Há 4 grandes classes de ativos financeiros relevantes para investimento: numerário, ações, obrigações e alternativos (recordatório)
Obrigações são títulos de dívida emitidos por governos ou empresas
Os principais mercados obrigacionistas e os seus índices
O conceito de “rating” de crédito ou de notação de risco de crédito
As obrigações proporcionam rendimento periódico e estabilidade ao património
O que explica a evolução dos preços das obrigações?
Há 4 grandes classes de ativos financeiros relevantes para investimento: numerário, ações, obrigações e alternativos (recordatório)
As três classes de investimento mais importantes são as Ações, as Obrigações e o Numerário (ou “Cash”). A estas junta-se a classe dos Alternativos.
As Ações têm como principais subclasses 2 que decorrem do grau de desenvolvimento económico ou dos mercados (economias desenvolvidas e emergentes) e outras 3 associadas à dimensão das empresas (grandes, médias e pequenas).
As Obrigações têm como principais subclasses 3 decorrentes da combinação da geografia com grau de desenvolvimento económico (domésticas, internacionais e emergentes), 2 da natureza ou tipo do devedor (governo ou empresa) e 2 do nível ou a qualidade do risco de crédito (investimento ou especulativo).
O Numerário tem como principais subclasses os depósitos, à ordem e a prazo, as contas poupança e a moeda estrangeira.
Na classe dos Alternativos destacam-se as subclasses de imobiliário, mercadorias e ouro.
A rendibilidade, em termos reais (deduzida da inflação), do investimento em ações de grandes empresas e obrigações do tesouro nos EUA, para o período entre 1802 e 2014, foi a seguinte:
Fonte: The Future for Investors, Jeremy Siegel (2005) with updates to 2014
Obrigações são títulos de dívida emitidos por governos ou empresas
As obrigações são títulos representativos de dívida ou de empréstimos dos governos ou de empresas por um prazo determinado. Durante a sua vida pagam um rendimento periódico sob a forma de juro e no final do prazo reembolsam o capital emprestado.
Normalmente o juro é definido por uma taxa de juro fixa (embora também haja obrigações a taxa variável), e é pago semestralmente.
Há vários tipos de obrigações, de acordo com o emitente ou devedor:
- Obrigações do Tesouro, consideradas as mais seguras (devido à capacidade de os governos poderem aumentar as receitas fiscais para pagarem as suas dívidas). Neste grupo podemos ter:
– Bilhetes do Tesouro: com prazos até 12 meses;
– Obrigações do Tesouro (a taxa fixa): emitidos por prazos que podem ir de 2 anos até mais de 100 anos, sendo maioritariamente a 10 anos;
– Obrigações do Tesouro a taxa variável: a taxa de juro variável é indexada à taxa do mercado interbancário (Libor, Euribor, etc.) mais uma margem ou “spread” de crédito, e são normalmente emitidas por prazos entre 3 e 10 anos;
– Obrigações do Tesouro indexadas à inflação (TIPS): o juro é indexado à taxa de inflação;
- Obrigações de agências governamentais: agências que desempenham funções para-governamentais de natureza económica ou social e que por isso beneficiam em muitos casos da garantia dos governos;
- Obrigações de governos regionais ou locais: emitidas por entidades administrativas governamentais regionais que têm alguma capacidade de captar impostos a nível regional ou têm a garantia do governo central;
- Obrigações de empresas: emitidas por empresas.
Podemos também classificar as obrigações entre domésticas e internacionais.
Os principais mercados obrigacionistas e os seus índices
Existem alguns índices de obrigações usados na gestão de carteiras e avaliação de performance, à semelhança do que se passa com o S&P 500 ou o Eurostoxx 50 para as ações.
Estes índices podem ser classificados consoante as suas características em termos de tipo de emitente (títulos do tesouro, títulos municipais, obrigações de empresas), da sua maturidade ou prazo até ao vencimento (curta, média e longa) e do seu rating de crédito (nível de qualidade de investimento ou especulativo).
Há uma infinidade de índices de obrigações. Um dos mais conhecidos é o Bloomberg Barclays Global Aggregate Index que é um índice genérico representativo das emissões de rating de qualidade de investimento daquele dos países desenvolvidos.
Os EUA representam 36,6%, seguidos do Japão com 17% e alguns países europeus com entre 5% e 7% cada. A maioria das emissões são de governos (ou dívida soberana) com 57%, hipotecárias ou colateralizadas por ativos com 13,5%, de empresas industriais com 10,4%, etc.
