O que são as ações de dividendos?
A importância dos dividendos na valorização das ações
As vantagens do investimento em ações de dividendos
O desempenho das ações de dividendos
Quem e quando se deve investir em ações de dividendos?
Como se investe em ações de dividendos?
Neste artigo vamos analisar o que são as ações de dividendos, quais as suas vantagens, qual o seu desempenho e como podemos investir nestas ações.
Veremos que as ações de dividendos são uma boa opção para uma carteira de investimentos diversificada, por proporcionarem mais segurança e estabilidade de rendimento do que as restantes ações.
Veremos também que podem ser uma boa alternativa para investidores com perfis de risco mais conservadores, tais como os reformados.
São igualmente interessantes em momentos em que as taxas de juro das obrigações estão muito baixas, como sucedeu no passado recente, ou em momentos de grande instabilidade dos mercados acionistas, como o atual.
Em artigos anteriores abordámos um tema próximo, embora diferente.
Recentemente dissemos que as ações de valor e de qualidade, em que se inserem a maior parte das ações se dividendos, são uma boa opção defensiva para o atual contexto de inflação e de subida de juros.
Anteriormente, focámos o tema das estratégias de valor face às de crescimento.
Na verdade, apesar de nem todas as ações de valor serem de dividendos, existe um mapeamento muito grande entre ambas.
Na pasta Ferramentas e sob a série fundos de investimento iremos apresentar alguns dos principais fundos de investimento de dividendos para investidores norte-americanos e de outros países, designadamente europeus.
Do you know the only thing that gives me pleasure? It’s to see my dividends coming in.” John D. Rockefeller, 1908
O que são as ações de dividendos?
As ações de dividendos são aquelas que distribuem regularmente os resultados aos acionistas através do pagamento de dividendos, em valores consideráveis e normalmente crescentes.
Enquanto investidores temos duas fontes de proveitos esperados.
O pagamento de dividendos e a valorização do preço da ação no mercado.
O pagamento de dividendos pode ser feito em numerário ou em espécie, através da compra de ações próprias pela empresa e a subsequente amortização e diminuição daquela quantidade de ações em circulação (“stock buy-backs”).
A maioria das ações norte-americanas pagam aos seus investidores um dividendo trimestral e as maiores empresas aumentam esse dividendo de forma consistente ao longo do tempo.
Isto proporciona aos investidores a acumulação de um rendimento corrente e regular.
Os investidores podem reinvestir ou não esse dividendo.
Nas empresas europeias é mais frequente o pagamento de um dividendo anual.
As empresas que pagam dividendos tendem a ser as empresas mais estáveis, pelo que o investimento nestas empresas proporciona estabilidade à carteira do investidor.
Por isso é que são também classificadas como investimento de risco baixo.
A forma de se identificarem as ações de dividendos é através da chamada taxa de dividendos ou “dividend yield”.
Esta taxa é o quociente entre os dividendos pagos anualmente e o preço da ação, expressa em percentagem.
A Procter and Gamble e a Coca-Cola são dois bons exemplos de ações de dividendos.
Normalmente, trata-se de ações de empresas de bens de consumo corrente, financeiras e de energia.
Sublinhe-se que se nada dissermos em contrário, as ações de dividendos são aquelas que pagam dividendos em numerário.
Esta nota é importante porque as empresas distribuem resultados aos acionistas de duas formas.
Através do pagamento de dividendos em numerário, ou recomprando ações (os chamados “buy-backs”), que são uma forma de pagamento de dividendos em espécie.
Os “buy-backs são uma forma mais eficiente de distribuição de resultados porque não estão sujeitos à tributação de rendimentos dos dividendos em numerários.
Deste modo, diferem o impacto fiscal para os acionistas.
Os buy-backs começaram a se usados sobretudo a partir da década de 80 nos EUA, e são hoje fonte tão importante de distribuição de resultados como os dividendos pagos.
As grandes empresas como a Apple, a Microsoft, bancos, farmacêuticas, entre outras, privilegiam os “buy-backs”.
Do ponto de vista do investidor, importa mais a distribuição de resultados total ao acionista do que a forma como é feita.
Deste modo, devemos ter esta perspetiva de rendimento mais global quando abordarmos a questão da execução do investimento em ações de dividendos.
A importância dos dividendos na valorização das ações
Para termos uma ideia da importância dos dividendos nada melhor do que vermos o impacto que os dividendos têm na valorização global dos mercados acionistas.
Entre os vários estudos que analisam o contributo dos dividendos, salienta-se o de Dimson, Marsh e Staunton que decompôs a valorização do mercado de ações S&P 500 entre dividendos e crescimento dos preços para o período de 1900 a 2010:
Neste período, o S&P 500 teve uma taxa de rendibilidade média anual de 9,4%, sendo 5% atribuídos a ganhos de capital e 4,4% aos dividendos.
Assim, os dividendos representam cerca de 43% da rendibilidade total do investimento em ações, sendo o remanescente ganhos de capital.
Também se analisou o registo dessa contribuição nas várias décadas:
Source: Standard & Poor’s, Ibbotson, J.P. Morgan Asset Management
Em termos de rendibilidades médias anualizadas por décadas, os dividendos contribuíram com 4,1% e os ganhos de capital 5,5%.
Saliente-se que parte da menor contribuição dos dividendos a partir de 1980 é explicada pelo aumento dos “buy-backs” que referimos anteriormente.
Este estudo permite também destacar uma grande vantagem dos dividendos que decorre da sua grande estabilidade.
Enquanto os ganhos de capital oscilam bastante, os dividendos mantêm-se numa banda estreita, normalmente entre 2,5% e 5%.
