Nos últimos 100 anos, os mercados acionistas dos vários países desenvolvidos têm tido rendibilidades médias anuais diferentes, mas com desvios pouco acentuados exceto nos períodos e para os países mais impactados nas duas grandes guerras
Os mercados evoluem por ciclos, alternando-se os períodos de desempenhos superiores entre os mercados norte-americano e o resto do mundo
Desde a GCF o desempenho dos mercados acionistas norte-americanos tem sido muito superior ao dos restantes países desenvolvidos
Será que este sobre desempenho está para durar ou, pelo contrário, pode esperar-se uma reversão?
Os mercados acionistas dos países desenvolvidos tendem a ter evoluções mais ou menos sincronizadas, com períodos de alguma alternância entre a liderança dos desempenhos de rendibilidade. Contudo, desde 2009 o mercado acionista norte-americano disparou deixando bastante atrás todos os outros mercados geográficos, com divergências e desfasamentos sem paralelo nos últimos 70 anos.
Nos últimos 100 anos os mercados acionistas nacionais têm tido desempenhos diferentes, mas estas diferenças não são muito acentuadas sobretudo se excetuarmos os efeitos das duas guerras mundiais
O gráfico seguinte mostra que as rendibilidades médias anualizadas, em termos reais, dos mercados acionistas dos vários países desenvolvidos entre 1900 e 2019, situaram-se à volta dos 5% a 6%, exceto para os países mais atingidos pelas duas grandes guerras:
Os EUA, Austrália, Canadá, Holanda, Reino Unido, Irlanda e os países nórdicos tiveram rendibilidades médias anualizadas diferentes, mas similares, entre 5% e 6% nestes quase 120 anos. Só os países mais impactados pelas grandes guerras como a Itália, França, Alemanha e Japão é que tiverem desempenhos inferiores, da ordem dos 2% a 4% ao ano.
Os mercados evoluem por ciclos, alternando-se os períodos de desempenhos superiores entre os mercados norte-americano e o resto do mundo
O gráfico seguinte mostra as rendibilidades dos mercados acionistas norte-americano e do resto do mundo desde 1982 até 2019, revelando uma alternância dos desempenhos destes mercados em vários subperíodos:
São assinalados quatro subperíodos: de 1982 a 1989, de 1990 a 2001, de 2001 a 2007 e de 2007 até 2019.
Na década de 80, o subperíodo mais rentável dos mercados acionistas, o desempenho dos mercados mundiais excluindo os EUA, ou do Resto do Mundo, foi superior ao mercado americano, com rendibilidades médias anualizadas de 23,8% versus 18,9%, respetivamente, e tendo um registo de 17 contra 15 em termos dos melhores desempenhos trimestrais.
Seguiu-se a década de 90, em que os mercados acionistas dos EUA estiveram melhor do que os do Resto do Mundo. As rendibilidades médias anualizadas foram claramente mais favoráveis nos primeiros, de 13,8% contra 3,5%, e o registo de melhores trimestres foi de 31 contra 13.
No subperíodo seguinte, entre 2001 e 2007, o Resto do Mundo voltou a superar os EUA, com rendibilidades médias anualizadas de 11,6% versus 5,2%, e 17 contra 8 trimestres mais rentáveis.
No mais recente subperíodo, considerado um dos ciclos positivos mais longos do mercado acionista americano, os EUA voltaram a liderar com rendibilidades média anualizadas de 8,4% versus 2,1% e um registo de 29 contra 19 melhores trimestres.
Esta alternância de desempenhos parece comprovar a ideia da reversão para a média da evolução do desempenho dos mercados acionistas. Será que assim é? Só o futuro nos dirá. Contudo, o que iremos ver neste artigo é tentar perceber as razões para este desempenho relativo.
O gráfico seguinte apresenta uma outra forma de olharmos para a realidade da comparação de rendibilidades, agora entre os EUA e a Europa, analisando a perspetiva das rendibilidades médias anuais móveis a 10 anos:
É importante ter presente que este tipo de rendibilidades anuais, as móveis e a 10 anos, têm uma maior memória, um passado de uma média dos 10 últimos anos, do que as anteriores, que consideram somente as rendibilidades correntes.