O seu equivalente unicamente para o mercado dos EUA é o Barclays US Aggregate Bond Index, também representativo das emissões de rating de qualidade de investimento daquele país:
As duas entidades mais usadas no desenvolvimento e manutenção dos índices de obrigações são a Bloomberg Barclays e a FTSE, cujos principais índices se podem ver nos links seguintes:
https://www.bloomberg.com/professional/product/indices/bloomberg-barclays-indices/#/
https://www.yieldbook.com/f/m/pdf/ftse_indexes/FTSE-Fixed-Income-Indexes-Guide-20181001.pdf
Os índices de obrigações são muito mais difíceis de replicar do que os de ações pelo fato de serem constituídos por um elevado número de emissões e não haver duas emissões iguais.
Num outro artigo abordaremos alguns destes índices em mais detalhe.
O conceito de “rating” ou de notação de risco de crédito
No gráfico anterior mostrámos a decomposição do mercado de dívida de empresas nos EUA por “rating” de crédito. Mas afinal o que é este rating?
O “rating” é uma notação de risco de crédito atribuída a emitentes e a emissões por agências especializadas, das quais as mais conhecidas a nível mundial são a Moody’s, a Standard & Poor’s e a Fitch.
O “rating” é atribuído numa escala de níveis de risco que vai de Aaa ou AAA (melhor risco) até D ou DDD (default), em função da probabilidade de cumprimento do serviço da dívida:
Há duas grandes categorias de “rating”: de qualidade de investimento (Investment Grade) ou de nível especulativo ou lixo (speculative grade ou junk).
As emissões de obrigações podem ser objeto de “rating” ou não.
Noutros artigos abordaremos o tema do “rating” de crédito em mais detalhe.
As Obrigações proporcionam rendimento periódico e estabilidade ao património
As obrigações proporcionam estabilidade ao património decorrente dos dois benefícios aos investidores numa carteira de investimentos diversificada: uma fonte de rendimentos pagos regularmente (os cupões dos juros) e a atenuação da volatilidade que advém da detenção de ações.
O gráfico mostra os (24) períodos anuais em que as ações tiveram retornos negativos nos últimos 90 anos, entre 1926 e 2016.
Fonte: Fidelity Capital Markets, Investment Themes 2017
Nos anos de perda das ações, as obrigações tiveram desempenho positivo. Assim, as obrigações são um bom refúgio e servem de almofada ou amortecimento nos momentos de “stress” dos mercados acionistas.
O gráfico seguinte mostra a evolução de um investimento de 100,000 nos índices S&P 500 e no Barclays Aggregate nos últimos 25 anos:
A valorização do mercado acionista é muito superior, dada pela diferença entre os capitais acumulados no final de $877,190 para as ações e de $345,840 para as obrigações, mas o risco é maior no primeiro caso, como se pode verificar pela maior volatilidade versus estabilidade de valorização dos capitais das duas situações.
O que explica a evolução dos preços das obrigações?
Uma componente importante do mercado obrigacionista é o mercado de títulos do governo, por causa da sua dimensão e liquidez. Os títulos do governo são muitas vezes usados para comparar outros títulos e para medir o risco de crédito.
Devido à relação inversa entre o valor das obrigações e o nível das taxas de juros para a maturidade (rendibilidades até à maturidade ou “yields”), o mercado obrigacionista é usado para indiciar a alterações previstas nas taxas de juros ou a forma da curva de rendimentos, a medida de “custo de financiamento”.
O rendimento das obrigações do tesouro em países de baixo risco, tais como os Estados Unidos ou na Alemanha é tomado como referência para indicar uma taxa sem risco de incumprimento. As restantes obrigações denominadas nas mesmas moedas (dólares americanos ou Euros), têm normalmente rendimentos mais elevados, em grande parte porque a probabilidade dos seus emitentes incumprirem é maior e as perdas para os investidores em caso de incumprimentos serem maiores.
O gráfico seguinte mostra a relação inversa entre taxas de juro e valor das obrigações:
A evolução das taxas de juro dos títulos do tesouro é determinada em primeiro lugar pelo nível da taxa de referência dos bancos centrais:
Em segundo lugar pela taxa de inflação esperada:
Em seguida quanto maior o prazo maior o risco, pois maior a probabilidade de incumprimento:
Por fim quanto maior o risco maior a taxa de juro ou a rendibilidade até à maturidade exigida pelos investidores: