O mercado de ações tem vários ciclos, mas cresce e reverte sempre para a média
A média dos múltiplos de avaliação PER
A média das rendibilidades a 10 anos e dos múltiplos CAPE
As rendibilidades médias por períodos de 10 anos mostram uma sucessão de grandes ciclos ou ondas de 25 a 30 anos
No final, o mercado acaba sempre por recuperar e fazer novos máximos
A médio e longo prazo o investimento em ações é muito atrativo em termos de rendibilidade e risco
O mercado de ações tem vários ciclos, mas cresce e reverte sempre para a média
Num artigo anterior vimos o que é o “market timing” e os enormes custos para os muitos investidores que o perseguem.
No artigo precedente, que constitui a primeira parte deste tema, abordámos os ciclos do mercado, dos de muito curto prazo até aos mais longos.
A conclusão é que não é possível antecipar os ciclos.
Os ciclos são naturais e frequentes, e mais, são amplificados por comportamentos especulativos.
Os agentes que se comportam assim, normalmente perdem muito dinheiro.
Mais adiante veremos, pelo contrário, que quem não o faz “market timing”, aceita a imprevisibilidade dos ciclos como a natureza do próprio mercado, é quem mais ganha.
Nesta segunda parte centramo-nos na forma como estes ciclos se desenvolvem.
Vimos anteriormente que as flutuações negativas do mercado, diárias, anuais, ou cíclicas, são corrigidas.
No fundo, o mercado recupera das perdas. E sobe bastante, valorizando os nossos capitais investidos.
Nos gráficos seguintes vamos ver que as flutuações do mercado mostram que existe uma reversão para uma média.
Ou seja, que o desempenho do mercado se faz num traçado sinuoso em torno de uma linha reta positivamente inclinada, de crescimento, avanço e progressão.
Há desvios em torno dessa linha reta, que são corrigidos com o tempo.
Na verdade, o mercado teve uma rendibilidade média anual de cerca de 10% em termos nominais ou de 6,5% em termos reais (a constante de Siegel), desde 1926.
Contudo, a evolução não é linear.
Há muitas flutuações, algumas pequenas outras excessivas.
Mas o mercado regressa sempre para aquela linha média de crescimento.
Vamos ver esta realidade sob diversas formas.
O gráfico seguinte mostra os desvios do índice de marcado relativamente às médias de 1 ano (52 semanas) entre 1960 e 2020:
A linha a encarnado traça o valor máximo dos desvios e marca 20%.
Ou seja, tem havido uma correção sempre que o mercado transaciona a mais de 20% do que a sua média anual.
No sentido descendente não é possível encontrar um mesmo padrão.
No entanto, só ocorreram dois desvios negativos superiores a 20%, em 1973 e 2008.
Este gráfico mostra bem o que já vimos noutros artigos relativamente às correções.
Há correções técnicas frequentes, entre 10% a 20%, e outras mais correções profundas, superiores a 20%, também chamadas de crises.
Seguidamente, vamos procurar ver se é possível detetar alguma relação, ou padrão de comportamento, entre o desempenho do mercado e do principal múltiplo de avaliação, o PER.
A média dos múltiplos de avaliação PER
O gráfico seguinte mostra a evolução do S&P 500 comparando-a com a que teria ocorrido para níveis de múltiplos de PER históricos de 10x, 15x e 20x, entre 1970 e 2022:
São os desvios da avaliação.
Até à década de 80, o mercado transacionou com um PER de 10x.
A partir de então, o mercado passou a transacionar mais perto de um múltiplo de 20x, sobretudo devido á mudança de política das autoridades monetárias.
Entre 1982 e 1999 o mercado valorizou-se bastante, transacionando com um PER superior a 20x.
Desde a bolha tecnológica, o mercado voltou a transacionar a um PER de 20x, até que descolou novamente a partir de 2015.
Podemos também ver esta evidência da reversão para a média nos retornos anualizados.
O gráfico seguinte mostra a evolução das rendibilidades médias anuais por períodos de investimento de 10 anos e do múltiplo CAPE (PER de Schiller), desde 1910:
A média das rendibilidades a 10 anos e dos múltiplos CAPE
Sempre que o mercado apresenta grandes retornos em ciclos de 10 anos, acaba por corrigir.
A linha a tracejado mostra a média do CAPE dos últimos 10 anos, cerca de 25x.
As rendibilidades médias por períodos de 10 anos mostram uma sucessão de grandes ciclos ou ondas de 25 a 30 anos
É muito interessante analisarmos os ciclos das rendibilidades do mercado de ações por períodos de 10 anos:
Para rendibilidades anuais médias de períodos de investimento de 10 anos, o mercado mostra ondas ou ciclos de cerca de 20 a 30 anos, mais ou menos simétricos, em que se atinge um máximo de 20% de rendibilidade média anual durante 10 anos.
No final, o mercado acaba sempre por recuperar e fazer novos máximos
No fim do dia, ou dos ciclos, o mercado recupera sempre.
O gráfico seguinte mostra as rendibilidades acumuladas de uma carteira de investimento de 60% ações e de 40% liquidez nas grandes crises do mercado de ações desde 1992, e as respetivas recuperações:
Em 1992, a carteira chegou a cair 31% após um ano, mas recuperou para uma valorização de 14% ao fim de 5 anos.
Na crisé asiática de 1997, a queda de 12,3% ao fim de 1 ano, foi superada com valorização de 20% passados 3 anos.
Durante a bolha tecnológica de 2000, a carteira perdeu 13% em 3 anos, mas ao quinto ano já tinha uma valorização de 35%.
Na GCF de 2007 e na crise de 2015, as recuperações ainda forma mais impressionantes, em termos de rapidez e dimensão.
O gráfico logarítmico seguinte desenha a evolução do S&P 500 em termos reais (ajustado da inflação) desde 1870 até 2020 e a linha de regressão positiva, o que permite evidenciar os desvios:
O que mostra é que o mercado tem uma valorização importante a longo prazo, em que as flutuações ou desvios nos prazos mais curtos, acabam por regredir para essa linha reta média.
A médio e longo prazo o investimento em ações é muito atrativo em termos de rendibilidade e risco
O gráfico seguinte detalha as rendibilidades do mercado de ações no longo prazo, usando os dados desde 1926:
São 93 anos de rendibilidades anualizadas, por períodos de 1, 5 e 15 anos.
73% dos anos tiveram rendibilidades positivas.
Se passarmos das rendibilidades anuais para rendibilidades anualizadas num período de 5 anos, já temos 87% períodos com rendibilidades positivas.
E se analisarmos as rendibilidades anualizadas por um período mais longo, de 15 anos, nunca se observaram rendibilidades negativas
Em conclusão, quanto mais o prazo de investimento menor a probabilidade ou o risco de termos rendibilidades negativas.
E como vimos anteriormente, essas rendibilidades médias anuais são de 10% ao ano.