Nas últimas duas décadas as ações de dividendo mantiveram a contribuição da ordem de 43%:
Sources: FactSet, Mellon Investments Corporation June 30, 2020.
As vantagens do investimento em ações de dividendos
As ações de dividendos têm várias vantagens.
Primeiro, as ações de dividendos proporcionam dois benefícios aos investidores. Por um lado, o dividendo, e por outro, a valorização do preço.
Segundo, permitem um rendimento consistente.
Terceiro, a maioria das ações de dividendos são de setores defensivos e que podem suportar ciclos negativos com reduzida volatilidade (e por isso são consideradas não cíclicas).
Os setores defensivos não estão dependentes dos granes ciclos e por isso são considerados não cíclicos. Os setores defensivos mais comuns são os da alimentação e bebidas, serviços públicos, bens de consumo corrente, farmacêutico e saúde.
Quarto, as empresas que pagam bons dividendos também possuem grandes valores de numerário ou liquidez no balanço. São empresas robustas e com boas perspetivas de desempenho a longo prazo.
Quinto, grande parte da rendibilidade dos mercados acionistas advém dos dividendos. Historicamente a taxa de dividendos média anual do S&P 500 tem sido de 2%.
Pouca gente se apercebe da grande diferença que faz esta taxa de 2% ao longo do tempo.
Na secção anterior vimos precisamente o impacto desses dividendos na valorização das ações a longo prazo, pelo efeito da capitalização dos rendimentos.
Sexto, nalguns períodos a taxa de dividendos média anual compara bem com a taxa de juros das obrigações do tesouro a 10 anos:
Source: Wellington Management and Hartford Funds, 02/2020
Nestes momentos, as ações de dividendos aproximam-se ainda mais do investimento em obrigações. Grau de risco mais baixo e rendibilidade similar
Em suma, as vantagens das ações de dividendos são a maior estabilidade ou a natureza mais defensiva das empresas e o pagamento de um rendimento periódico.
O desempenho das ações de dividendos
Além disso, as ações de dividendos tendem a ter um melhor desempenho do que as restantes ações.
A NED Davis Research publicou um estudo em 2014 que conclui que as ações que pagam dividendos têm um muito melhor desempenho do que as restantes, em termos de mais rendibilidade e menor volatilidade:
O investimento de $100 de 1972 em ações que que pagam dividendos valorizou-se para $4.131 em 2013, enquanto as que não pagam até tiveram uma ligeira desvalorização.
Mais importante, as ações que iniciaram ou aumentaram os dividendos foram as que valorizaram o capital de forma mais significativa, para $5.997 em 2013, o que compara com os $2.199 das ações que não alteraram os dividendos, e os $264 das ações que tiveram cortes nos dividendos.
O estudo seguinte da Hartford Funds mostra a percentagem das empresas com melhor desempenho do que o índice, distribuídas por quintil de pagamento de dividendos, para o período entre 1930 e 2019:
Source: Wellington Management and Hartford Funds, 02/2020
66,7% das empresas do primeiro quintil (ou seja, das 20% das empresas de maiores dividendos do S&P 500) tiveram melhor desempenho do que o índice (ou a média geral).
As empresas do segundo quintil (as compreendidas no intervalo das 20% a 40% das empresas de maiores dividendos) tiveram ainda um melhor registo. 77,8% dessas empresas bateram o índice.
O terceiro quintil, o resultado foi igual ao primeiro, com 66,7% das empresas com melhor desempenho do que o índice.
Relativamente às 40% das empresas de menores dividendos, as dos quartos e quinto quintis, só 44,4% tiveram rendibilidades superiores à média do S&P 500.
Foi também demonstrado que as ações que pagam dividendos proporcionaram uma rendibilidade média anual de 10,4%, a qual foi superior aos 8,5% da média das ações do S&P 500 entre 1927 e 2014.
Como seria de esperar, a sua volatilidade também foi inferior neste período. O desvio-padrão das empresas que não pagam dividendos foi de 30%, muito superior aos 18% das ações que pagam dividendos.
A Hartford Funds realizou fez uma atualização deste estudo em 2022 com conclusões muito interessantes, sintetizadas na pasta de Ferramentas.
Quem e quando se deve investir em ações de dividendos?
As ações de dividendos são apropriadas para carteiras com uma diversificação ampla, contribuindo com a maior estabilidade (ou menor volatilidade e ciclicidade).
Por isso, estas ações são também mais uteis em momentos de instabilidade, de grande flutuação ou de queda dos mercados.
São particularmente interessantes para investidores mais avessos ao risco, para os reformados, assim como para aqueles investidores que pretendem obter um rendimento corrente e regular.
Como se investe em ações de dividendos?
Podemos investir em ações de dividendos de duas formas. Através de fundos de investimento ou de fundos negociáveis em bolsa (ETF) que detêm ações de dividendo, ou investindo diretamente nestas ações individuais.
Os fundos de investimento especializados em ações de dividendos investem num conjunto destas ações e distribuem os dividendos que recebem pelos investidores do fundo de forma regular.
Nesta medida, proporcionam uma diversificação imediata.
Em alternativa podemos investir direta e individualmente em ações de dividendos.
Dá mais trabalho do que o investimento num fundo, mas permite ao investidor escolher as ações que pretende.
A Standard and Poor’s identifica anualmente as empresas de dividendos aristocratas do S&P 500, um conjunto de 65 empresas norte-americanas que têm um historial de pagamentos de dividendos consistente e crescente ao longo dos últimos 25 anos.
As empresas de dividendos aristocratas de 2021 eram:
Relativamente ao corrente ano, essas 65 empresas são as seguintes:
https://money.usnews.com/investing/stock-market-news/articles/dividend-stocks-aristocrats