Qual a importância de cada um dos enviesamentos em geral e para cada uma das gerações?
A teoria e a prática demonstram que estamos sujeitos a enviesamentos comportamentais enquanto investidores que prejudicam o bom desempenho dos nossos investimentos
Benjamin Graham, o Pai de “value investing” e mentor do gestor de investimentos Warren Buffet, já dizia que o maior problema do investidor – e mesmo o seu pior inimigo – é provavelmente ele próprio (“The investor’s chief problem – and even his worst enemy – is likely to be himself.”).
Alguns anos mais tarde, os pais da economia comportamental Kahneman, Tversky e Thaler provaram que os seres humanos não reagem à incerteza examinando cuidadosa e racionalmente a informação disponível. Em vez disso, as pessoas reais usam uma série de atalhos mentais misturados com reações emocionais para tomar decisões.
Estes atalhos mentais influenciam e provocam erros na tomada de uma série de decisões económicas, designadamente no âmbito da gestão dos investimentos.
Daniel Kahneman foi agraciado com o Prémio Nobel em 2002 e é o autor do livro, Pensar Rápido e Devagar (“Thinking Fast and Slow”), e Richard Thaler também foi premiado com o Nobel em 2017 e é o autor de O Empurrãozinho (“Nudge”).
Estudos recentes indicam que este custo é a principal fator do desvio negativo ou perda de rendibilidades do investidor face ao desempenho dos mercados acionistas, tendo um peso de 40% e representando 1,50% em rendibilidade anual, e por um período de investimentos tão longo quanto 20 anos
Um estudo de 2016 feito pela Dalbar, que todos os anos avalia o desempenho dos investimentos feitos pelo investidor médio face ao do mercado, concluiu que estes enviesamentos são os principais responsáveis pela má performance dos investimentos.
Custam 1,5% por ano em termos das rendibilidades dos investimentos nos mercados acionistas, representando 40% do desvio total de 3,52% por ano das rendibilidades face ao mercado, e prevalecem por períodos de 20 anos.
O seu custo é quase o dobro do segundo maior custo, o das despesas dos produtos de investimentos escolhidos pelo investidor, as duas perdas mais controláveis pelo investidor.
Os restantes dois fatores são erros de planeamento, de menor controlo pelo investidor, e incluem a falta de meios para investir e necessidade de liquidez para fazer face a despesas inesperadas.
Estes erros de comportamento voluntário dos investidores consistem geralmente em venda em pânico, otimismo exagerado e tentativas de gerir os momentos do mercado (“market timing”).
É opinião generalizada que enquanto investidores vivemos momentos de euforia e de pânico ao longo dos ciclos dos mercados e que nos prejudicam, tal como o gráfico de evolução do S&P 500 entre 1996 e 2016 pretende retratar:
Os investidores começam o ciclo cautelosos e à medida que os investimentos se valorizam vão-se tornando mais encorajados, positivos, confiantes, entusiasmados e investindo cada vez mais, até que no pico máximo estão eufóricos e tomaram muito risco.
Quando os mercados começam a descer os investidores começam a ficar surpresos, depois nervosos, preocupados, e muitas vezes no ponto mais baixo do mercado, entram em pânico e vendem boa parte ou todos os investimentos.
Desta forma, compram em alta e vendem em baixa, ou seja, compram mais caro e vendem mais barato, contrariando aquilo que seria inteligente fazer-se.
Conhecer e estar atento aos principais enviesamentos é fundamental para os sabermos gerir e mitigar os seus efeitos negativos sobre a gestão dos investimentos
Segundo os promotores da economia comportamental as pessoas são influenciadas por dois preconceitos comportamentais primários, os erros cognitivos e os enviesamentos emocionais.
Os erros cognitivos lidam com a forma como as pessoas pensam e resultam de erros de memória e de processamento de informação e são, portanto, o resultado de um raciocínio defeituoso.
Há dois conjuntos de erros cognitivos, os preconceitos de perseverança da crença e os enviesamentos no processamento de informação.