Em termos de rendibilidades anuais médias móveis a 10 anos, os EUA tiveram melhor desempenho do que a Europa nos 10 anos anteriores a 1980 até 1985, invertendo-se este registo entre 1985 e 1989, passando a quase neutral nos dois anos seguintes, para se prosseguir com a liderança europeia até 1995.
Entre 1995 e 2005, os EUA foram superiores, até à chegada da Grande Crise Financeira, em que a Europa voltou a liderar até 2013. A partir de 2014, os EUA não só lideraram os desempenhos como fizeram-no de uma forma assinalável, com diferenças de rendibilidades muito elevadas, superiores a 10% ao ano.
Nesta comparação vemos mais uma vez a alternância de desempenhos, que pode indiciar a presença de ciclos.
Desde a GCF o desempenho dos mercados acionistas norte-americanos tem sido muito superior ao dos restantes países desenvolvidos
O gráfico seguinte compara a evolução dos mercados acionistas dos EUA e do Resto do Mundo de 1997 até 2017.
Vemos que apesar dos diferentes desempenhos, houve uma grande sincronia na evolução dos mercados acionistas dos EUA e do Resto do Mundo até 2009. Um ciclo positivo até 2000, seguido de negativo até 2003, voltando-se às subidas até 2007, e depois quedas até 2009.
Contudo, após 2009 observa-se uma enorme divergência. O mercado acionista dos EUA dispara e valoriza-se mais de 265% até 2017 (e este movimento ascendente tem continuidade até aos nossos dias), enquanto que o Resto do Mundo se valoriza apenas 114%, sobretudo na fase inicial do ciclo até 2012, e tendo altos e baixos desde então.
Nada melhor do que o gráfico seguinte para evidenciar a grande diferença de desempenhos entre os EUA e o Resto do Mundo, após a Grande Crise Financeira:
Enquanto que os EUA se valorizaram 250% desde 2010 até à data, o Resto do Mundo ficou-se por uns mais modestos 61%.
Este sobre desempenho do mercado norte-americano não é só relativamente a uns poucos países ou regiões mundiais, mas a todos, atingindo proporções nunca vistas em termos históricos comparativamente com a Europa, por exemplo
Vimos que os EUA têm tido um desempenho incontestavelmente superior ao Resto do Mundo neste último ciclo positivo, bastante longo com uma duração de mais de 10 anos, colocando em questão da alternância ou reversão para a média dos mercados.
O Resto do Mundo é um conjunto muito diverso de regiões e países, com dinâmicas económicas e de mercados muito diferentes, pelo que vale a pena ver qual o comportamento das suas principais componentes.
O gráfico seguinte mostra a evolução dos mercados acionistas ao nível das principais regiões entre 2010 e 2019:
Os EUA registaram uma valorização de 250%, deixando a larga distância o Japão com 100%, a qual é ainda maior para a Zona Euro, Reino Unido e Mercados Emergentes com 50%.
Podemos observar estas diferenças com maior nível de detalhe no gráfico seguinte:
Entre 2010 e 2019, os EUA com uma valorização de 323%, superaram largamente o Japão com 179%, a Ásia ex-Japão e a Europa Ocidental com os mesmos 113%, o Reino Unido com 104%, a África com 88%, a Europa de leste com 62% e a América Latina com apenas 14%.
Ou seja, esta diferença é transversal a todas as regiões e países.
O que também é igualmente surpreendente, é a diferença face à Europa Ocidental, porque no fundo estamos a falar de duas zonas económicas com o mesmos sistemas e modelos de civilização e económicos, o liberalismo e capitalismo.
O desempenho superior recente dos EUA face à Europa tem atingido níveis extremos em termos históricos:
Nunca a diferença de desempenho dos mercados acionistas entre os EUA e a Europa foi tão acentuada nos últimos 70 anos, desde 1950 até à data. Neste período esta diferença manteve-se numa banda que incluída uma variação de um desvio-padrão positivo ou negativo até 2015, quando disparou para níveis que hoje superam os 2 desvios padrões.
Ficam duas questões por responder, quer abordaremos na Parte II.
O que está por detrás deste sobre desempenho?
Será que este recente sobre desempenho do mercado acionista norte-americano face ao resto do mundo – Europa e Ásia, em particular – está para durar ou, pelo contrário, pode esperar-se uma reversão para a média?
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