,2% ao ano versus 9,9% ao ano das grandes capitalizações, enquanto no Reino Unido, as ações de pequena capitalização tiveram taxas de rentabilidade de 15,4% ao ano versus 12% ao ano das grandes capitalizações respetivamente.
Nos EUA as ações de micro capitalização tiveram uma rentabilidade média de 12,7% ao ano, e quanto no Reino Unido, esta classe de ações valorizou 18% ao ano.
Desde que o índice Russell 2000 começou a acompanhar o desempenho das ações de pequena capitalização em 1979, o índice de ações tem tido um desempenho igual, se não mesmo ligeiramente superior, ao do índice S&P 500 de ações de grande capitalização:
Nos últimos 30 anos, a realidade dos índices de capitalização S&P tem sido semelhante à evolução de muito longo prazo:
Desde 1995, as pequenas capitalizações tiveram um desempenho melhor do que as grandes, mas neste período a melhor performance foi capitalizações médias.
As taxas de rentabilidade médias anuais foram de 12% nas capitalizações médias, 11% nas pequenas e 10,5% nas grandes.
Na Europa como um todo não existe informação de prazo tão longo.
No entanto, nos últimos 20 anos, as pequenas capitalizações foram muito superiores às das grandes capitalizações:
As pequenas capitalizações valorizaram-se 494% comparativamente aos 141% das grandes capitalizações em termos acumulados, neste período.
Esta é uma diferença abissal, de quase 4 vezes mais, superando largamente a realidade norte-americana.
Esta diferença de desempenho das pequenas capitalizações versus as grandes capitalizações entre a Europa e os EUA resulta, em larga medida, da composição dos vários segmentos.
Nos EUA, as grandes capitalizações são dominadas por empresas tecnológicas, enquanto na Europa, são as empresas do setor financeiro, energético e telecomunicações.
O desempenho das ações de pequena e média capitalização comparativamente às de grande capitalização está também muito associado às fases do ciclo económico, como iremos ver no próximo artigo.