Os outlook dos principais bancos de investimento para 2024
JP Morgan: Abrandamento considerável do crescimento do PIB nos EUA para 0,7% e crescimento de resultados por ação inferior ao consenso
Goldman Sachs: S&P 500 nos 4.700 pontos, baseado num crescimento económico mundial de 2,1%, superior ao consenso, e baixa probabilidade de recessão nos EUA (de 15%)
Morgan Stanley: S&P 500 nos 4.500 pontos, com desaceleração do crescimento económico nos EUA para 1,6% e crescimento do EPS de 7%
Bank of America: S&P 500 nos 5.000, numa economia estável, com crescimento do EPS mesmo com desaceleração do crescimento económico
UBS: Novo mundo, com valorizações das ações, e sobretudo das obrigações, permitindo ganhos a carteiras equilibradas
Grande disparidade no grau de abrandamento do crescimento económico nos EUA (entre 0,7% e 2,1%) conduz a intervalo amplo de projeções para o S&P 500 de 4.000 a 5.000 pontos (10%), e com taxas de juros norte-americanas a 10 anos abaixo dos 4%
Os outlook dos principais bancos de investimento para 2024
Nas passadas duas semanas começaram a ser publicados e divulgados os relatórios sobre as perspetivas dos mercados financeiros para 2024 dos principais bancos norte-americanos: JP Morgan, Goldman Sachs, Morgan Stanley, Bank of America e UBS.
Todos os anos, os investidores individuais devem fazer uma avaliação do posicionamento dos seus investimentos e este é o momento oportuno para o fazerem, tendo por base um balanço do corrente ano e as perspetivas para o próximo.
Neste artigo, começamos por apresentar as principais conclusões de uma análise conjunta das várias opiniões, passando em seguida para mais algum desenvolvimento sobre a posição de cada um, e concluindo as ideias com as recomendações relativamente aos investimentos.
Há um ano apresentámos o primeiro Outlook anual dos principais bancos de investimento mundiais, que em média apontava para o S&P 500 nos 4,000 pontos e taxas de juro das obrigações americanas a 10 anos nos 3,5%.
Nesta data, qualquer uma destas previsões parece difícil de concretizar-se.
O primeiro peca por defeito e o segundo por excesso, o que ainda é mais paradoxal, sabendo-se a relação inversa entre as duas variáveis.
Como é habitual, estes exercícios não consideram quaisquer alterações de fatores exógenos, atuais ou potenciais, incluindo mudanças no contexto geopolítico, em particular da guerra da Ucrânia.
Em nossa opinião, é interessante e importante considerar e acompanhar a opinião dos grandes bancos relativamente à economia e aos mercados financeiros em geral.
Pelo contrário, somos bastantes críticos sobre o valor das suas recomendações relativamente a títulos individuais.
Num artigo subsequente, apresentaremos a nossa visão e perspetivas económicas e dos mercados financeiros para 2024.
JP Morgan: Abrandamento considerável do crescimento do PIB nos EUA para 0,7% e crescimento de resultados por ação inferior ao consenso
O JP Morgan prevê abrandamento do crescimento do PIB real nos EUA para +0,7% em 2024, devido à persistência dos efeitos da política monetária e do pouco impulso da política fiscal.
A taxa de inflação core ou PCE deve subir 2,4% em 2024. abaixo dos 3,4% de 2023.
Admite que a FED deva começar a cortar taxas no 2.º semestre de 2024, para evitar recessão, com inflação próxima, mas ainda acima da meta.
Considera que o crescimento do lucro por ação (EPS) do S&P 500 pode não corresponder às expectativas de subida do consenso dos analistas, acabando estável ou em queda, devido à descida dos índices de preços no produtor (PPI) e a um crescimento real do PIB dos EUA mais lento no próximo ano, mesmo sem que venha a ocorrer recessão.
Entende que há a possibilidade de revisões dos EPS levarem a uma descida dos múltiplos do preço sobre resultados (PER).
Goldman Sachs: S&P 500 nos 4.700 pontos, baseado num crescimento económico mundial de 2,1%, superior ao consenso, e baixa probabilidade de recessão nos EUA (de 15%)
A Goldman Sachs espera que a economia global supere as expectativas em 2024, tal como aconteceu em 2023.
O PIB mundial deverá crescer 2,6% no próximo ano numa base média anual, em comparação com a previsão de consenso dos analistas de 2,1%.
Esta perspetiva integra um crescimento superior nos EUA, que se baseia na previsão de um forte aumento do rendimento disponível (devido à descida da inflação e a um mercado de trabalho robusto), na expectativa de que os aumentos dos juros já tenham tido os seus maiores impactos sobre o crescimento do PIB e na visão de que a indústria irá recuperar.
Considera que os bancos centrais terão espaço para reduzir as taxas de juros, caso surjam preocupações com a desaceleração da economia.
Mantêm a sua visão de que a probabilidade de uma recessão nos EUA é muito menor do que o comumente referido, de apenas 15% nos próximos 12 meses.
Prevê que o índice S&P 500 deverá subir para os 4.700 pontos até ao final de 2024, representando uma valorização de cerca de 5% e um retorno total de cerca de 6%, incluindo dividendos, com concentração dos ganhos no segundo semestre de 2024, alimentados pelos cortes de taxas de juros da FED e pela resolução da incerteza eleitoral.
Os investimentos de curto prazo (“cash”) nos EUA, que proporcionam um retorno sem risco de 5%, serão uma alternativa competitiva às ações, na medida em que os bilhetes do tesouro de três meses rendem cerca de 5,5%, semelhante ao crescimento dos lucros do índice S&P 500.
Morgan Stanley: S&P 500 nos 4.500 pontos, com desaceleração do crescimento económico nos EUA para 1,6% e crescimento do EPS de 7%
A Morgan Stanley prevê que o crescimento do PIB dos EUA desacelere de uma estimativa de 2,5% este ano no 4º trimestre para 1,6% em 2024 e 1,4% em 2025.
Esta previsão baseia-se no entendimento de que a política monetária de taxas de juro altas por mais tempo, da FED, está a pesar cada vez mais sobre o crescimento e, especialmente, em 2024, fazendo com que o crescimento fique abaixo do potencial nos próximos anos.
Considera também que o consumo dos EUA comece a desacelerar de forma mais significativa em 2024 e 2025, resultado de um arrefecimento do mercado de trabalho, menor rendimento disponível real e das taxas de juros elevadas, o que coloca mais pressão sobre os custos do serviço da dívida.
Entende que a taxa de juros oficial atingiu um pico de 5,375% para este ciclo, mantendo-se até junho de 2024, quando admite que a FED inicie os cortes ao ritmo de 25 pontos-base por trimestre.
Mike Wilson, o estrategista da Morgan Stanley, vê o S&P 500 nos 4.500 pontos no final de 2024, com um crescimento dos lucros das ações dos EUA de 7%, sobretudo por via da redução de custos.
Entretanto, os lucros continuarão a ser desafiados no curto prazo devido aos riscos macroeconómicos, geopolíticos e cíclicos.
Nos EUA, privilegia os investimentos em ações de crescimento defensivo e cíclicas de final de ciclo.
A Morgan Stanley espera a continuação do bom desempenho das ações japonesas para 2024, prevendo que o TOPIX, o principal índice de ações do Japão, suba 11%, para 2.600 pontos em 2024, devido a uma forte previsão de crescimento do lucro por ação de 10% em 2024 e 8% em 2025.
Considera que as obrigações do tesouro a longo prazo dos EUA são um investimento atraente, esperando que as taxas de juros implícitas atinjam 3,95% no final de 2024.
Bank of America: S&P 500 nos 5.000, numa economia estável, com crescimento do EPS mesmo com desaceleração do crescimento económico
Esta perspetiva mais otimista resulta de um quadro geral de economia estável, nem quente nem fria, em que o crescimento dos lucros irá ocorrer mesmo com desaceleração do crescimento económico.
UBS: Novo mundo, com valorizações das ações, e sobretudo das obrigações, permitindo ganhos a carteiras equilibradas
Considera que enfrentamos um novo mundo – definido pela incerteza económica e instabilidade geopolítica, mas também por profundas mudanças tecnológicas, conduzindo a três conclusões fundamentais para o próximo ano.
