O programa da Série
O conjunto de pressupostos do Cenário Base e dos Cenários Alternativos
Como podemos aplicar os resultados ao nosso caso pessoal?
Este é o primeiro artigo de uma série sobre o objetivo financeiro mais importante de todos, a reforma.
Aqui faremos uma introdução e desenvolvimento sumário dos vários aspetos que este tema envolve.
A ideia chave é de que para sabermos planear e viver bem a reforma devemos vê-la de trás para a frente, do fim para o princípio, ao contrário do que é costume fazermos nos outros assuntos da nossa vida.
Com isto o que queremos dizer é que devemos partir do capital que devemos acumular para a reforma para sabermos o que temos de fazer para lá chegarmos.
Sabemos que o nosso capital acumulado na reforma depende da nossa longevidade, dos rendimentos assegurados tais como pensões, dos gastos estimados, das poupanças e contribuições periódicas e/ou pontuais feitas ao nível do plano complementar e pessoal de reforma, e das rendibilidades dos investimentos dessas poupanças antes e depois da reforma.
Para isso iremos adotar uma abordagem estruturada que nos permitirá saber:
#1 De quanto dinheiro precisamos para viver a reforma
Começarmos por saber de quanto dinheiro vamos precisar para viver a nossa reforma, ou seja, quais serão os nossos gastos que terão de ser cobertos por rendimentos.
#2 Qual a alocação de ativos que selecionamos para o investimento dos capitais do plano pessoal de reforma.
Percebermos os compromissos (“trade-offs”) e os riscos que corremos em termos de alocação de ativos dos nossos investimentos em todo o ciclo de poupança para a reforma em função do prazo de investimento e do perfil de investidor.
#3 Quanto devemos poupar na nossa vida ativa para atingirmos os rendimentos ou os capitais complementares de reforma
Sabermos avaliar as contribuições periódicas necessárias (anuais) para gerarmos um dado conjunto de montantes de capital e/ou os rendimentos complementares aos nossos rendimentos garantidos, tais como pensões e outros (por exemplo, royalties), que deverão ser a base do nosso plano de poupança pessoal de reforma.
#4 Qual o valor dos capitais investidos pontualmente em dados momentos (ou prazos) da nossa vida ativa
Sabermos avaliar o capital e/ou rendimentos acumulados para a reforma decorrentes de um dado conjunto de valores de capitais pontuais investidos em vários momentos no tempo que poderão ser conjugados com o plano de contribuições periódicas acima referido.
Percebermos quais os capitais que devemos ter acumulados em dados momentos ao longo da nossa vida ativa em função dos rendimentos e gastos previstos.
#6 Qual o valor de pouparmos cedo para a reforma
Avaliarmos as diferenças do esforço de poupança para atingirmos os mesmos valores de capitais na reforma entre diferentes momentos de início das poupanças
#7 Quais os principais riscos do capital de reforma, as opções que temos e como os devemos gerir
Percebermos os compromissos (“trade-offs”) e riscos específicos que corremos nos anos próximos da idade de reforma, pela criticidade da sequência de rendibilidades e curto prazo nos momentos em que o capital acumulado para a reforma estará perto dos valores máximos.
#8 Como devemos usar os capitais durante o período de reforma
Sabermos como e quanto podemos ir mobilizando o capital acumulado ao longo do período da reforma, em função das rendibilidades observadas (gestão dinâmica).
O conjunto de pressupostos do Cenário Base e dos Cenários Alternativos
Queremos que estes artigos sejam da maior utilidade. Para isso têm de ser o mais concreto possível.
No entanto, como não podemos cobrir todos os casos individuais vamos ter de assumir pressupostos de valores para as principais variáveis.
Estes pressupostos serão escolhidos como os valores médios ou de referência, de forma que possam ser adequados à maioria das pessoas.
Além disso, vamos estabelecer pressupostos de valores para um cenário base e para cenários alternativos.
Ou seja, faremos análises de sensibilidade às variáveis que têm maior impacte no capital acumulado, com vista a termos simulações que prevejam os casos mais prováveis.
Estes pressupostos incluem, entre outros, o número de anos, o valor das contribuições e as rendibilidades dos investimentos feitos para a reforma, assim como o número de anos, o valor dos gastos e as rendibilidades dos investimentos na reforma.
Os pressupostos usados nos diferentes cenários são os seguintes:
Em cada artigo iremos também apresentar outros dados e até referências a outros estudos que nos permitam situar ou mover entre os valores dos pressupostos usados.
#1 Longevidade e idade na reforma
De todas as principais variáveis usadas, a da longevidade e do número de anos para a reforma e na reforma, são provavelmente as mais comuns ou menos divergentes a todas as pessoas.
Os últimos dados da OCDE para a longevidade à nascença e aos 65 anos são:
A idade oficial de reforma nos vários países da OCDE é a seguinte:
#2 Gastos na reforma
Em termos de gastos na reforma há vários estudos, sobretudo nos EUA, que apontam para que os gastos na reforma sejam de 80% dos gastos antes da reforma:
#3 Salários médios da classe média-alta ou afluente nos países desenvolvidos
Os salários médios praticados nos países da OCDE são os seguintes:
#4 Pensões médias nos países desenvolvidos para a classe média-alta (taxa líquida de substituição das pensões)
As taxas líquidas de substituição das pensões, isto é o valor da pensão em percentagem do último rendimento do trabalho, corrigido dos impostos, nos países da OCDE são as seguintes:
#5 Taxas de rendibilidade dos investimentos antes e durante a reforma
As rendibilidades dos investimentos consideradas estão diretamente relacionadas com a alocação de ativos, como comprovado pela academia e a história financeira.
De acordo com a publicação anual da Morningstar/Ibbotson Associates, as taxas de rendibilidades médias anuais das ações, obrigações do tesouro e bilhetes do tesouro (referência remuneração dos certificados de depósito e proxy para a dos depósitos a prazo) nos EUA entre 1926 e 2019 foram as seguintes:
Segundo a publicação anual do Credit Suisse, as taxas de rendibilidade médias anuais reais (deduzidas da inflação) das ações nos países desenvolvidos entre 1900 e 2019 foram as seguintes:
Na mesma publicação, apresentam-se os prémios de risco das ações face às obrigações e aos bilhetes do tesouro, o que pela diferença nos permite obter as taxas de rendibilidades destes:
No caso dos valores de capitais, poupanças e rendimentos e até pensões, tomámos por referência os valores da classe média-alta (os chamados afluentes) para a média dos países desenvolvidos.
Como podemos aplicar os resultados ao nosso caso pessoal?
Os rendimentos garantidos de reforma, seja de pensões obrigatórias ou outros rendimentos como por exemplo royalties, não devem ser pressupostos, mas sim um dado importante na análise de cada caso.
Não faz sentido pressupô-los na medida em que estes rendimentos variam muito de caso para caso e cada um de nós sabe melhor do que ninguém aquilo a que terá direito.
Os sistemas de pensões obrigatórias são muito diferentes nos vários países.
Contudo, em muitos países, é possível saber-se a pensão individual prevista mediante consulta aos sistemas de previdência, o que recomendamos que seja feito.
Para adaptarmos os resultados e as conclusões à nossa situação, nalgumas variáveis podemos aplicar a regra da proporcionalidade noutras não.
Por exemplo, podemos usar a proporcionalidade, para os valores de rendimentos, gastos, poupanças e capitais investidos. Nestes casos basta usar os múltiplos para o caso individual concreto.
No entanto, o mesmo já não é possível relativamente às taxas de rendibilidade ou de poupança pois o efeito da capitalização introduz a variabilidade nos resultados.