O relógio dos investimentos marca os investimentos que são mais beneficiados consoante a fase do ciclo económico
As taxas de rendibilidade dos principais ativos são bem diferentes em cada fase do ciclo
E o mesmo sucede para as principais subclasses de ativos
Relativamente ao mercado acionista, os setores também têm comportamentos diferenciados
O relógio dos investimentos marca os investimentos que são mais beneficiados consoante a fase do ciclo económico
As classes de ativos têm comportamentos diferenciados consoante as fases do ciclo económico, considerando designadamente os movimentos e os níveis do crescimento do produto e das taxas de inflação.
Por isso, o muito conhecido relógio dos investimentos estabelece quatro quadrantes de estádios da economia a que correspondem investimentos preferenciais:
No primeiro quadrante em cima e à direita, que corresponde à da situação em que a inflação aumenta e o crescimento diminui, o investimento preferencial é o de valor cíclico com destaque para as mercadorias ou matérias-primas, num estádio de sobreaquecimento económico.
Rodando no sentido dos ponteiros do relógio e no segundo quadrante, que ilustra a situação de menor crescimento e subida de inflação, conhecida como estagflação, o investimento privilegiado deve ser a liquidez numa fase de valor defensivo.
Prosseguindo para o terceiro quadrante, marcado por uma diminuição da inflação e retoma do crescimento, conhecida como fase de reflação, a estratégia adequada é a de crescimento defensivo favorecendo-se os investimentos em obrigações.
No quarto e último quadrante, caraterizado por subida sincronizada da inflação e do crescimento, chamado de recuperação, é o contexto de crescimento cíclico e que favorece o investimento em ações.
Todos os ciclos económicos passam por estas quatro fases com maior ou menor duração e intensidade.
Estas fases surgem e resultam do comportamento conjugado dos vários agentes económicos, famílias, empresas e governos (incluindo os responsáveis pelas políticas orçamental e monetária.
Ao contrário do que possa parecer, é muito difícil adivinhar e antecipar estas fases do ciclo com aproveitamento para os investimentos.
Podemos, tal como os profissionais fazer pequenos ajustamentos à carteira, mas não vale a pena proceder a grandes alterações no sentido de ponderar os investimentos mais adequados em cada momento.
Mudanças drásticas não resultam e normalmente veem fora de tempo, ou demasiado cedo ou demasiado tarde.
Por isso, esta realidade vem reforçar a ideia, o valor e a importância da diversificação, pois só esta permite navegar corretamente ao longo dos ciclos, conjugadamente e em associação com o rebalanceamento.
As taxas de rendibilidade dos principais ativos são bem diferentes em cada fase do ciclo
A Fidelity elaborou um estudo das rendibilidades dos três principais ativos ao longo destas quatro fases para os EUA entre 1962 e 2014 concluindo:
Na retoma, as ações são o ativo destacadamente superior, com rendibilidades médias anuais de 25%, comparativamente com os 6% das obrigações e 4% da liquidez.
Em recessão, o melhor ativo são as obrigações com rendibilidades de quase 12% ao ano, seguidas da liquidez, tendo as ações um desempenho negativo entre 5% e 10%.
Nas fases intermédias do ciclo, as ações são melhores a meio do ciclo e a liquidez é mais rentável antes da recessão.
E o mesmo sucede para as principais subclasses de ativos
Aprofundando um pouco mais os investimentos mais favorecidos em cada uma destas 4 fases, olhando do centro para a periferia são (sublinhando que os quadrantes estão posicionados de forma diferente relativamente ao anterior gráfico):
Durante o sobreaquecimento (1º quadrante), os investimentos que normalmente têm melhor desempenho são, além das mercadorias e matérias-primas, obrigações indexadas à inflação e as obrigações das economias emergentes.
Na fase de estagflação (4º quadrante), além da liquidez, os investimentos mais rentáveis são as obrigações em geral e o imobiliário.
Ao longo da deflação (3º quadrante), os investimentos de maior rendibilidade são as obrigações longas, a par da liquidez.
Na retoma (2º quadrante), os investimentos com melhor desempenho são as obrigações, ações e o imobiliário.
Relativamente ao mercado acionista, os setores também têm comportamentos diferenciados
No mesmo estudo da Fidelity acima referido, também se investigou quais os setores das ações com melhor desempenho em cada fase:
Na retoma os setores com maior rendibilidade são o imobiliário, de bens de consumo duradouros e indústria, logo seguidos, do financeiro, tecnologia e matérias-primas.
Os setores com pior desempenho são os da saúde, energia e de serviços públicos.
Durante a recessão os setores mais protegidos são os de bens de consumo corrente, a saúde e os serviços públicos enquanto os mais atingidos são o imobiliário, tecnologia e telecomunicações.
A fase de fim de ciclo, não é muito diferente da recessão, que a precede.
Na fase de meio do ciclo, as maiores rendibilidades são na tecnologia e telecomunicações e as mais baixas nas matérias-primas, bens de consumo duradouros e serviços públicos.
Diferenciação que também é evidente em termos dos fatores ou estilos de investimento no mercado acionista
Num estudo recente, a Russell Investments analisou as rendibilidades dos fatores ou estilos de investimento ao longo das várias fases do ciclo económico entre 1957 e 2020.
As fases são determinadas pela conjugação de dois fatores, o crescimento económico medido pelo nível do ISM superior a 45 e em crescimento ou não, e a taxa média de inflação avaliada pelo seu valor trimestral face ao dos 3 anos anteriores:
Os resultados foram os seguintes:
Naturalmente, os fatores de investimento de melhor desempenho são os de “momentum” na fase de aceleração e de expansão, e os de qualidade e valor nas fases de desaceleração e recessão.
De registar que no período mais recente o fator de valor perdeu peso em fases recessivas, destacando-se o da qualidade.
O fator mercado ou beta é positivo em todas as fases do ciclo exceto na recessão, e sobretudo na recuperação ou retoma.