Os ciclos de mercado e as avaliações das classes de capitalizações das empresas
Este é o terceiro artigo sobre o investimento em subclasses de capitalização das ações das empresas.
No primeiro vimos que, ao contrário do que muitos julgam, as ações de pequena e média capitalização têm proporcionado as maiores rentabilidades no muito longo prazo.
No segundo artigo analisámos as caraterísticas diferenciadas de cada subclasse e as vantagens e desvantagens do investimento em cada estratégia ou segmento do mercado.
No entanto, também estes dois segmentos do mercado acionista se comportam de maneira diferente consoante o contexto ou os ciclos económicos.
Os ciclos económicos têm uma grande influência no desempenho das ações em geral, mas também dos seus principais segmentos, pelo que é importante perceber a sua influência e efeitos.
Este é o foco inicial deste artigo, analisando seguidamente a avaliação destas categorias de ações.
Na pasta de Ferramentas desenvolvemos em detalhe alguns dos principais índices dos mercados acionistas mundiais das ações com as maiores capitalizações bolsistas, designadamente os MSCI ACWI para o mercado mundial, o Dow Jones IA 30, S&P 500 e o Nasdaq nos EUA, e na Europa, o Eurostoxx 50 e o FTSE 100).
Também incluímos o índice Russell 2000 relativo às pequenas e médias capitalizações norte-americanas.
Os ciclos de mercado das várias classes de capitalizações das empresas
Ao contrário do que a história demostra, muitas pessoas pensam que as ações de grande capitalização são as que proporcionam uma taxa de rentabilidade mais elevada, tendo em conta o histórico recente, sobretudo associado às mega capitalizações.
Como vimos anteriormente, as ações com maior taxa de retorno anual no muito longo prazo foram as pequenas e médias capitalizações.
Contudo, há períodos em que as ações de grande capitalização têm melhores rentabilidades do que as das pequenas e médias empresas, e outros períodos em que sucede o contrário.
Ou seja, há ciclos em termos de desempenho das diferentes capitalizações das empresas do mercado acionista.
Os mercados financeiros têm comportamentos diferenciados ao longo dos ciclos económicos, com destaque para o que sucede com os dois principais ativos, as ações e as obrigações:
As ações de diferentes capitalizações evoluem também de forma diversa nas fases económicas de expansão, recessão, contração e retoma, amplificando os movimentos das ações em geral devido à sua maior sensibilidade.
E o mesmo ocorre também com os segmentos ou estilos de crescimento e de valor das ações das empresas.
Os valores e a direção do crescimento económico, das taxas de juro e da inflação são os fatores mais influentes dos ciclos económicos.
O gráfico seguinte mostra o rácio das performances de valorização das ações de pequena versus grande capitalização nos EUA desde 1925, destacando os ciclos de cada uma destas subclasses (definidos por um nível de desempenho igual ou superior a 35%):
Houve sete períodos em que as “small caps” superaram as “large caps”.
Em média, estes períodos duraram pouco mais de 7 anos.
O período mais recente, entre 1999 e 2011, durou aproximadamente 13 anos – quase o dobro da média.
Desde 1979, embora o desempenho global dos índices Russell 200 e S&P 500 tenha sido semelhante e a sua correlação geralmente elevada – 0,8 em média, variando entre 0,6 e 0,96 numa base móvel de um ano -, por vezes, divergiram significativamente:
As “small caps” tiveram um desempenho superior às “large caps” durante o período de turbulência económica (choque do petróleo de 1979-83, 1990-94 e bolha tecnológica e crise do “subprime” 1999-2014).
As ações de grande capitalização estiveram melhor do que as empresas de pequena capitalização normalmente durante as expansões económicas.
Houve três períodos de desempenho superior das grandes capitalizações.
Entre 1983-90, durante o boom da década de 1980, o S&P 500 superou o Russell 2000 em 91%.
De 1994-99, durante a expansão da década de 1990, o S&P 500 superou o Russell 2000 em 92%.
Finalmente, entre 2013-20, nos estágios finais da recuperação da década de 2010, o S&P 500 superou o Russell 2000 em 29% até o final de dezembro de 2019 e, em seguida, superou em mais 20% durante os primeiros três meses de 2020.
O Russell 2000 tem um peso menor de ações de tecnologia do que o S&P 500.
Mais recentemente, a evolução os principais índices de capitalização norte-americanos tem sido a seguinte:
Desde 2014, as “large caps” tem recuperado relativamente às “small caps”.
As ações de pequena capitalização foram especialmente atingidas durante a pandemia.
As grandes capitalizações superam muitas vezes o desempenho nas etapas mais avançadas dos mercados em alta e durante as fortes fases de expansão económica.
Ao nível do índice do mercado mundial, dado pelo índice MSI All-Country World, os ciclos de desempenho das capitalizações têm sido os seguintes neste milénio:
Entre 2000 e 2007, as pequenas e médias capitalizações tiveram uma valorização acumulada de 94% contra 21% das grandes capitalizações, seguindo-se os dois anos da crise de “subprime” em que as grandes capitalizações estiveram melhor.
Entre 2009 e 2018 as pequenas capitalizações voltaram a fazer melhor, exceto por breves períodos.
Desde 2018, as grandes capitalizações têm tido melhores valorizações em geral.