Nos países mais ricos, as famílias têm a maior parte do seu património em investimentos em vez de poupanças, ao contrário do que sucede com os países menos ricos
As famílias dos países mais ricos têm uma riqueza de 5 vezes o rendimento disponível anual líquido
Quem é que mais investe no mundo? Como se distribui o património das famílias nos vários países? Há preferências ou diferenças marcantes entre poupanças e investimentos?
Estas são questões relevantes para percebermos se há fatores e quais são os fatores que origem das diferenças das escolhas de investimento das famílias.
Nos países mais ricos, as famílias têm a maior parte do seu património em investimentos em vez de poupanças, ao contrário do que sucede com os países menos ricos
A OCDE apresenta regularmente a distribuição do património médio das famílias dos vários países entre liquidez ou poupanças (moeda e depósitos) e investimentos, distribuídos por diretamente em ações, títulos com exceção de ações (maioritariamente obrigações), em fundos de investimento, em produtos de seguros, fundos de pensões e outros.
O gráfico seguinte mostra essa distribuição para o ano de 2018 ordenando os vários países pelo peso da poupança face às componentes de investimento:
Household accounts – Household financial assets – OECD Data
Não foi possível incluir todas as componentes no mesmo gráfico, tendo-se excluído a percentagem de investimento direto em títulos que não ações (maioritariamente obrigações), por ser a menos significativa, com uma média de 2,5% e variando entre os 0,2% a 0,4% na Austrália e o Reino Unido e os 6,2% e 7% nos EUA e em Itália. Em Portugal são 2,7%.
Podem tirar-se as seguintes conclusões para os agregados familiares médios na OCDE:
- Portugal é dos países com maiores poupanças (quase 50%) e menos investimentos, ao nível os países mais pobres da OCDE e só superado pelo Japão, nos países mais ricos (efeito combinado da queda do mercado acionista nipónico em mais de 75%, ou da estagnação económica entre 1990 e 2010, e do envelhecimento);
- A grande maioria dos países avançados a começar pelos EUA (menos de 15%), Suécia, Dinamarca, Holanda, Canadá, Austrália, Reino Unido e França são dos países maior peso de investimentos e menores poupanças em termos de composição do património financeiro;
- Em termos de investimentos, a componente que está presente transversalmente em quase todos os países avançados é o investimento direto em ações, que representa entre 20% e 30% do património nesses países;
- Há países com um grande peso dos fundos de pensões no total do património, representando entre 25% a 50%, como é o caso dos EUA, Suécia, Holanda, Austrália, Reino Unido e Irlanda; em Portugal, os fundos de pensões têm um peso inferior a 10%;
- Os fundos de investimento têm um peso mais ou menos constante nos vários países entre 5% e 10%.
O gráfico seguinte mostra a mesma informação da decomposição do património financeiro das famílias no mundo segundo a OCDE para um número mais restrito de países, permitindo uma melhor e mais fácil visualização dessa realidade:
O gráfico seguinte mostra as alocações de ativos em fundos de investimento em 14 países europeus em 2018:
As principais conclusões são as seguintes:
- Nestes 14 países, em média mais de 30% são investidos em fundos de ações, 20% em fundos de obrigações, 15% em fundos mistos e 30% distribuídos entre fundos de tesouraria, de capital garantido e outros.
- Dum modo geral, quanto mais desenvolvidos os países, em termos de desenvolvimento económico, nível riqueza e grau de desenvolvimento dos mercados de capitais, maior a preferência pelo investimento em fundos de ações. Na Holanda, Suécia, Reino Unido, Noruega, Bélgica e Suíça as maiores alocações são em fundos de ações, em contrate com a Dinamarca, Itália e Alemanha, em que o investimento predominante são fundos de obrigações e mistos;
- Dominam as alocações seletivas e diretas nos dois principais ativos, ações e obrigações, em detrimento das mistas ou balanceadas. Os fundos mistos só têm grande expressão na Áustria, Itália e Alemanha.
Em suma: As famílias dos países mais avançados investem mais e contribuem mais para os fundos de pensões. As famílias dos países menos ricos normalmente fazem mais poupanças, seja em moeda ou depósitos bancários.
Independentemente das razões há uma certeza: ao investirem mais, as famílias dos países ricos ficam mais ricas e as dos mais atrasados mais pobres, o que acentua as suas desigualdades.
As famílias dos países mais ricos tem uma riqueza de 5 vezes o rendimento disponível anual líquido
A OCDE publica também regularmente a riqueza das famílias em percentagem do rendimento disponível, sendo os últimos dados relativos ao ano de 2016:
As famílias dos países mais ricos têm uma riqueza média avaliada entre 5 a 6 vezes o seu rendimento disponível e os mais pobres entre 1,5 a 3 vezes. Portugal tem uma riqueza média de quase 4 vezes o rendimento disponível.
Para o quadro ficar completo é necessário vermos como se compara o rendimento disponível das famílias nos vários países, corrigido pela paridade do poder de compra.
A OCDE publica igualmente estes dados sendo os mais atuais os de 2017:
Os EUA surgem à cabeça do pelotão com quase $50,000 de rendimento disponível médio anual. A União Europeia atinge $30,000 e Portugal fica-se pelos $21,300.
Resta saber até que ponto as realidades de nível de riqueza e de desenvolvimento, socioeconómicas, financeiras, diferenças culturais, importâncias dos mercados financeiros, educação financeira, modelos fiscais ou outras razões, explicam estas diferenças.
É também preciso atender a que estes dados são para as famílias, em termos médios, e podem estar influenciados e enviesados por desigualdades da distribuição de rendimentos e riqueza a nível de cada um dos países.