Os incentivos das ofertas públicas iniciais e o sentimento e “timing” do mercado
O que são as ofertas públicas iniciais ou IPO via SPAC
As vantagens dos IPO via SPAC versus os IPO tradicionais
Os IPO de SPAC explodiram em 2021, como numa corrida ao ouro, para voltarem a acalmar nos tempos mais recentes
Há um ano publicámos três artigos sobre a recente democratização dos investimentos nos mercados acionistas, sobretudo nos EUA.
Considerámos o movimento como globalmente positivo, embora apontando falhas que seriam provavelmente corrigidas com o tempo.
Estes artigos pretendem fazer um balanço da situação.
No primeiro, analisámos a presença atual dos investidores individuais no mercado à vista e no das opções.
Mostrámos que se mantém e sublinhámos a ideia de que é muito benéfica para o mercado e para os novos investidores.
No segundo artigo começámos a abordar as matérias dos vários excessos ou falhas do mercado trazidas por esta democratização do mercado.
Sendo uma matéria tão diversa, que abrange diferentes aspetos, tivemos que a dividir por partes.
Assim, nesse artigo aprofundámos o caso das ações “meme”, ações de empresas que foram objeto de uma procura excessiva e consequente irrupção dos preços, devido a um movimento massivo de uma comunidade de investidores, na sua maioria novos e jovens.
Neste artigo, que constitui a segunda parte dos excessos ou falhas, focamos o tema das ofertas públicas iniciais das SPAC, uma via rápida para a introdução em bolsa de empresas que explodiu em 2020.
Consideramos que é fundamental entendermos cada uma destas distorções para sabermos os erros que devemos evitar cometer.
Os incentivos das ofertas públicas iniciais e o sentimento e “timing” do mercado
Antes de aprofundar esta matéria vale a pena ter presente as opiniões expressadas pelo grande investidor Warren Buffett sobre as ofertas públicas iniciais em geral, comparando-as com as transações correntes do mercado de bolsa:
“In my view, you’re way more likely to get incredible bargains in an auction market. It’s just the nature of things…Sometimes there will be IPOs in terrible markets, and they may come very cheap. But by and large, that is not when IPOs come. They come when the seller thinks that the market is ready for them. And they come with an informed seller thinking it’s a pretty good time to go public. And, you know, you’ll make better buys, in my view, in an auction market.”, Warren Buffett
“The idea of saying the best place in the world I could put my money is something where all the selling incentives are there, commissions are higher, the animal spirits are rising, that that’s going to better than 1,000 other things I could buy where there is no similar enthusiasm … just doesn’t make any sense. The fear of missing out on a popular IPO can cloud investors’ judgement, leading them to make poor investment decisions, ”, Warren Buffett
Como é de prever, existe uma forte correlação entre o sentimento dos mercados e o volume de entradas em bolsa ou admissões à cotação.
Quanto mais positivo for o momento do mercado mais empresas “start-up” e outras querem aceder ao mercado.
A procura pelos investidores é maior, fazendo com que os preços de venda sejam mais altos e a viabilidade das transações esteja mais assegurada.
Contudo, há muitas empresas, algumas de grande dimensão, que precisam de alguns anos para entrarem em bolsa.
Por exemplo, muitos unicórnios, ou empresas com uma valorização no mercado de capitais privado superior a mil milhões de dólares, podem levar mais de 3 a 5 anos para estarem prontas para ser negociadas em bolsa.
A preparação das entradas em bolsa leva muito tempo a fazer.
As empresas têm de passar por um processo longo de organização interna e de gestão, de crescimento para um determinado patamar, e de capacidade de tratamento e reporte da informação económica e financeira.
As empresas também querem evitar o risco de quando estiverem prontas para entrarem em bolsa, se depararem com um mercado de sentimento negativo ou em crise.
Uma forma de conciliar estas realidades, de captar capitais de investidores do mercado quando a empresa ainda não está totalmente pronta para uma cotação pública é através dos IPO dos SPAC.
Para cortar etapas e antecipar algum deste prazo, muitas empresas “start-up” fundiram-se com veículos SPAC para acelerarem esse processo.
O que são as ofertas públicas iniciais ou IPO via SPAC
Uma SPAC (“Special Purpose Acquisition Company”) é uma empresa veículo que é constituída por investidores tendo como único propósito a mobilização de fundos através de uma oferta pública inicial (“IPO”) para adquirir uma outra empresa.
Desta forma, a SPAC executa a entrada em bolsa dessa empresa privada.
O objetivo das SPAC é acelerarem o processo de mobilização de fundos pelas “start-up” no mercado de capitais.
A SPAC é uma sociedade que faz um IPO mais rápido junto de um conjunto de investidores – pois tem menos requisitos regulamentares (e menos proteção concedida aos investidores), levantando capitais para a compra e/ou fusão com a empresa privada, promovendo o acesso desta ao mercado de capitais.
A SPAC é uma empresa promovida por gestores reputados na comunidade financeira.
Normalmente, estes gestores ou fundadores também investem na própria SPAC, com uma participação de cerca de 20%
Os fundos captados ficam numa conta de depósito segregada e remunerada.
Os gestores têm normalmente cerca de 18 a 24 meses para procederem a uma aquisição, período que pode ser prolongado mediante a autorização dos investidores.
Findo esse período, caso não seja feita a aquisição, o dinheiro é devolvido aos investidores.
Nalguns casos a empresa a adquirir é conhecida desde o princípio, noutros pode ficar ao critério dos promotores.
Nos últimos anos várias empresas conhecidas acederam ao mercado por esta via.
Foram os casos da Virgin Galactic, DraftKings, Opendoor and Nikola Motor.
As vantagens dos IPO via SPAC versus os IPO tradicionais
As vantagens que normalmente se atribuem aos IPO via SPAC são várias.
Primeira, o de aceder à experiência e capacidade dos promotores de identificarem e atraírem a empresa e gerirem o processo do IPO.
Segunda, a de evitar a morosidade e os custos de um IPO tradicional.
Terceira, a possibilidade de investimento numa empresa a um valor mais baixo que seria pago num IPO, pois o mesmo é feito num estágio de desenvolvimento antecipado.
Quando o ambiente é muito positivo, que se deu um passo mais além do que era habitual.
Os IPO de SPAC explodiram em 2021, como numa corrida ao ouro, para voltarem a acalmar nos tempos mais recentes
O número de IPO de SPAC nunca foi tão alto como em 2021:
Em 2022, a tendência tem sido regressar aos níveis históricos.
A correção e volatilidade do mercado têm provocado a desistência de muitos IPO de SPACS, como por exemplo o da Panera Bread.