O que é a mentalidade de manada ou rebanho?
As bolhas e a seleção dos fundos com base na rendibilidade passada são as principais manifestações do instinto da manada
Estudos consideram que este é o principal enviesamento dos investidores
O que é a mentalidade de manada ou rebanho?
Em finanças comportamentais, o enviesamento da mentalidade da manada (ou rebanho) refere-se à tendência dos investidores em seguir e copiar o que outros investidores fazem. Os investidores são em grande parte influenciados pela emoção e pelo instinto, em vez de pela sua própria análise independente.
Por outras palavras, um investidor que exiba um instinto de manada irá gravitar em direção aos mesmos investimentos ou investimentos similares baseado quase exclusivamente no fato de que muitos outros investidores estão a comprar esses títulos.
O instinto de manada é uma mentalidade que se distingue pela falta de tomada de decisão individual ou introspeção, fazendo com que as pessoas pensem e se comportem de forma semelhante àquelas à sua volta. O medo de perder uma ideia de investimento rentável é muitas vezes a força motriz por trás desse instinto.
As bolhas e a seleção dos fundos com base na rendibilidade passada são as principais manifestações do instinto da manada
A formação das bolhas dos mercados
O instinto de manada tem um historial vasto de iniciar grandes e infundadas compras e subidas, e vendas e descidas, dos mercados, muitas vezes sem qualquer razão fundamental para justificar qualquer um dos movimentos. O instinto de manada é um importante motor da formação das bolhas de ativos nos mercados financeiros.
A bolha da tecnologia (ou “dotcom”) do final dos anos 1990 e início dos anos 2000 é um exemplo:
O gráfico seguinte mostra a evolução da cotação (em cima) e do volume transacionado (em baixo) do índice de ações tecnológicas Nasdaq entre 1995 e 2003:
Como pode ver-se, sobretudo a partir de outubro de 1999 observam-se compras maciças de ações de empresas tecnológicas – muitas delas com grandes prejuízos, muito recentes e com pouco historial e na base de múltiplos de número ou crescimento de subscritores, ou de “clicks” por utilizador, sem se perspetivar o desenvolvimento futuro e a capacidade de geração de valor económico e financeira – que fizeram com que as cotações do Nasdaq subissem dos 1.500 pontos até aos 5.000 no espaço de um ano. Depois, aconteceu o que se sabe, isto é, uma descida acentuada das cotações acompanhada de fortes vendas pelos investidores individuais até 2003.
Como se pode ver no gráfico do indicador de avaliação rácio Price Earnings para o Nasdaq entre 94 e 2014 estes investimentos não tinham qualquer racional:
No auge da bolha aquele rácio atingiu um valor de 80x que compara com uma média de 25x.
Temos outra perspetiva da falta de racional olhando para o gráfico de Equity Risk Premium do S&P 500 entre 1980 e 2020 compilado por Damodaran:
O Equity Risk Premium (ERP) é o prémio de risco ou o excesso de retorno esperado que o mercado paga para assumirmos o risco. Ora, em 2000, o ERP chegou quase a 1%, o que quer dizer que o investimento em ações não pagava qualquer prémio pelo risco.
É por estes fenómenos que costumamos dizer que quando toda a gente só fala de mercados acionistas ou de ações, desde as conversas de café, ao taxista até ao cabeleireiro, em vez de falar sobre o desporto, o trânsito ou as vidas das celebridades, está na altura de sairmos do mercado (vendermos parte das posições).
A seleção dos fundos de investimento da moda
Uma outra manifestação do efeito manada ou rebanho ocorre na seleção dos fundos de investimento da moda. O que se passa com os fundos passa-se com outros produtos de investimento, coletivos, ações individuais, cripto moedas, câmbios, etc.
Na verdade, há também muitos estudos que mostram que 40% dos investidores escolhem os 10% dos fundos de investimento com a melhor performance de rendibilidade do ano anterior, e independentemente das comissões cobradas.
Um estudo feito pela Vanguard analisou esta situação:
Concluiu que os investidores particulares continuam a comprar os fundos de melhor notação pela Morningstar mesmo quando estes mostram desempenhos subsequentes piores dos que os restantes.
Ou seja, embora os produtos financeiros geralmente incluam o aviso de isenção de responsabilidade de que “o desempenho passado não é indicativo de resultados futuros”, os investidores individuais ainda acreditam que podem prever o futuro estudando o passado.
Isto significa que os investidores desconsideram os custos ao selecionar os fundos, escolhendo em vez disso os fundos com o melhor desempenho passado.
Sabemos que perseguir o desempenho passado é uma má estratégia de seleção de fundos, já que as análises de longo prazo confirmaram que os fundos de investimento não podem proporcionar uma melhor rendibilidade de forma consistente do que o desempenho médio, sendo qualquer desempenho individual superior atribuído principalmente à sorte.
Como os investidores tendem a desconsiderar os custos, acabam por pagar demais pelos seus investimentos, sem benefícios observáveis em termos de serviços adicionais. De facto, em média, os fundos mais baratos, tendem a proporcionar um melhor desempenho no longo prazo, pois não são sobrecarregados pelos altos custos recorrentes que podem deteriorar as rendibilidades dos fundos. A estratégia racional, portanto, é que os investidores escolham o fundo com os menores custos dentro de uma determinada classe de ativos.
Estudos consideram que este é o principal enviesamento dos investidores
Muitos estudos consideram que este é o principal enviesamento dos investidores. Um exemplo foi o inquérito conduzido pelo CFA Institute Financial NewsBrief em 2015 a 724 investidores em todo o mundo:
O instinto manada ou rebanho surge destacado com 34%, seguido da confirmação apenas com 20%, excesso de confiança com 17% e disponibilidade e aversão à perda, com 15% e 13%, respetivamente.
https://thedecisionlab.com/reference-guide/anthropology/herd-behavior/
https://www.behavioraleconomics.com/resources/mini-encyclopedia-of-be/herd-behavior/