Na série “Como investem” abordamos as caraterísticas das principais classes de investidores particulares e institucionais, que consideramos úteis para guiar os investimentos da generalidade dos investidores individuais.
Relativamente aos investidores individuais apresentamos em artigos anteriores a distribuição da riqueza mundial, as caraterizações e as diferenças dos investidores de várias regiões ou países, dos diversos escalões de riqueza, e sobretudo das diversas gerações e das mulheres.
Neste artigo vemos focamos na importante questão da distribuição e crescimento da riqueza mundial e sobretudo das diferenças da alocação de ativos nas várias regiões.
Noutros artigos vimos também a importância de investirmos nos mercados financeiros, para obtermos rendibilidades atrativas e superiores à inflação, com um nível de risco moderado.
Concluímos que devemos fazê-lo seguindo um processo de investimento de médio e longo prazo, baseado na diversificação para mitigarmos os riscos, e na escolha da alocação de ativos mais ajustada aos nossos objetivos financeiros, situação financeira e perfil de risco, na medida em que esta alocação determina largamente o desempenho esperado.
Vimos ainda que os fundos de investimento são o veículo mais adequado para concretizar a desejada alocação de ativos, uma vez que são muito acessíveis, eficientes e proporcionam um bom nível de diversificação.
A seleção desses fundos depende das suas caraterísticas, sendo importante analisar-se a sua política de investimentos, a rendibilidade esperada e o risco, e os seus custos, sendo importante considerar a escolha entre os fundos de gestão ativa e de gestão passiva.
Observámos que o processo de investimentos financeiros é uma forma de pormos a economia a trabalhar para nós, ao investirmos nas grandes empresas mundiais que produzem os produtos que consumimos, tal como o fazem os grandes investidores como Warren Buffett ou o Norges Bank, e podem ajudar-nos a melhorar consideravelmente o nosso nível de vida.
As alocações de ativos do património bruto a nível global têm-se mantido praticamente estáveis nos últimos 10 anos: 28% liquidez, 42% valores mobiliários e 30% seguros e pensões
Causa e/ou consequência? As famílias dos países mais ricos investem mais em ações
Os EUA são o líder mundial da riqueza e do investimento bolsista
O caso Europeu: Quanto menos riqueza, rendimentos e poupança, mais depósitos e menos investimentos em títulos financeiros
Na Ásia, destacam-se o Japão e a China pelas razões opostas, menor e maior alocação a ativos financeiros, embora neste caso não sejam os investimentos tradicionais em ações ou obrigações, mas produtos criados pelos bancos com risco indefinido
A América Latina também revela grandes contrastes, com altas alocações a ativos financeiros no Brasil e no México, e baixas nos restantes países
As alocações de ativos do património bruto a nível global têm-se mantido praticamente estáveis nos últimos 10 anos: 28% liquidez, 42% valores mobiliários e 30% seguros e pensões
A Allianz realiza um estudo chamado Global Wealth Report em que analisa a situação e a evolução da situação financeira da riqueza das famílias em todo o mundo, por regiões e países, incluindo o património financeiro bruto e líquido, assim como a sua composição.
O mais recente foi publicado em 2022.
Em termos globais, a composição do património por classes de ativos e o crescimento das mesmas entre 2011 e 2021 foi o seguinte:
Nestes 10 anos, o peso das várias classes de ativos financeiros manteve-se bastante estável, distribuindo-se em 28% em cash, 42% em valores mobiliários e 28% em seguros e pensões.
Só nos anos da crise financeira se nota uma alteração, com a redução dos valores mobiliários para um mínimo de 35% e um aumento uniforme das outras duas classes.
Causa e/ou consequência? As famílias dos países mais ricos investem mais em ações
No gráfico seguinte apresenta-se a composição do património financeiro bruto pelas mesmas classes ao nível das principais regiões mundiais:
Os países mais desenvolvidos têm a mais baixa percentagem em depósitos e a mais alta em investimentos em ativos financeiros.
Destaque para os 54% em valores mobiliários na América do Norte, assim como para as percentagens elevadas de investimentos em seguros e pensões na Oceânia, Europa Ocidental e até nos EUA.
Os EUA são o líder mundial da riqueza e do investimento bolsista
Os EUA são o país com maior concentração da riqueza financeira mundial:
A América do Norte concentra 47% da riqueza financeira mundial com €108 trilhões (dos quais €104 trilhões nos EUA), seguida pela Europa Ocidental com €33 trilhões e pela China com €32 trilhões (14% cada).
Em seguida surge o Japão com €16 trilhões (7%), , e por fim a Oceânia, a Europa de Leste e a Améria Latina, com percentagens entre 3,8% e 2,6%.
Num artigo anterior já tínhamos visto que a América do Norte lidera destacadíssima a riqueza global, seguida quase a par, pela Europa Ocidental e Ásia ex-Japão. mas ao nível das famílias os países mais ricos são a Suíça, o Japão e a Holanda.
Vimos que o maior crescimento da riqueza mundial dos últimos 10 anos foi nas economias emergentes, com destaque para a Ásia ex-Japão, América Latina e Europa de Leste devido à sua população e aumento de produtividade:
As famílias norte-americanas têm poucos depósitos e muitos investimentos em títulos:
As famílias norte-americanas investem 52% do seu património financeiro bruto em títulos e apenas aplicam 13% do mesmo em depósitos.
Cerca de 32% são investidos em seguros e pensões.
O caso Europeu: Quanto menos riqueza, rendimentos e poupança, mais depósitos e menos investimentos em títulos financeiros
No gráfico seguinte vemos a distribuição do património financeiro bruto nos principais países europeus:
Grécia e Portugal têm percentagens elevadas de depósitos, por oposição aos países nórdicos, aos do Benelux e ao Reino Unido que se encontram no outro extremo.
Quanto mais pobre o país, maior o peso dos depósitos e menor o peso \em investimentos financeiros. Será isto uma causa ou uma consequência? Acreditamos que é o resultado de ambos.
Na Ásia, destacam-se o Japão e a China pelas razões opostas, menor e maior alocação a ativos financeiros, embora neste caso não sejam os investimentos tradicionais em ações ou obrigações, mas produtos criados pelos bancos com risco indefinido
Nos vários países asiáticos a situação é muito divergente:
À primeira vista surpreende a elevada percentagem de depósitos no Japão e a elevada alocação a ativos financeiros da China. A explicação é simples.
A última guerra mundial destruiu grande parte da riqueza financeira do país tal como aconteceu com os outros beligerantes e sobretudo os perdedores, e a recuperação iniciada os anos setenta foi invertida pela debacle do milagre japonês em 1990.
Relativamente à China, o investimento em ativos financeiros é enganador pois, na verdade trata-se de produtos de taxa garantida controlados pelos bancos e em muitos casos com garantia bancária (“Wealth Management Products”), que estão na mira dos reguladores pelo risco incorrido.
A América Latina também revela grandes contrastes, com altas alocações a ativos financeiros no Brasil e no México, e baixas nos restantes países
Na América Latina, a situação também é de grandes contrastes:
No Brasil e no México a alocação a ativos financeiros é muito elevada e tal deve-se ao grau de desenvolvimento dos respetivos mercados de capitais. Nos restantes países, as famílias investem fundamentalmente em depósitos ou produtos de seguros.
Noutro artigo anterior também vimos que estas diferenças na alocação de ativos por regiões se esbatem quando analisamos a mesma alocação em termos de famílias com rendimentos similares.
Concluímos que a alocação é determinada pelo rendimento e riqueza, os quais se sobrepõem a fatores sociais ou culturais.