Primeiro, entende que a força da economia dos EUA em 2023 dê lugar a um crescimento mais lento, embora ainda positivo, em 2024, enquanto o crescimento europeu deve permanecer moderado e a China entra num “novo normal” de crescimento de qualidade inferior, mas potencialmente superior.
Em segundo lugar, espera que os bancos centrais iniciem os seus ciclos de redução das taxas no próximo ano. E, finalmente, a política terá um papel descomunal em 2024, com as próximas eleições nos EUA e as tensões geopolíticas e guerras em curso.
Em terceiro lugar, no cenário base, prevê que as obrigações se valorizem no próximo ano, e que as taxas de rendibilidade mais baixas das obrigações irão suportar as ações, desde que não coincidam com um abrandamento particularmente acentuado do crescimento económico.
Elege as obrigações como a classe de ativos preferida, dada a combinação de rendimentos atraentes e o potencial de valorização do capital, se as expectativas de taxa de juros caírem.
Mas também antecipa um desempenho positivo para os índices de ações, apoiado pelo crescimento dos lucros entre empresas de qualidade.
No geral, acredita que 2024 deve ser um bom ano para os investidores com carteiras equilibradas, com retornos prospetivos positivos em ações, obrigações e investimentos alternativos.
As conclusões comuns às várias perspetivas dos bancos são:
Diminuição do crescimento económico mundial e em todas as economias, avançadas e emergentes, para níveis moderados nos EUA, baixos na Europa, e inferiores à média na China e América Latina.
Descida continuada da inflação nas economias avançadas em direção ao objetivo de 2%, atingível em 2025 nos EUA e Europa.
As taxas de juro das obrigações do tesouro a 10 anos nos EUA continuarão a descer e deverão ficar abaixo dos 4% no final de 2024, com cortes de taxas de juros pela FED na segunda metade do ano, favorecendo o investimento em obrigações e em cash.
O dólar deverá manter-se forte.
O tema económico dominante será qual a dimensão do impacto no crescimento económico da política monetária de taxas de juros altas por período prolongado nos EUA, num quadro em que a Europa deverá manter-se anémica, e a China terá de resolver os problemas com o setor da construção e financeiro e poderá desenvolver um novo modelo de crescimento económico.
Todos os bancos estão positivos relativamente ao investimento em obrigações do tesouro e em cash nas economias desenvolvidas, que beneficiarão da descida gradual do alto nível das taxas de juros.
Igualmente, todos apontam para a importância de se acompanhar a evolução dos riscos geopolíticos, fundamentalmente a guerra da Ucrânia, as eleições nos EUA e o conflito em Gaza.
No entanto as disparidades das opiniões são assinaláveis nalguns aspetos:
Em termos de crescimento económico nos EUA, o JP Morgan e a Morgan Stanley consideram que será inferior a 1%, enquanto a Goldman Sachs e o Bank of America veem um nível próximo de 2%, divergência que se centra na resiliência do consumo das famílias e impacto no crescimento dos lucros por ação (EPS) das empresas.
Consequentemente, os dois primeiros bancos preveem um nível de 4.500 para o S&P 500, em linha com as cotações atuais, enquanto os segundos estimam um valor próximo de 5.000 pontos, uma valorização de até 10%.
Conclusões e recomendações
Estas previsões recomendam que os investidores mantenham carteiras equilibradas, combinando investimentos em obrigações de bom rating com ações de qualidade e robustas.
Considerando estas previsões, as recomendações são as seguintes:
Manutenção das alocações dos investimentos nos planos de pensões.
Manutenção de bons níveis de cash, até que se perspetive o corte de taxas pelos bancos centrais, fazendo a rotação para aumento a exposição a ações, faseadamente, a partir dessa altura.
Manutenção de uma maior exposição a obrigações do tesouro americanas e europeias de longo prazo do que a média, respetivamente para investidores dos EUA e da Europa, beneficiando da descida das taxas de juros altas.
Preferência pelos investimentos em ações norte-americanas e japonesas, combinando investimentos generalizados nos principais índices com a seleção de títulos individuais.