Este é o quarto artigo desta série dedicado ao investimento temático, ou seja, a estratégia de investimento que visa identificar grandes transformações e megatendências suscetíveis de moldar a economia global nas próximas décadas, e os investimentos subjacentes que podem beneficiar da concretização dessas tendências.
No primeiro artigo, fizemos uma introdução e visão geral ao tema do investimento temático incluindo a sua definição, âmbito, e as três principais áreas: tecnologia ou inovação disruptiva, megatendências e sustentabilidade.
No segundo e terceiro artigos, abordámos a primeira das 3 grandes áreas, a tecnologia ou a inovação disruptiva.
Começámos por apresentar a velocidade da adoção da inovação ao longo dos tempos, a definição da tecnologia e inovação disruptiva e as várias vagas desta inovação e de crescimento económico.
Neste artigo, iremos desenvolver a segunda das 3 grandes áreas dos investimentos temáticos, as megatendências. A sustentabilidade, a terceira destas áreas, já aprofundámos ao longo da série de artigos sobre investimento em ESG.
O que são megatendências?
Identificar e classificar as principais megatendências
As principais megatendências relevantes para o investidor: uma classificação pela Blackrock
O que são megatendências?
Megatendências são tendências que têm um efeito em escala global.
As megatendências influenciam fortemente diferentes esferas da vida em muitos países e em diferentes níveis, abrangendo dimensões políticas, económicas, ambientais, sociais e culturais.
As megatendências são compostas por muitas tendências correlacionadas e mutuamente dependentes.
Uma megatendência é ao mesmo tempo a soma de tendências e uma força orientadora, uma vez que influencia as tendências que a compõem.
As tendências são difíceis de prever e as megatendências são difíceis de reconhecer.
A evolução ao nível da tendência é mais fácil de observar porque é mais dinâmica com resultados mais imediatos. No entanto, o impacto das megatendências é cada vez maior.
John Naisbitt foi um pioneiro dos estudos futuros, tendo o seu livro “Megatrends: Ten New Directions Transforming Our Lives” sido publicado pela primeira vez em 1982.
Centrou-se principalmente nos Estados Unidos, mas também tentou apresentar uma perspetiva global, e previu, com precisão, a mudança das sociedades industrializadas para as sociedades da informação.
Identificar e classificar as principais megatendências
A seleção das principais megatendências é subjetiva, dependendo da importância e do impacto atribuído aos diferentes âmbitos, dos fatores e das consequências dos movimentos transformacionais.
Por isso, esta seleção está intrinsecamente ligada à natureza de quem as seleciona.
Se for fuma instituição governamental é possível que valore mais os fatores de âmbito político. Caso se trate de um académico ou de uma universidade, em geral, é provável que dê mais peso à ciência. No caso de um economista ou financeiro, os aspetos mais relevados são os de investimento.
Por exemplo, o Joint Researh Center, um centro de investigação politico da União Europeia, seleciona as 14 megatendências seguintes:

Neste conjunto, há megatendências com um âmbito económico e social profundo, como a mudança tecnológica, a escassez de recursos, e as alterações climáticas.
Do mesmo modo, há outras megatendências em que o âmbito é mais político, como ampliação das desigualdades, crescente significado da migração ou influência de novos sistemas de governo.
O estudo seguinte identifica um conjunto semelhante de megatendências, classificando-as pela seja natureza ou âmbito dominantes, em tecnológica, económica, sociopolítica e ambiental:

São 15 megatendências, incluindo: os mercados emergentes, a riqueza global emergente, as transformações do poder económico, as alterações climáticas, as mudanças das gravidades das doenças e risco de pandemias, a demografia e mudança social, as regulações, o envelhecimento da população e a saúde, a rápida urbanização, a mobilidade, o aumento da poluição ambiental, as alterações climáticas e a escassez de recursos, a biologia sintetizada, a globalização e a crescente mundo multipolar.
Estas megatendências desdobram-se em subconjuntos de múltiplas tendências:

Um outro estudo enumerou 12 megatendências, com diferentes ramificações em tendências:

As megatendências incluem o mundo conectado, a singularidade tecnológica, a transição energética, a indústria 5.0, o mercado do comércio global, a personalização dos cuidados de saúde, o futuro da mobilidade, as potências económicas, a inovação para zero, a sustentabilidade, diversidade e inclusão, a demografia e urbanização, e humanização aumentada.
As principais megatendências relevantes para o investidor: uma classificação pela Blackrock
Do conjunto das possíveis megatendências, há algumas que podem ser objeto de investimento enquanto outras não, e só as primeiras têm interesse para o investidor.
A Blackrock, o maior gestor de ativos global, identifica um conjunto restrito de 5 grandes megatendências que são bastante consensuais e organizou-as em casos práticos e reais de possibilidades de investimento:

Este agrupamento segue uma lógica de arrumação em subconjuntos de potenciais investimentos relacionados e com dimensão relevante.
Em primeiro lugar, a revolução tecnológica, também chamada de tecnologia ou a inovação disruptiva, classificada como uma das 3 grandes áreas de investimento temático e já abordada num artigo anterior. Esta compreende a explosão tecnológica, a robótica e inteligência artificial, e a cibersegurança e tecnologia.
Segundo, a mudança demográfica e social, compreendendo desde a longevidade e o envelhecimento, a decodificação genética, o tratamento de doenças crónicas, a farmacologia, e o desenvolvimento dos cuidados de saúde, de nutrição e de bem-estar.
Terceiro, a rápida urbanização que coloca uma pressão para melhoria das infraestruturas a nível global, nas grandes economias emergentes (China, India, etc.), mas também nos países desenvolvidos como os EUA.
Em quarto lugar, as alterações climáticas e a escassez de recursos, classificada como uma das 3 grandes áreas de investimento temático como sustentabilidade, abrangendo as energias limpas, e os veículos autónomos.
Por último, o crescimento da riqueza nos países emergentes, em geral, e o da classe média em particular, fundamentalmente na China e India.
Num artigo subsequente iremos abordar alguns destes investimentos temáticos.