Os preconceitos de perseverança da crença incluem conservadorismo, confirmação, representatividade, ilusão de controlo e retrospetiva.
Os enviesamentos de processamento de informação incluem a ancoragem e ajustamento, a contabilidade mental, o enquadramento, a disponibilidade, a autoatribuição, o resultado e a atualidade (memória recente).
Os enviesamentos emocionais são o resultado do raciocínio influenciado pelos sentimentos.
Os preconceitos emocionais baseiam-se em sentimentos e não em factos, e resultam em decisões irracionais que normalmente acontecem em momentos de stress. Os preconceitos emocionais incluem aversão à perda, excesso de confiança, autocontrolo, status quo, doação, aversão ao arrependimento e afinidade.
Compreender e detetar os preconceitos é o primeiro passo para superar o efeito dos enviesamentos nas decisões financeiras. Compreendendo os enviesamentos comportamentais, podemos enquanto investidores ser capazes de moderar ou adaptarmo-nos aos enviesamentos e, consequentemente, melhorarmos os resultados económicos.
Os principais enviesamentos comportamentais são os seguintes:
Aversão à perda: Esperamos encontrar rendibilidades elevadas com baixo risco
Efeito manada ou rebanho: Copiamos o comportamento de outros
Enquadramento limitado: Tomamos decisões sem considerar todas as implicações
Arrependimento: Tratamos mais a sério os erros de fazer do que erros de omissão
Contabilidade mental: Assumimos riscos indevidos numa área e evitamos riscos racionais noutra
Reação aos media: Temos tendência para reagirmos a notícias sem uma análise razoável
Diversificação ingénua: Procuramos reduzir o risco, mas usamos simplesmente diferentes fontes
Ancoragem ou focalismo: Prendemo-nos a experiências familiares, mesmo quando é apropriado
Excesso de confiança ou otimismo: Acreditamos que as coisas boas nos acontecem, e as coisas más acontecem aos outros
Em próximos artigos iremos desenvolver cada um destes enviesamentos.
Qual a importância de cada um dos enviesamentos em geral e para cada uma das gerações?
A empresa Charles Schwab, uma das maiores e mais reputadas corretoras norte-americanas, patrocinou um estudo em 2019 sobre os principais enviesamentos comportamentais que afetam os investidores na opinião dos seus consultores financeiros, tendo chegado às seguintes conclusões:
Fonte: The role of behavioural finance in advising clients, Charles Schwab, 2019
O principal enviesamento, com 35%, é a atualidade ou memória recente que se sobrepõe e nos faz perder de vista a história e as experiências passadas.
A seguir e quase a par, com entre 23% e 26%, surgem a aversão à perda, a confirmação (sentimos que o que nos acontece confirma as nossas ideias), a familiaridade (só investimos no que nos é familiar), a ancoragem (estamos presos a determinados valores, ideias ou raciocínios) e o status quo (temos muita inércia, o que nos faz não mudar).
Este estudo também avaliou quais são os principais preconceitos para cada geração, revelando algumas diferenças:
Fonte: The role of behavioural finance in advising clients, Charles Schwab, 2019
O enviesamento de confirmação surge em todas as gerações com exceção da mais velha, a geração Silent, de mais de 73 anos idade. O autocontrolo prevalece nas gerações mais novas, Millennials e Gen-X, enquanto que a aversão à perda e ancoragem surge mais nas mais velhas, Baby-Boomers e Silent, o que se compreende pelo ciclo de vida (irreverência e mais cautela e vivência).
https://www.streamfinancial.com.au/wp-content/uploads/2020/05/real-investment-advice.pdf
https://wealthwatchadvisors.com/wp-content/uploads/2020/03/QAIB_PremiumEdition2020_WWA.pdf
https://www.schwabassetmanagement.com/resource/addressing-surge-client-behavioral-biases
https://www.franklintempleton.com/forms-literature/download/BF-B